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Do café ao suco de laranja: tarifa de Trump causa alerta no agro brasileiro

Estados Unidos são o segundo principal destino das exportações do agro brasileiro, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária

Publicado em 10 de julho de 2025 às 11h30.

Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações do agronegócio brasileiro, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

Em 2024, a participação do setor nas exportações brasileiras aumentou de 5,9% para 7,4%.

Com o anúncio de que o presidente dos EUA, Donald Trump, deve impor tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para o país a partir de 1º de agosto, produtos como café, carne e suco de laranja devem ser os mais afetados.

Suco de laranja

O setor de suco de laranja, que tem os Estados Unidos como principal destino de suas exportações, afirmou ter sido pego de surpresa com o anúncio das tarifas.

"Essa medida é péssima para todo o setor. Ela afeta não apenas o Brasil, mas também toda a indústria de suco dos EUA, que emprega milhares de pessoas e tem o Brasil como principal fornecedor externo há décadas", afirmou Ibiapaba Netto, diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR).

Em abril, quando Trump anunciou uma tarifa adicional de 10%, a CitrusBR já estimava perdas de R$ 1,1 bilhão por ano em exportações.

Na safra 2024/25, encerrada em 30 de junho, os EUA representaram 41,7% das exportações brasileiras do produto, somando US$ 1,31 bilhão em faturamento, segundo dados da Secex consolidados pela CitrusBR.

Exportações de carne

Depois da China, os EUA são o segundo maior destino da carne brasileira, com 15% das exportações.

De janeiro a junho de 2025, as remessas de carne brasileira para os EUA geraram US$ 1 bilhão em receita, segundo a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), o que representa um aumento de 102% em relação ao primeiro semestre de 2024.

Em comunicado, a Abiec afirmou que " qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros representa um entrave ao comércio internacional e impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina".

Café brasileiro representa

O café é um dos produtos mais exportados para os Estados Unidos, ficando atrás apenas dos produtos florestais, como madeiras e seus derivados. O país é o maior consumidor de café, numa demanda de 24 milhões de sacas.

O Brasil é o principal fornecedor desse mercado, com mais de 30% de market share.

Em 2024, os EUA representaram 16,1% de todas as exportações do produto brasileiro, representando, em termos de receita, cerca de US$ 2 bilhões.

Ainda sem estimativas sobre os impactos das tarifas nas exportações de café do Brasil, o Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé) afirmou em nota que avalia os possíveis impactos para o setor brasileiro.

"Estamos desenvolvendo uma agenda positiva, trabalhando ao lado de nossos parceiros, como a National Coffee Association e seus membros, junto à Administração Trump. Existe um esforço conjunto para influenciar essa questão", disse.

Segundo a entidade brasileira, o café gera significativa riqueza nos EUA, já que o país importa café e agrega valor por meio da industrialização.

Para cada dólar de café importado, são gerados US$ 43 na economia americana, segundo a Cecafé. Isso representa 2,2 milhões de empregos, correspondendo a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano.

Além disso, a indústria de café contribui com US$ 343 bilhões para a economia dos EUA, e 76% dos americanos consomem café, tornando-o mais popular do que qualquer outra bebida.

Tarifas de Trump

A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), que representa o agronegócio no Congresso, afirmou em nota que o momento exige cautela nas negociações.

"A nova alíquota gera reflexos diretos e afeta o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras", declarou a entidade.

Segundo a FPA, o Brasil precisa dar uma resposta firme e estratégica. "A diplomacia é o caminho mais estratégico para a retomada das negociações", diz o comunicado.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil é um país soberano e não aceitará ser “tutelado” por nenhuma outra nação. 

Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”, escreveu o presidente da república no X (antigo Twitter). 

Na carta de Trump enviada ao Brasil, que anuncia as taxações, o republicano cita os processos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo o presidente dos EUA, o julgamento contra Bolsonaro seria uma “caça as bruxas”. 

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