Gustavo Mariano: Embora o etanol de milho seja o foco principal da Inpasa, estamos de olho em outras possibilidades dentro do setor de biocombustíveis (Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 31 de março de 2025 às 06h05.
A Inpasa, biorrefinaria que detém 50% do mercado de produção de etanol de milho no Brasil, tem uma ambição: no longo prazo, quer se tornar um ecossistema completo para o setor de biocombustíveis, que vai do etanol de milho à produção de ração animal — e passa pelo uso de sorgo.
A companhia desembarcou no Brasil em 2019, vinda do vizinho Paraguai. Abriu a primeira fábrica em Sinop, em Mato Grosso. Com essa unidade, já são cinco usinas país afora — em 2026, mais uma biorrefinaria, de Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, ficará pronta.
Em Sinop, a unidade industrial tem a maior produção de etanol de milho do mundo: mais 4,6 milhões de toneladas do cereal e 2,1 bilhões de litros do biocombustível. No total, a Inpasa produz 4,7 bilhões de litros de etanol de milho e planeja chegar aos 5,6 bilhões de litros quando todas as unidades estiverem em operação, no ano que vem.
A empresa já é uma gigante no etanol de milho. Mas o futuro vai além. Em entrevista à EXAME, Gustavo Mariano, vice-presidente de trading da companhia, aponta que os próximos passos virão biocombustíveis avançados, como o bioquerosene, que pode atender à crescente demanda do setor de aviação por soluções mais limpas e sustentáveis.
A diversificação é vista como essencial para o futuro do portfólio energético da empresa, em um momento no qual o mundo lida com uma guerra comercial em curso, capitaneada pelos Estados Unidos.
A Inpasa tem algum plano de expansão para a produção de biocombustíveis além do etanol de milho?
Embora o etanol de milho seja o foco principal da Inpasa, estamos de olho em outras possibilidades dentro do setor de biocombustíveis.
Estamos explorando a produção de biodiesel, especialmente utilizando óleos vegetais como o óleo de milho, que tem um grande potencial como matéria-prima. Além disso, a produção de biocombustíveis avançados, como o bioquerosene para a aviação, está sendo analisada à medida que a tecnologia e a demanda global por essas fontes de energia limpa se expandem.
Como a companhia lida com a volatilidade do mercado agrícola, especialmente em relação a safras e condições climáticas?
Estamos enfrentando desafios de volatilidade climática e de mercado com a implementação de estratégias de diversificação agrícola. Um exemplo disso é o incentivo à produção de sorgo, uma cultura resistente à seca e com um ciclo de vida mais curto que o milho, o que permite maior flexibilidade nas regiões que enfrentam dificuldades climáticas.
O sorgo está sendo incentivado principalmente no Sul, Centro-Oeste e Nordeste, regiões que enfrentam desafios com a variabilidade climática. Utilizamos a lógica de safra dupla, que ajuda a estabilizar a produção e garante maior rentabilidade aos produtores, mesmo em períodos de entressafra.
Qual é o impacto da guerra comercial entre os EUA e o Brasil no mercado de biocombustíveis?
As disputas comerciais podem afetar as tarifas e a dinâmica do mercado global, o que, por um lado, pode gerar volatilidade. Por outro, abre portas para o Brasil se posicionar como um fornecedor estratégico de biocombustíveis.
O Brasil tem uma vantagem competitiva considerável, já que produz etanol com uma menor intensidade de carbono, o que o torna uma alternativa mais atraente em um mundo cada vez mais focado em sustentabilidade e descarbonização. Em termos de comércio internacional, nossa diplomacia e acordos comerciais simplificados permitem que o Brasil se posicione de forma ágil e se aproveite das oportunidades que surgem.
A Inpasa planeja expandir suas operações para novos países ou mercados emergentes nos próximos anos?
Estamos especialmente focados em mercados emergentes na Ásia e na África, onde a demanda por biocombustíveis está crescendo à medida que esses países buscam alternativas mais sustentáveis para suas matrizes energéticas.
Além disso, estamos trabalhando para fortalecer nossa presença na Europa, onde as políticas de descarbonização estão impulsionando a demanda por etanol e biocombustíveis.
No Brasil, a expansão para novas regiões, como o Nordeste, também faz parte da nossa estratégia, pois acreditamos que essas áreas podem se tornar grandes produtores de etanol de milho, o que contribui para o crescimento do mercado.