(Claudio Neves/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 28 de março de 2025 às 06h05.
Última atualização em 28 de março de 2025 às 14h54.
O congestionamento de navios se tornou uma cena comum nos últimos meses nos portos brasileiros. O motivo é simples: o avanço da colheita de soja no Brasil. Segundo dados da ElloX Digital, startup de logística, o tempo médio de carregamento dos navios aumentou significativamente em 2025, em comparação com o ano anterior.
No Porto de Santos, uma das principais rotas de escoamento da soja brasileira, o tempo médio de carregamento passou de 10,5 dias em fevereiro de 2024 para 17,5 dias no mesmo mês de 2025.
Em Paranaguá, principal ponto de exportação no Paraná, o tempo médio foi de 8,6 para 12,5 dias.
Embora a situação tenha sido antecipada por analistas por causa da safra recorde em 2024/25, ela foi agravada por fatores climáticos. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção total de grãos deve alcançar 328,5 milhões de toneladas — 167,4 milhões apenas de soja.
Além do volume recorde, o atraso no plantio da soja em 2024 e o clima desfavorável no início da colheita de 2025 contribuíram para o acúmulo de cargas nos portos.
"O Brasil tem agora um prazo apertado para escoar o que promete ser uma super safra. Se no ano passado já enfrentamos filas nos portos, com custos de espera de cerca de US$ 25 mil a US$ 30 mil por dia, este ano a situação tende a se agravar", afirma Lucas Moreno, CEO da ElloX.
A pressão sobre a infraestrutura pode afetar também outras culturas, como o milho de inverno, conhecido como safrinha.
"Não houve novos investimentos em infraestrutura portuária, o que agrava ainda mais a falta de capacidade de armazenamento no Brasil. Esses fatores vão prejudicar o início da colheita do milho, previsto para julho e agosto. Já é possível observar filas de navios nos principais portos, como Santos, Paranaguá e Rio Grande", diz Moreno.
O descompasso entre produção e escoamento de grãos não é novidade no agronegócio brasileiro. Um estudo de 2023 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que, embora a agricultura brasileira tenha avançado com o uso intensivo de tecnologia e conhecimento, a infraestrutura logística não acompanhou esse progresso.
"O uso intensivo de conhecimento aliado à tecnologia foi decisivo para a expansão da produção de grãos e da pecuária no país. Contudo, o cenário é diferente quando se observam as novas fronteiras agrícolas. Como resultado, as vantagens observadas nos aspectos produtivos são suprimidas pelos custos derivados da ineficiência logística do país", afirmam os pesquisadores Valquíria Cardoso Caldeira, Elisangela Pereira Lopes e José Garcia Gasques.
Como consequência, os gargalos pressionam o preço dos fretes dos caminhões, que se elevam ao longo da safra. Para o pesquisador Fernando Bastiani, da Esalq Log, hub da USP sobre logística, fevereiro foi o mês mais concentrado dos últimos 10 anos.
A colheita no Mato Grosso, que responde por 30% da produção nacional de soja, sofreu um atraso, enquanto outros estados anteciparam a colheita, gerando uma concentração das atividades em um curto período.
"A demanda elevada, a concentração da colheita e o aumento do preço do diesel resultaram em um aumento de 70% a 80% nos preços de fretes em relação ao início do ano, o que representa 30% a 35% mais caro do que no ano passado", diz Baptistella.
Um levantamento da Frete.com, plataforma que conecta empresas a caminhoneiros autônomos, aponta que os fretes agrícolas podem subir até 12% em 2025, impulsionados pela alta demanda e pela falta de caminhões.
Com a projeção de aumento nos preços, a Frete.com alerta que o impacto pode ser sentido na elevação dos preços dos alimentos ao longo de 2025, refletindo as dificuldades no transporte de grãos — o custo do frete representa, em média, 15% do preço final dos produtos, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em 2024, os preços dos fretes agrícolas subiram 4% em relação ao ano anterior. Para 2025, a tendência é de mais alta.
"Embora o Brasil tenha mais de 2,5 milhões de caminhões, o aumento da demanda durante a safra torna difícil atender à necessidade crescente. A pressão de demanda e a ineficiência operacional acabam criando a sensação de escassez de caminhões", afirma Moreno.
O último levantamento da consultoria AgRural mostra que a colheita da soja atingiu 77% da área plantada no Brasil até o dia 20, contra 69% no mesmo período de 2024 — esse é o índice mais alto para esta época do ano desde a safra 2010/11, quando a consultoria iniciou os levantamentos.
O ritmo acelerado é impulsionado pelo clima quente e seco, predominante nas áreas de calendário mais tardio.