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Da cana ao bagaço: GranBio aposta R$ 1,5 bi na produção de biocombustíveis avançados em Alagoas

Empresa, em parceria com usinas locais, lançou o primeiro hub do estado dedicado à produção de biocombustíveis a partir de matérias-primas não convencionais, como resíduos agrícolas, bagaço de cana, algas e óleos residuais

 (Divulgação)

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César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 27 de janeiro de 2025 às 15h36.

Última atualização em 27 de janeiro de 2025 às 15h55.

A GranBio, empresa de biotecnologia especializada na produção de biocombustíveis avançados anunciou um investimento de R$ 1,5 bilhão para a criação do Exygen, um complexo dedicado à produção desses combustíveis em Alagoas, em parceria com as usinas Caeté, Santo Antônio e a Impacto Bioenergia.

Lançado nesta segunda-feira, 27, trata-se do primeiro hub do estado dedicado à produção de biocombustíveis a partir de matérias-primas não convencionais, como resíduos agrícolas, bagaço de cana, algas e óleos residuais.

De acordo com o CEO Bernardo Afonso Gradin, o diferencial do modelo de negócio da GranBio é oque enquanto as usinas concentram seus esforços na produção agrícola e na fabricação de açúcar durante a safra, a biorrefinaria utilizará os resíduos gerados nesse processo para produzir etanol neutro em carbono, biogás e biofertilizantes.

O sistema, diz, garante escala comercial, redução de emissões e continuidade operacional ao longo do ano inteiro.

“O fato de estarmos dissociados da atividade agrícola e da produção de alimentos nos coloca em uma posição única para consolidar a cadeia produtiva de resíduos. Isso inclui tanto os resíduos agrícolas, como a biomassa, quanto os resíduos da produção de alimentos, como o mel e o açúcar exauridos da cana”, diz o CEO.

A escolha por Alagoas não foi aleatória, como explicou Gradin em entrevista à EXAME. Há 15 anos, a companhia inaugurou no estado sua primeira planta de etanol de celulose. Agora, o novo hub, com apoio do governo estadual, será instalado em São Miguel dos Campos.

“Desde o início, Alagoas mostrou uma predisposição em dialogar com os empresários. Essa abertura para assumir o risco da inovação foi um fator decisivo para nos atrair há 15 anos e, agora, esse modelo se repete”, afirma Gradin.

A GranBio quer aproveitar o crescimento acelerado do setor de biocombustíveis no Brasil. Nos últimos 10 anos, a produção nacional aumentou quase 40%, alcançando o patamar histórico de 43 bilhões de litros, somando etanol e biodiesel.

Com a aprovação da Lei do Combustível do Futuro, que ampliou o percentual de mistura de etanol na gasolina, a projeção é que o setor salte para 59 bilhões de litros até 2037, consolidando o Brasil como um dos principais players globais nesse mercado.

Com previsão de início das operações em 2026, o Exygen terá capacidade para produzir 160 milhões de litros de etanol neutro em carbono e 50 milhões de m³ de biometano por ano, utilizando resíduos da cana-de-açúcar como matéria-prima. A operação contínua ao longo de 12 meses do ano será viabilizada pela otimização das instalações da GranBio.

Além de etanol e biometano, o complexo também produzirá biofertilizantes e CO₂ biogênico (dióxido de carbono originado de fontes biológicas, como resíduos orgânicos e biomassa).

No futuro, há planos para incorporar a produção de e-Metanol, um combustível voltado para setores de difícil eletrificação, como o transporte marítimo.

Lei do Combustível do Futuro

A aprovação da Lei do Combustível do Futuro, em outubro de 2024, foi um dos principais impulsionadores para o novo projeto da GranBio, segundo o CEO.

A legislação trouxe incentivos significativos para a produção de biocombustíveis avançados, como o biometano e o combustível sustentável de aviação (SAF). Para Gradin, a lei oferece a segurança jurídica necessária para alavancar o crescimento do setor.

“A maior previsibilidade de mercado permite que os clientes se comprometam com contratos de longo prazo, conhecidos como off-takes. Quando o cliente está disposto a firmar esse tipo de contrato, ele viabiliza o financiamento de novos projetos, pois esses contratos podem ser utilizados como garantia para a obtenção de recursos”, diz o executivo.

Segundo Gradin, o estado de São Paulo será o próximo a receber um complexo semelhante ao de Alagoas, embora ele ainda não confirme a cidade que abrigará o projeto. Além de São Paulo, estados como Mato Grosso e Goiás também estão entre os potenciais destinos para a construção de uma biorrefinaria nos moldes da unidade alagoana.

“Enxergamos que uma biorrefinaria como a que estamos lançando tem o potencial de agregar cadeias produtivas. Na prática, estamos propondo que os produtores de açúcar concentrem seus esforços na produção agrícola, focando na produtividade da cana e na produção de açúcar, enquanto nós atuamos na valorização dos resíduos gerados nesse processo”, afirma Gradin.

A produção de SAF também está no radar da empresa, mas com foco inicial voltado para exportação, por causa do tamanho limitado do mercado brasileiro. “Ainda temos muito a avançar no mercado interno para justificar a produção local voltada ao consumo doméstico”, afirma Gradin.

Em 2024, o governo dos Estados Unidos concedeu à GranBio uma subvenção direta de US$ 100 milhões para a construção da primeira planta de SAF a partir de resíduos de madeira. O projeto está sendo desenvolvido em parceria com a Honeywell, uma das maiores empresas de tecnologia dos EUA e líder na licença de tecnologias para SAF.

“Essa parceria com a Honeywell, que é a maior licenciadora de tecnologias para combustíveis sustentáveis, nos coloca em uma posição privilegiada para inovar no mercado de SAF. Nosso objetivo é ampliar ainda mais essa capacidade no futuro”, conclui Gradin.

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