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Crise no campo: pedidos de recuperação judicial crescem 31,7% no 2º trimestre

Alta dos juros e margens apertadas pressionam produtores mesmo com previsão de safra recorde

Agronegócio: pedidos de recuperação judicial sobem com margens pressionadas e alta de custos. (Alexis Prappas/Exame)

Agronegócio: pedidos de recuperação judicial sobem com margens pressionadas e alta de custos. (Alexis Prappas/Exame)

Agência o Globo
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Publicado em 29 de setembro de 2025 às 06h37.

O número de pedidos de recuperação judicial no setor do agronegócio disparou 31,7% no segundo trimestre, ante igual período de 2024, alcançando 565 solicitações, segundo monitoramento da Serasa Experian divulgado nesta segunda-feira. Os dados sugerem que os desequilíbrios financeiros causados pelas margens apertadas dos produtores rurais, que vêm desde a quebra da produção na safra 2023/2024 seguem deixando um rastro de estragos.

O monitoramento considera pedidos de recuperação judicial tanto de produtores pessoas físicas quanto de empresas agrícolas.

Empresas agrícolas lideram os pedidos

Segundo a consultoria de dados, o segundo trimestre foi a primeira vez, desde o quarto trimestre de 2023, que foram registrados mais pedidos de recuperação de empresas agrícolas do que de produtores pessoas físicas.

Foram 243 pedidos de empresas agrícolas, o dobro do segundo trimestre de 2024. Já as pessoas físicas representaram um total de 220 solicitações de proteção legal contra credores, alta de 2,8% ante um ano antes.

A nota divulgada pela Serasa Experian chamou a atenção para essa composição porque, normalmente, os produtores que constituem firmas “possuem maior porte” e são “mais organizados em sua maioria”.

Também houve aumento dos pedidos de recuperação entre as empresas da cadeia de fornecimento, como revendedores de insumos. Foram 102 solicitações de firmas desse grupo no segundo trimestre, 8,5% mais do que em igual período de 2024.

Juros altos e insumos caros pressionam o setor

Em entrevista no último sábado ao podcast 3Irmãos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a pasta analisa a quantidade de pedidos de recuperação judicial no país. Na avaliação do ministro, pode estar havendo "abuso" do mecanismo de proteção contra credores por parte de alguns setores.

Na entrevista, Haddad não fez referência direta a qualquer setor, mas dados apontam que no primeiro semestre, a inadimplência do agronegócio aumentou, atingindo o desempenho de bancos públicos. Atrasos superiores a 90 dias afetaram o resultado do Banco do Brasil (BB), tradicional agente financeiro do setor; da Caixa Econômica Federal, que passou a apostar no crédito aos produtores rurais no governo de Jair Bolsonaro; do Banco do Nordeste (BNB) e do Banco da Amazônia (Basa).

O agronegócio impulsionou o crescimento econômico neste ano, com mais uma supersafra, mas as margens de retorno mais apertadas têm deixado um gosto amargo para os produtores rurais nestes primeiros dias do plantio da soja, que começou em meados do mês e inaugura a temporada agrícola de 2026.

Previsão de safra recorde contrasta com endividamento

Com previsões meteorológicas favoráveis, a primeira estimativa da Conab, estatal do Ministério da Agricultura, aponta alta de 1% na produção de grãos na safra 2025/2026, com novo recorde. Por outro lado, o quadro de cotações em queda e insumos e juros em alta (mesmo com os subsídios do governo), que comprime as margens desde a safra 2023/2024 e levou a desequilíbrios financeiros no setor nos últimos anos, pode se agravar agora.

"Estamos preocupados se vamos conseguir pagar as contas e se vai sobrar alguma coisa, se vamos ter rentabilidade", diz Marion Kompier, sócia do Grupo Kompier, que comanda a Fazenda Brasilanda, com 6,6 mil hectares de soja nos municípios de Montividiu e Aporé, no sudoeste de Goiás.

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