Cana-de-açúcar: bagaço usado como biomassa tem baixa pegada de carbono e alto potencial energético
Repórter
Publicado em 25 de outubro de 2025 às 14h13.
A bioeletricidade produzida a partir do bagaço da cana-de-açúcar vem ganhando importância estratégica para a segurança energética do Brasil.
Um estudo com participação da Embrapa mostra que, além de emitir pouco carbono, essa fonte renovável tem potencial para sustentar o sistema elétrico nacional durante os meses de estiagem — justamente quando as hidrelétricas operam no limite.
O trabalho fez parte do doutorado da pesquisadora Jazmim Zeballos e contou com a participação de Zita Sebesvari, da Universidade das Nações Unidas (Alemanha), Jakob Rhyner, da Universidade de Bonn, e Vinicius Bof Bufon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP).
O estudo foi publicado na revista científica Environmental Advances (Elsevier).
A pesquisa destaca que a biomassa de cana funciona como um “coringa” dentro da matriz energética: cobre os horários e períodos do ano em que a energia solar e a hidrelétrica perdem força.
Diferentemente da energia solar, limitada ao horário diurno, a bioeletricidade pode ser acionada à noite, garantindo uma oferta mais contínua.
“Quando as hidrelétricas reduzem a sua geração, as usinas movidas a biomassa assumem um papel decisivo para estabilizar o sistema”, disse Vinicius Bufon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP), em comunicado divulgado pela Embrapa.
Apesar do potencial, o estudo chama atenção para fragilidades que colocam em risco a contribuição da biomassa nos momentos mais críticos.
Entre elas estão a falta de infraestrutura para retenção de água, a baixa adoção de irrigação nos canaviais, seguros agrícolas que não refletem os riscos climáticos e a ausência de sistemas eficientes de alerta para estiagens severas.
Para reduzir essas vulnerabilidades, os pesquisadores defendem mais investimentos em irrigação, modernização tecnológica e políticas públicas integradas que envolvam produtores e indústria.
Os pesquisadores acreditam que o Brasil reúne condições únicas para consolidar a bioeletricidade como pilar da matriz energética. Mas, para isso, será preciso avançar em investimentos de longo prazo, inovação e planejamento integrado.