Cacau: commodity quadruplicou de preço em três anos e pressiona fabricantes e consumidores (Leandro Fonseca/Exame)
Redatora
Publicado em 25 de agosto de 2025 às 06h05.
O mercado global de chocolate enfrenta mais uma rodada de aumentos, reflexo da disparada no preço do cacau nos últimos anos.
As cotações seguem em patamar historicamente elevado e só devem apresentar algum alívio para a indústria e o consumidor a partir da Páscoa de 2026, segundo especialistas ouvidos pela CNBC.
O cacau atingiu níveis recordes desde 2023, impulsionado por condições climáticas adversas, surtos de doenças e restrição de oferta na África Ocidental, região responsável por cerca de três quartos da produção global.
No fim de 2024, os preços chegaram a picos históricos; hoje, os contratos futuros giram em torno de US$ 8 mil a US$ 9 mil por tonelada, ainda muito acima dos US$ 2,3 mil de três anos atrás.
“Não acredito que o preço do cacau voltará aos níveis de antes”, disse Adalbert Lechner, presidente-executivo da suíça Lindt & Sprüngli, à CNBC.
Lydia Toth, porta-voz da associação suíça Chocosuisse, afirma que a quadruplicação dos preços nos últimos dois anos aumentou significativamente os custos de produção e apertou as margens, especialmente porque o repasse ao consumidor ocorre com atraso.
Tracey Allen, estrategista de commodities do J.P. Morgan, reforça que há um “efeito hangover” no setor: as empresas ainda lidam com os preços elevados do fim de 2024.
“Existe um déficit contínuo no mercado e grande redução da disponibilidade de cacau. Isso significa preços mais altos por mais tempo”, disse à CNBC.
Mesmo com a expectativa de melhora na oferta — com novas plantações no Equador e no Brasil chegando à maturidade — o banco projeta preços estruturalmente mais altos, na casa de US$ 6 mil por tonelada.
Para Hamad Hussain, economista da Capital Economics, desafios de produtividade e anos de investimentos insuficientes na Costa do Marfim e em Gana devem manter o mercado apertado, mesmo se o clima melhorar.
“Os consumidores devem conviver com preços historicamente elevados por algum tempo”, afirmou.
No Brasil, onde o chocolate está presente em quase 93% dos lares, a disparada global do cacau se somou à desvalorização do real e elevou os preços ao maior patamar em mais de uma década.
Segundo a CNC, na Páscoa de 2025 o aumento médio foi de 18,9%, o maior em 13 anos, o que levou a uma queda de 22% na produção de ovos de Páscoa em relação ao ano anterior.
Dados da Worldpanel by Numerator mostram que, no primeiro trimestre de 2025, o consumo domiciliar de chocolate caiu 19% em volume, mas apenas 10% em unidades — sinal de que os brasileiros estão optando por porções menores.
O consumo de produtos de até 60 gramas cresceu 2%, enquanto o de tamanhos maiores recuou 4,8%.
“A combinação entre alta de preços e mudança de hábito desenha um novo panorama para o setor”, disse Yuri Parra, da Worldpanel, em entrevista anterior à EXAME.
Apesar dos desafios, a penetração do chocolate nos lares brasileiros aumentou nos últimos anos: de 85,5% em 2020 para 92,9% em 2024, segundo a Abicab. Cada brasileiro consome, em média, 3,9 kg de chocolate por ano — o maior índice dos últimos cinco anos.