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Crise no preço dos alimentos e Plano Safra pressionam Ministério da Agricultura

Interlocutores citam resistência a medidas para baixar preços dos alimentos e relacionamento conturbado com entidades do agro como motivos para pressão; aliados ressaltam abertura de 309 novos mercados como marca da gestão

Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, apoia o PL da Reciprocidade (Mapa)

Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, apoia o PL da Reciprocidade (Mapa)

Publicado em 25 de fevereiro de 2025 às 17h04.

Última atualização em 25 de fevereiro de 2025 às 17h42.

A pressão por medidas de intervenção para baixar os preços dos alimentos e o imbróglio envolvendo a liberação de verbas para linhas do Plano Safra ampliaram o desgaste do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro (PSD), segundo interlocutores tanto do Ministério quanto do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nos últimos dias, aumentaram os boatos sobre uma possível saída da pasta.

A situação ganhou um novo capítulo nesta terça-feira, 25, quando especulações indicaram que Fávaro deixaria o governo ainda hoje e que o vice-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), assumiria a pasta — a FPA é o principal grupo de representação do setor agropecuário no Congresso. Em reunião da FPA, Jardim já havia negado a possibilidade de assumir o cargo, apurou a EXAME, e posteriormente gravou um vídeo negando a hipótese. Fávaro não se pronunciou.

Fontes próximas ao assunto disseram à EXAME que a situação do ministro não é confortável.

Desde sua indicação por Lula, em dezembro de 2022, Fávaro não é unanimidade no setor agropecuário, sobretudo no Congresso e também entre alguns governadores. Aliados do ministro rebatem a narrativa e argumentam que a gestão é bem-sucedida, especialmente com a abertura de 309 novos mercados para os produtos agropecuários brasileiros desde 2023, quando assumiu a pasta.

Se, por um lado, sua nomeação pelo PSD foi um gesto de apoio do partido à frente ampla defendida por Lula durante a campanha presidencial, por outro, sua falta de interlocução, especialmente com a bancada do agro no Congresso, é vista por alguns membros da FPA como um obstáculo para o avanço da pauta do setor dentro do governo.

Preço dos alimentos e a 'surpresa' do Plano Safra

O aumento no preço dos alimentos é um dos principais fatores que pesam na avaliação de Carlos Fávaro. Aliados apontam que o ministro reluta em adotar medidas mais heterodoxas para conter a alta dos alimentos, como diminuir o imposto de importação de alimentos, o que é visto como um ponto negativo para Lula, que enfrenta uma queda na popularidade.

Lula, no entanto, nunca fez críticas públicas ao ministro. Pelo contrário, o presidente confia em sua gestão à frente da Agricultura, segundo fontes ligadas à pasta.

Fávaro e outros membros do governo apostam na safra recorde de grãos em 2024/25 como fator para reduzir os preços dos alimentos.

Diante desse cenário, Lula criou no final de janeiro um comitê para discutir medidas de redução dos preços, com a participação dos ministérios da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Fazenda. Algumas ações foram anunciadas, mas ainda sem impacto imediato.

A crise se agravou na semana passada, quando o Tesouro Nacional suspendeu as linhas de financiamento do Plano Safra, mantendo apenas aquelas voltadas à agricultura familiar.

“Tanto Fávaro quanto o Ministério foram pegos de surpresa”, diz uma fonte.

A decisão aumentou o desconforto do ministro e, para alguns interlocutores, evidenciou sua falta de prestígio diante do corte no orçamento.

Por outro lado, uma ala do governo avalia que a medida foi estratégica, visando pressionar o Congresso a acelerar a votação do orçamento. Na segunda-feira, 24, o governo publicou uma Medida Provisória (MP) para liberar R$ 4 bilhões em crédito extraordinário para o Plano Safra.

Segundo técnicos do Ministério da Agricultura, as especulações sobre uma possível saída de Fávaro não são novas. No entanto, desta vez, os rumores teriam sido alimentados por membros do próprio PT, insatisfeitos com o ministro.

Além disso, a Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) também estaria envolvida na disputa, o que foi negado por membros bancada reservadamente.

Nesta semana, o ministro chegou a criticar a FPA, alegando que a entidade estaria contra o governo. "A gente hoje vive uma intolerância por parte do Congresso, principalmente da Frente Parlamentar da Agropecuária, que, se tivesse cumprido seu papel, cobrando a aprovação orçamentária, talvez não tivesse de ter passado por isso hoje", disse Fávaro em entrevista. 

Mesmo com as especulações, aliados dizem que o ministro não sairá do governo, ainda que enfrente agora seu "maior teste de sobrevivência política", como pontua um interlocutor.

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