Plantação de soja: No Arkansas, um dos principais estados exportadores de soja dos EUA, produtores relataram estar em uma situação crítica. Em um vídeo publicado na rede social Reddit, eles afirmam que a "economia agrícola está em dificuldades" (Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 11h22.
Última atualização em 27 de outubro de 2025 às 11h25.
Mesmo com um eventual acordo entre Estados Unidos e China, para resolver os impasses da guerra comercial, os agricultores americanos não devem conseguir se recuperar na safra 2025/26. O principal motivo é o descompasso entre os altos custos de produção e os preços baixos da soja.
Atualmente, o grão é negociado na Bolsa de Chicago (CBOT) — principal referência do mercado agrícola — em torno de US$ 10 por bushel. O valor, no entanto, é insuficiente para cobrir os custos médios de produção, estimados em cerca de US$ 11 por bushel, avalia Joana Colussi, professora de Economia Agrícola na Universidade de Purdue, nos EUA.
Segundo ela, para que os produtores consigam equilibrar as contas, o preço da soja precisaria estar, no mínimo, em US$ 11 por bushel. Esse patamar, porém, não tem sido atingido por conta da baixa demanda chinesa pela soja americana.
“É essa equação que explica a situação financeira delicada dos produtores americanos e a crescente preocupação no setor. Embora o escoamento da produção também represente um desafio, os Estados Unidos ainda estão em posição mais vantajosa que o Brasil em termos de logística e infraestrutura”, afirma Colussi.
A China está há 28 semanas sem adquirir soja dos Estados Unidos. Nesse período, o país asiático aumentou suas compras do grão brasileiro e argentino.
Entre janeiro e agosto de 2025, os embarques americanos para a China caíram 78% em relação ao mesmo período de 2024, somando 5,94 milhões de toneladas. Os dados são da American Farm Bureau Federation (AFBF), uma das principais entidades agrícolas dos EUA.
Na direção oposta, as exportações brasileiras para a China cresceram 12,3% no mesmo intervalo, alcançando 73 milhões de toneladas — tendência que deve continuar nos próximos meses.
Há ainda uma diferença importante entre os produtores que arrendam terras e os que possuem propriedades próprias, diz Colussi.
"Cerca de 80% dos agricultores do Meio-Oeste dos EUA trabalham com áreas arrendadas, o que torna a situação financeira mais delicada — em muitos casos, negativa. Já para quem tem terras próprias, o cenário é um pouco melhor, chegando a ser levemente positivo," afirma.
Com a demanda chinesa aquecida, o Brasil deve bater recorde de exportação de soja em outubro. A projeção da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) indica embarques de 7,1 milhões de toneladas no mês, um crescimento de 60% em relação ao mesmo período de 2024.
Com isso, as exportações do grão devem atingir 102,2 milhões de toneladas, ultrapassando — em apenas dez meses — o recorde anterior, de 101,3 milhões de toneladas registrado ao longo de todo o ano de 2023.
A expectativa para novembro e dezembro é de novos envios de 8 milhões de toneladas, o que deve elevar o total exportado em 2025 para aproximadamente 110 milhões de toneladas, renovando o recorde.
Além da soja, os chineses importaram pouco milho americano. No caso do sorgo, os embarques dos EUA para o país asiático caíram 97% neste ano.
No domingo, 26, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, afirmou que os EUA e a China chegaram a uma “estrutura substancial” de um novo acordo comercial, que deve beneficiar os agricultores americanos e resolver outras pendências econômicas entre os dois países.
O presidente Donald Trump deve se reunir com o líder chinês Xi Jinping na Coreia do Sul, durante a Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), na quinta-feira, 30, para assinar os termos do acordo. Embora a Casa Branca tenha confirmado as negociações, Pequim ainda não confirmou oficialmente o encontro.
“Acredito que temos a estrutura para que os dois líderes tenham uma reunião muito produtiva para ambos os lados, e acho que será fantástico para os cidadãos e agricultores dos EUA, e para o nosso país em geral”, afirmou Bessent.
O secretário evitou dar detalhes sobre o conteúdo do acordo, dizendo que caberá a Trump fazer o anúncio oficial.
“Acredito que, quando o acordo com a China for anunciado, nossos produtores de soja ficarão muito satisfeitos com o que está por vir — tanto para esta temporada quanto para os próximos anos”, declarou.
Bessent também afirmou que a trégua tarifária entre os dois países deve ser prorrogada além do prazo de 10 de novembro e antecipou que a China retomará as compras de soja americana, interrompidas nos últimos meses em função da guerra comercial.
Na Bolsa de Chicago (CBOT) os preços da soja disparavam mais de 2%, na expectativa de um acordo entre EUA e China.