Setor pesqueiro brasileiro destina de 70 a 80% das exportações aos EUA
Redatora
Publicado em 11 de julho de 2025 às 17h31.
Última atualização em 11 de julho de 2025 às 18h02.
A exportação de pescados brasileiros para os Estados Unidos está suspensa desde quinta-feira, 10, um dia após o presidente americano, Donald Trump, anunciar uma taxação de 50% sobre produtos brasileiros.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), pelo menos 1.500 toneladas de peixes e frutos do mar, armazenadas em 58 contêineres frigoríficos, deixaram de ser embarcadas em navios com destino ao mercado americano.
Os produtos estavam prontos para embarque nos portos de Salvador (BA), Pecém (CE) e Suape (PE), mas os importadores americanos interromperam a operação após o anúncio das novas alíquotas.
"A verdade é que o setor está desesperado, porque tudo parou nas exportações e isso vai se complicar ainda mais, se não houver uma solução urgente. A suspensão dos embarques partiu dos próprios compradores, porque ainda não sabem quanto pagarão pelos pescados", disse o presidente da Abipesca, Eduardo Lobo Naslavsky, ao jornal O Tempo.
O executivo esclareceu que não houve cancelamento dos pedidos, mas uma paralisação temporária porque os importadores ainda avaliam o impacto da tarifa.
“Dependendo do valor, eles querem renegociar”, destacou. O tempo médio de transporte marítimo até os Estados Unidos é de 18 a 20 dias, o que inviabiliza novas remessas enquanto persistir a dúvida sobre os custos adicionais.
O setor pesqueiro brasileiro movimenta cerca de R$ 20 bilhões por ano, com exportações que alcançam aproximadamente US$ 600 milhões.
Os Estados Unidos são o principal destino, absorvendo entre 70% e 80% dessas vendas, já que a União Europeia mantém restrições sanitárias à importação de pescados brasileiros desde 2017.
A exportação corresponde a cerca de 15% do mercado nacional, com destaque para tilápia, lagosta e atum de profundidade, produtos que têm a maior parte da produção destinada ao mercado americano.
Naslavsky ressaltou a prioridade do mercado americano para o setor e pediu cautela ao governo brasileiro nas negociações.
Ele sugeriu que o país solicite um período de 90 dias para adequação, permitindo escoar os estoques atuais e desacelerar as exportações de forma ordenada, minimizando prejuízos.
Além dos pescados, produtores brasileiros de suco de laranja, carne e café, também manifestam preocupações com as tarifas americanas.
O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de suco de laranja, com 42% das vendas destinadas aos EUA.
Exportadores de carne afirmam que a taxa de 50% tornaria inviável a continuidade das vendas ao país americano, enquanto o café brasileiro, principal fornecedor para os EUA, vê a medida com apreensão.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) classificou a medida americana como um alerta para o equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países, ressaltando impactos no câmbio, custos de insumos e competitividade das exportações brasileiras.
Em nota, a Abipesca expressou preocupação com o aumento das tarifas e destacou os riscos para o setor aquícola, que já enfrenta restrições mercadológicas em outros mercados.
A entidade reforçou a importância de o governo brasileiro buscar a abertura do mercado europeu como alternativa para reduzir a dependência dos Estados Unidos.
"A Abipesca destaca a importância de o governo brasileiro priorizar a abertura do mercado europeu como alternativa às exportações de pescados. A morosidade dessa tratativa, em momentos como este, demonstra a importância de reduzir a dependência de mercados específicos para o pescado brasileiro", disse.
A associação solicitou ainda que as negociações ocorram de forma cautelosa e diplomática, evitando medidas retaliatórias que possam agravar a situação.
"Considerando a importância do mercado americano para o setor, é fundamental priorizar a negociação e buscar soluções econômicas que beneficiem o Brasil, garantindo a preservação de milhares de empregos e a manutenção da estabilidade econômica do setor", acrescentou a associação.