EXAME Agro

Após aporte de US$ 200 mi, Caramuru projeta receita de R$ 8 bi em 2025 e foca no B16 no próximo ano

Captação servirá para antecipar a rolagem de parte da dívida de R$ 900 milhões com vencimento em 2026, diz CEO

Unidade da Caramuru em Itumbiara: projeção é encerrar o ano com faturamento de R$ 8 bilhões, alta de 9,6% em relação a 2024 (Caramuru/Divulgação)

Unidade da Caramuru em Itumbiara: projeção é encerrar o ano com faturamento de R$ 8 bilhões, alta de 9,6% em relação a 2024 (Caramuru/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 6 de outubro de 2025 às 12h04.

Última atualização em 6 de outubro de 2025 às 13h18.

Depois de captar US$ 200 milhões (cerca de R$ 1,066 bilhão, na cotação atual) para reforçar o capital de giro da próxima safra, em rodada liderada pelo BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME), a Caramuru Alimentos — esmagadora de soja e produtora de biodiesel — vive um 2025 “muito positivo”, diz Marcus Thieme, CEO da companhia. A projeção é encerrar o ano com faturamento de R$ 8 bilhões, alta de 9,6% em relação a 2024.

“Captamos esses recursos para financiar a próxima safra — especialmente a compra de soja — e para balancear o perfil da dívida entre curto e longo prazos. Não faz sentido concentrar tudo no longo, pelo custo de juros, nem tudo no curto, pelo risco de liquidez; buscamos um meio-termo. A operação veio em bom momento”, afirma.

Segundo o executivo, a captação antecipa a rolagem de parte da dívida (R$ 900 milhões) com vencimento em 2026. O montante foi captado no exterior em razão dos juros mais baixos do que no Brasil — a Selic, taxa básica de juros no país, está em 15% ao ano.

O financiamento foi lastreado em um framework verde associado a biocombustíveis e agricultura familiar — um padrão formal de finanças sustentáveis que vincula o uso dos recursos a essas categorias, com critérios, monitoramento e prestação de contas sobre impactos ambientais e sociais. Com a operação, a empresa afirma que mais de 65% de sua dívida passa a ser classificada como verde.

Fundada em 1964, em Maringá (PR), por Múcio de Souza Rezende, a Caramuru atua nos segmentos animal, industrial e de produtos de consumo — como o óleo de cozinha Sinhá — e tem foco no esmagamento de soja (capacidade superior a 2,1 milhões de toneladas por ano), com três plantas em Goiás e uma em Sorriso (MT). A operação de milho responde por menos de 10% do faturamento.

Do processamento de soja resultam óleo e farelo, com ênfase em produtos de maior valor agregado, como o concentrado proteico de soja (SPC, sigla em inglês para soy protein concentrate), com 62% de proteína, e o High Pro (farelo de soja com no mínimo 48% de proteína). O SPC abastece a produção de salmão e outros pescados na Noruega há mais de uma década e, em 2025, passou a atender clientes no Chile (salmão e truta), com prospecção de novos mercados na Ásia.

“Não temos terras nem plantamos. Compramos soja e milho — sobretudo soja — de mais de 5,5 mil produtores no sul de Goiás e no Mato Grosso. Por isso, precisamos acessar constantemente os mercados: é uma atividade intensiva em capital, especialmente no início do ano, a partir de fevereiro, quando começamos a originar a soja para o esmagamento”, diz Thieme.

Neste ano, a companhia deve encerrar com investimentos de R$ 300,3 milhões para avançar na modernização da infraestrutura logística e diversificar os negócios. A Caramuru destinou R$ 94,1 milhões a estruturas de armazenamento e escoamento junto ao porto de Miritituba (PA) e iniciou a construção de um terminal logístico em Itaituba (PA), em parceria com a 3tentos.

Combustível do futuro

Além do esmagamento de soja, a Caramuru produz 550 milhões de litros de biodiesel por ano, o que a coloca como a quinta maior produtora de biocombustível no país. Segundo o CEO, o aumento da mistura de biodiesel de 14% para 15% (B15) neste ano contribuiu para o bom desempenho da companhia. O biodiesel representa cerca de 40% da receita da empresa.

Neste ano, entrou em vigor a Lei Combustível do Futuro, que eleva os percentuais de etanol na gasolina e de biodiesel no diesel. A nova legislação também traz incentivos ao diesel verde e ao combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês).

No caso do biodiesel, a mistura atual de 15% começou a aumentar gradualmente a partir de 2025, com acréscimos de 1 ponto percentual ao ano, até atingir 20% em 2030. A expectativa do CEO é de que, em 2026, o percentual suba para 16% (B16).

“A mistura subiu e isso favorece a Caramuru porque, no esmagamento da soja, cerca de 20% do volume processado resulta em óleo, que é majoritariamente refinado para produzir biodiesel: mais de 80% do óleo vai para esse fim, e uma parcela menor para óleo de consumo [marca Sinhá]”, diz o CEO.

Para o executivo, a legislação é chave para o setor e, principalmente, para a Caramuru, pois traz previsibilidade para o agro, sobretudo para empresas que podem investir em combustíveis mais limpos. Além disso, o incentivo ao biocombustível reforça a visão ESG do agro.

“Para produzir biodiesel no Brasil é necessário fomentar a agricultura familiar. O impacto é direto sobre pequenos produtores, de quem precisamos originar soja para produzir o óleo e, depois, o biodiesel. Quanto mais biodiesel se produz no país, maior o efeito sobre a agricultura familiar”, afirma.

Em paralelo, a empresa estrutura o projeto de etanol de milho em Novo Ubiratã (MT), estimado em R$ 1,4 bilhão, pleiteando R$ 500 milhões no BNDES/Fundo Clima e linhas complementares. A tese, diz o CEO, se apoia na alta disponibilidade e competitividade do milho na região e em usos crescentes do etanol.

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