EXAME Agro

Dólar a R$ 6,09, juros altos e soja recorde: o cenário para o agro em 2025, segundo o Rabobank

Relatório do banco holandês aponta que as incertezas fiscais no Brasil aumentam a volatilidade cambial, o que impacta diretamente as margens de lucro do setor agropecuário

Colheita de soja (CNA/Senar/Divulgação)

Colheita de soja (CNA/Senar/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 31 de março de 2025 às 11h30.

Dólar a R$ 6,09 em 2025, juros altos e produção de soja recorde. Esse é o cenário que o Rabobank, banco multinacional holandês que atua no setor de agronegócio, desenha para o setor brasileiro em seu relatório trimestral Agroinfo, divulgado nesta segunda-feira, 31.

Segundo o banco, o agro enfrenta um cenário volátil em diversas frentes neste ano, e o câmbio surge como um dos fatores centrais.

O Rabobank projeta que o dólar volte para o patamar de R$ 6,09 até o final de 2025, sustentado pelas incertezas fiscais que rondam o Brasil e pelo aumento do diferencial de juros entre os Estados Unidos e o Brasil. Na visão da instituição, as dúvidas sobre o crescimento da economia mundial “podem ser maléficas para moedas emergentes”, como o real.

Além disso, o relatório aponta que as incertezas fiscais no Brasil aumentam a volatilidade cambial, o que impacta diretamente as margens de lucro do setor agropecuário. A combinação entre real desvalorizado e custos de produção em alta pode pressionar a rentabilidade do agro.

Em relação aos juros dos Estados Unidos, atualmente entre 4,25% e 4,50% ao ano, o Rabobank projeta um corte de 0,25 ponto percentual em junho. Já para a Selic, a taxa básica de juros do Brasil, o banco estima uma alta para 15% ao ano — hoje, a Selic está em 14,25%.

O aumento da Selic pode encarecer o crédito rural e limitar investimentos no campo, ao mesmo tempo, em que o dólar mais valorizado tende a beneficiar exportadores, mas com efeitos colaterais nas importações e nos custos de insumos.

Soja, milho e carne bovina

Mesmo com a possibilidade de o câmbio afetar o agronegócio, o Rabobank projeta perspectivas positivas para segmentos específicos do setor. Commodities como soja, milho e carne bovina devem liderar o desempenho do agro em 2025.

No caso da soja, uma das principais commodities brasileiras, a expectativa é de uma produção recorde de 170 milhões de toneladas na safra 2024/2025 — em linha com as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e de outras casas de análise.

O Rabobank, no entanto, ressalta que o mercado permanece influenciado por incertezas geopolíticas, como as tensões comerciais entre Estados Unidos e China. As disputas podem afetar o preço da oleaginosa, especialmente diante da possibilidade de tarifas mais altas sobre a soja americana.

Outro ponto de atenção é a indefinição em relação à mistura obrigatória de biodiesel ao diesel. Prevista inicialmente para entrar em vigor em março, a medida foi adiada pelo governo, o que gera incertezas sobre as projeções para o esmagamento da soja em 2025.

“Isso pode reduzir o total esmagado e as margens de esmagamento previstas para 2025”, afirma o banco no relatório. A falta de clareza sobre a política energética afeta diretamente o planejamento das indústrias processadoras.

Para o milho, a safra de 2024/2025 deve alcançar 126 milhões de toneladas, mas as exportações tendem a ser menores do que no ano passado, impactadas pelo atraso na colheita da soja — especialmente em estados como o Rio Grande do Sul — e por um mercado global mais competitivo. O Rabobank projeta embarques de 35 milhões de toneladas na temporada atual, 3 milhões a menos do que em 2023/2024.

Ainda assim, o milho vive um bom momento, com preços em alta impulsionados pela demanda interna aquecida e pela desvalorização cambial. O banco estima um consumo doméstico de 91 milhões de toneladas, crescimento de 5 milhões de toneladas na comparação anual, puxado pelo uso na produção de etanol e na formulação de rações.

A carne bovina mantém boas perspectivas de exportação, especialmente para mercados como China e Estados Unidos. No entanto, o banco não menciona a decisão chinesa de investigar suas importações da proteína.

No final do ano passado, o país asiático anunciou a medida, alegando que o aumento das importações tem gerado impactos negativos na indústria nacional, com uma relação direta entre o crescimento das compras externas e os prejuízos enfrentados pelo setor local.

No entanto, os preços internos podem ser pressionados no segundo semestre devido ao aumento dos custos com ração animal, que utiliza milho como principal insumo. As exportações cresceram 4% no primeiro bimestre de 2025, com 424 mil toneladas, mas o setor deve ficar atento à possível desaceleração da oferta interna.

Na sexta-feira, 28, o governo anunciou que o Vietnã abriu seu mercado para a carne bovina brasileira. Além disso, o Japão segue em negociações com o Brasil, e as perspectivas são positivas, como afirmou o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.

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