Milho nos EUA: produção deve atingir 47 milhões de toneladas em 2025/26 (Freepik/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 14 de outubro de 2025 às 06h05.
Produtores de milho dos Estados Unidos pediram nesta segunda-feira, 13, que o Congresso norte-americano aumente de 10% para 15% a mistura de etanol de milho (E15) na gasolina durante todo o ano. Atualmente, esse percentual chega a 15% apenas no verão — de julho a agosto — por causa do aumento da demanda por gasolina, que coincide com as férias escolares.
Em um estudo divulgado pela Associação Nacional de Produtores de Milho (NCGA, na sigla em inglês), os agricultores afirmam que a medida pode ajudar a resolver a "crise econômica" que afeta o setor.
"Com a iminência de uma crise financeira, os agricultores precisam de uma demanda impulsionada pelo mercado a um preço que retorne valor para a fazenda", diz.
Segundo a entidade, o aumento de cinco pontos percentuais na mistura poderia criar uma reserva de mercado de até 50%.
A proporção de milho utilizada para biocombustíveis caiu de 38,5% em 2010 para uma previsão de 34,9% para 2025/26, refletindo barreiras regulatórias e limitações no consumo doméstico de gasolina. A produção total de milho nos EUA é estimada em 427 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
Na visão da NCGA, o etanol de milho deve gerar demanda adicional pelo cereal cultivado nos EUA, oferecendo preços mais estáveis aos agricultores, beneficiando as economias rurais, mesmo diante de crises financeiras ou flutuações do mercado, além de trazer previsibilidade para quem produz.
Segundo a associação, até 2040, o mercado de etanol nos EUA deve movimentar US$ 15 bilhões. A entidade também reforça que diversificar a produção do milho para o biocombustível 'protege a cadeia agrícola contra eventos climáticos localizados, já que o grão é cultivado em mais de 36 milhões de hectares em diferentes regiões e climas dos EUA.'
"Não existe uma solução única. Mas podemos começar com uma solução doméstica clara, que pode ser ampliada à medida que o uso total de gasolina diminui: remover os obstáculos para misturas mais elevadas de etanol", afirma.
O pedido dos agricultores ocorre em um contexto de queda nas exportações de milho americano para a China em função do impasse tarifário, em curso desde o retorno do republicano Donald Trump à Casa Branca.
De janeiro a setembro de 2025, a Rússia se tornou o principal fornecedor do grão para o país asiático, com 287 mil toneladas exportadas.
Desde 2022, quando a China abriu seu mercado para o milho brasileiro, os EUA perderam espaço como maior fornecedor para o país. Neste ano, o Brasil ocupa a segunda posição, com 249 mil toneladas, enquanto os EUA estão em quarto lugar, atrás de Mianmar, com 20 mil toneladas.
Ainda assim, em 2024, as exportações de etanol americano cresceram pelo 15º ano consecutivo, atingindo um valor recorde de US$ 7,5 bilhões. Nos EUA, o biocombustível segue sendo o principal biocombustível exportado.
No final de semana, a American Farm Bureau Federation (AFBF), uma das principais entidades de soja dos EUA, emitiu um comunicado direcionado ao presidente Trump e ao Congresso americano.
No documento, a AFBF pede subsídios ao governo Trump, alegando que fazendas e lavouras estão desaparecendo nos Estados Unidos.
"No curto prazo, instamos os líderes a autorizar pagamentos para os agricultores antes do final de 2025. “Esses pagamentos devem ser robustos o suficiente para cobrir as lacunas em todo o setor", afirma a carta.
Antes dessa carta, os agricultores tinham pedido uma atenção especial à soja, que, ao lado do milho, é uma das principais impactadas pela guerra comercial entre Trump e China.
Até setembro, a China importou 86 milhões de toneladas de soja. Desse montante, 73 milhões de toneladas foram do Brasil.
Os últimos relatórios do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) indicam que a China não adquiriu soja da safra 2025/26 dos EUA. Normalmente, durante o período de entressafra no Brasil, entre agosto e outubro, o país asiático compra soja dos EUA para garantir seus estoques.
Até o momento, os importadores chineses reservaram cerca de 7,4 milhões de toneladas de soja, principalmente da América do Sul, para embarques em outubro, cobrindo 95% da demanda projetada para o mês, além de 1 milhão de toneladas para novembro, o que corresponde a cerca de 15% das importações esperadas.
No mesmo período do ano passado, compradores chineses haviam reservado entre 12 milhões e 13 milhões de toneladas de soja dos EUA para embarques entre setembro e novembro. Normalmente, a China realiza essas compras com antecedência para garantir preços mais competitivos.
Historicamente, Brasil e Estados Unidos são os principais fornecedores do grão para a China. Em 2024, o país asiático importou 105 milhões de toneladas de soja. Desse total, 71% vieram do Brasil e 21% dos EUA, respectivamente, mostram dados do TradeMap da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O USDA projeta que as exportações agrícolas dos EUA para a China somarão US$ 17 bilhões em 2025, uma queda de 30% em relação a 2024 e mais de 50% em comparação com 2022. Em 2026, as exportações para a China devem cair para apenas US$ 9 bilhões, o menor nível desde a guerra comercial de 2018.
Desde aquele ano, inclusive, quando o primeiro governo de Donald Trump iniciou a guerra comercial, o país asiático deixou de dar prioridade aos agricultores estadunidenses, mesmo com a demanda interna chinesa em níveis recordes, diz a Federação.