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'As fazendas estão desaparecendo': sem ajuda financeira, agro dos EUA pede socorro a Trump

Produtores têm encontrado dificuldades para escoar sua produção de soja, milho e sorgo

Agro dos EUA: pedido de socorro chega em um momento difícil para os agricultores americanos (Freepik)

Agro dos EUA: pedido de socorro chega em um momento difícil para os agricultores americanos (Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 16 de outubro de 2025 às 15h50.

Última atualização em 16 de outubro de 2025 às 15h52.

A American Farm Bureau Federation (AFBF), uma das principais entidades agro dos Estados Unidos, enviou uma carta ao governo de Donald Trump e também para o Congresso norte-americano pedindo ajuda, alegando que os agricultores enfrentam pressões econômicas.

"Em todo o país, fazendas estão desaparecendo à medida que famílias fecham os portões das fazendas cultivadas por seus pais, avós e gerações anteriores. À medida que essas fazendas desaparecem, também desaparece a independência alimentar dos Estados Unidos", disse Zippy Duvall, presidente da AFBF.

O pedido de socorro chega em um momento crítico para os agricultores americanos. Com a guerra tarifária entre EUA e a China, um dos principais mercados para o agro norte-americano, os produtores enfrentam dificuldades para escoar sua produção de soja, milho e sorgo.

Além disso, o governo americano está em shutdown desde o dia 1º de outubro, por causa de um impasse sobre o orçamento federal. A Casa Branca, sob o comando do Partido Republicano, culpa os democratas pela paralisação.

Por outro lado, os parlamentares democratas responsabilizam Trump e os republicanos pela crise.

O Congresso dos EUA define anualmente um orçamento para cobrir os gastos obrigatórios e discricionários, que corresponde ao ano fiscal que termina no final de setembro. Como não houve aprovação de um novo financiamento a partir de 1º de outubro, os recursos para programas não autorizados diretamente pelo Congresso ficaram comprometidos. E o agro está entre as vítimas.

"Os agricultores estão enfrentando dificuldades financeiras. Há alguma expectativa de ajuda, mas, financeiramente, eles precisam ir aos seus bancos e garantir que a assistência está a caminho", afirmou o senador republicano Jerry Moran em entrevista ao Político.

No início de outubro, o governo dos EUA sinalizou que anunciaria um pacote de ajuda aos produtores.

Embora os valores ainda não tenham sido detalhados, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou que Donald Trump lançaria medidas de apoio. Segundo o Financial Times, a ajuda poderia variar entre US$ 10 e US$ 15 bilhões.

Em suas redes sociais, a secretária do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), Brooke Rollins, tem reforçado que a responsabilidade pela demora na liberação dos recursos financeiros recai sobre os democratas.

"Os agricultores e pecuaristas dos Estados Unidos estão aguardando por recursos vitais e pagamentos de ajuda? Mães, bebês e crianças vulneráveis podem passar fome? É assim que as ações obstrucionistas dos democratas se parecem", escreveu Rollins no X (antigo Twitter).

Em setembro, Trump sugeriu que usaria a receita de tarifas para pagar os agricultores que, segundo ele, seriam prejudicados "por um tempo" em função da guerra comercial.

Contudo, essa proposta gerou surpresa e preocupação entre legisladores republicanos e funcionários do governo, que questionaram a legalidade e a viabilidade do uso da receita tarifária para pagamentos diretos aos produtores.

“É apenas uma questão de descobrir quanto dinheiro será necessário e como ele será alocado”, disse o presidente do Comitê de Agricultura do Senado, John Boozman (R-Ark.).

Boozman e outros parlamentares esperam que os recursos venham de uma combinação de fontes, incluindo fundos de emergência do USDA e assistência econômica alocada pelo Congresso — o que pode gerar mais disputas por financiamento ainda neste ano.

O pedido do agro dos EUA

Uma das principais queixas do setor agrícola nos Estados Unidos é a falta de ajuda financeira para a safra atual.

Além disso, o fato de os EUA estarem desenvolvendo um plano para conceder à Argentina, um dos principais concorrentes do Brasil no fornecimento de soja para a China, um financiamento de US$ 20 bilhões tem gerado ainda mais insatisfação entre os produtores americanos.

"A frustração é enorme. Os preços da soja nos EUA estão caindo, a colheita está em andamento e, enquanto isso, os agricultores leem nas manchetes não sobre um acordo comercial com a China, mas sobre o governo dos EUA conceder US$ 20 bilhões em apoio econômico à Argentina", disse Caleb Ragland, presidente da Associação Americana de Soja (ASA).

Na segunda-feira, 13, produtores de milho pediram ao Congresso dos Estados Unidos que aumentasse de 10% para 15% a mistura de etanol de milho (E15) na gasolina durante o ano todo. Atualmente, a mistura de 15% é permitida apenas no verão — de julho a agosto — em razão da alta demanda por gasolina durante as férias escolares.

Em um estudo divulgado pela Associação Nacional de Produtores de Milho (NCGA), os agricultores defendem que a medida ajudaria a aliviar a "crise econômica" que afeta o setor.

Parlamentares republicanos têm pressionado a Casa Branca a agir rapidamente para conter o aumento das preocupações, que, segundo eles, podem resultar em uma crise agrícola semelhante à de 1980, que causou falências em massa e o êxodo de pessoas do campo.

Além disso, a logística também é um grande desafio: nesta safra, os produtores de soja e milho colheram cerca de 545 milhões de toneladas desses grãos. Diante disso, muitos enfrentam dificuldades para encontrar locais adequados para armazená-los.

Republicanos do Comitê de Agricultura do Senado solicitaram uma reunião com o presidente para discutir a grave situação no setor agrícola e pedir ações urgentes para resolver a crise.

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