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Milho compensa resultado de R$ 157,9 milhões na São Martinho — mas juros altos geram incertezas

Lucro líquido da empresa caiu 25% no terceiro trimestre da safra 2024/25

usina são martinho (DIVULGAÇÃO)

usina são martinho (DIVULGAÇÃO)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 18h53.

Última atualização em 10 de fevereiro de 2025 às 19h01.

A São Martinho, empresa do setor sucroenergético, viu seu lucro líquido cair 25% no terceiro trimestre de 2025, para R$ 157,9 milhões. A queda só não foi maior por um motivo: a operação de milho da companhia voltou a dar lucro, com receita de R$ 198 milhões (+70,4%) e EBITDA de R$ 74 milhões, contribuindo com 5% do EBITDA total da empresa.

Mas novos investimentos na operação de milho estão em xeque, e a culpa é da taxa básica de juros, a Selic, segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Felipe Vicchiato. Atualmente em 13,25% ao ano, com possibilidade de atingir 15% a.a., segundo estimativas do mercado financeiro, a elevação dos juros aumentou os custos de capital da companhia e levanta dúvidas sobre o que a empresa pretende fazer nos próximos meses.

Em call de resultados nesta segunda-feira, 10, Vicchiato afirmou que o aumento dos juros no Brasil impactou a possibilidade de expansão da planta de etanol de milho na Usina Boa Vista, em Goiás — atualmente, a unidade processa 500 mil toneladas de milho por ano.

“A decisão [sobre a expansão] deve acontecer em meados de março. Mas, obviamente, dado todo o cenário, precisamos de um pouco mais de gordura, seja preço de milho menor, seja preço de etanol maior, para cobrir esse aumento de custo de capital”, disse o CFO.

Segundo o executivo, o volume de processamento de milho atingiu 402 mil toneladas até dezembro, um crescimento de 21% em relação ao ano anterior, com projeção de 500 mil toneladas ao final do mês. Por outro lado, a produção de açúcar caiu 9% por causa das queimadas, enquanto a produção de etanol aumentou entre 8% e 9%, com destaque para o crescimento do etanol de milho.

Com isso, a quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR), já considerando a conversão da produção a partir do milho, alcançou 3,398 milhões de toneladas, em linha com a safra passada, com alta de 0,5%.

O resultado não poderia ser outro: as vendas foram melhores no mercado de etanol, no qual a São Martinho conseguiu ofertar mais produto por causa do processamento de milho, aproveitando ainda a alta dos preços na comparação anual. Dessa forma, a receita líquida total da empresa no trimestre cresceu 14,6%, chegando a R$ 1,845 bilhão.

Em nove meses, a companhia já alcançou R$ 5,460 bilhões de receita líquida, quase R$ 1 bilhão a mais do que no mesmo período da safra anterior. A expectativa é de que o milho continue a contribuir de forma consistente nos resultados da empresa.

"A São Martinho faturou até o momento 53% do etanol de milho e tem entre 14% a 15% para faturar no último trimestre [da safra 2024/25]. O etanol de milho, basicamente etanol anidro, tem uma margem melhor do que o etanol de cana atualmente. Então, devemos ter um trimestre forte de etanol de milho no quarto tri", afirma o diretor.

Safra 2025/26 de cana-de-açúcar

Se o milho foi o responsável pelo lado positivo do resultado da companhia, as queimadas, que atingiram o país entre julho e setembro do ano passado, impactaram fortemente o desempenho da São Martinho. A moagem de cana fechou em 21,8 milhões de toneladas, com uma queda de 5,5% em relação à safra passada, enquanto a produtividade caiu 7%, encerrando em 79 toneladas por hectare.

“Gastamos mais insumos para processar a cana do que o habitual, o que gerou um custo adicional de cerca de R$ 100 milhões. Os outros R$ 250 milhões são consequência de uma arbitragem que deixamos de fazer, ao optar por produzir mais etanol em vez de açúcar. No total, estamos falando em R$ 350 milhões de impacto”, afirmou o CFO.

Apesar de a safra 2024/25 não ter sido tão boa para a São Martinho, as perspectivas para a temporada 2025/26 são mais positivas, segundo o BTG Pactual.

Nesta segunda-feira, o banco reiterou sua recomendação de compra para as ações da São Martinho, estabelecendo um preço-alvo de R$ 40 por ação. Na avaliação dos analistas, a expectativa é de que haja custos mais baixos e melhores preços de açúcar e etanol.

“Estamos bastante animados com os nossos canaviais. A chuva foi muito boa, choveu bastante à noite e fez sol durante o dia. Foi uma questão climática favorável para o crescimento da cana nas nossas unidades, nas regiões onde estamos”, disse o diretor. Depois de subirem mais de 1% pela manhã, os papéis da companhia fecharam em queda de 1,29%.

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