EXAME Agro

Na esteira dos biocombustíveis, AGCO prepara trator movido a etanol

Produtos devem chegar ao mercado em dois anos, diz Luis Felli, vice-presidente do grupo AGCO para as marcas Massey Ferguson e Fendt

Trator da Massey Ferguson: Segundo Felli, o grupo AGCO já possui tratores que operam 100% com biodiesel (GRUPO AGCO/Divulgação)

Trator da Massey Ferguson: Segundo Felli, o grupo AGCO já possui tratores que operam 100% com biodiesel (GRUPO AGCO/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 11 de novembro de 2025 às 09h18.

Última atualização em 11 de novembro de 2025 às 09h34.

*HANNOVER, ALEMANHA O grupo AGCO, fabricante de máquinas e equipamentos agrícolas, deve lançar nos próximos dois anos um trator movido a etanol. Segundo Luis Felli, vice-presidente do conglomerado para as marcas Massey Ferguson e Fendt, os motores estão em fase de testes. Hoje, quase todos os tratores do grupo são movidos a diesel.

“Esses testes já estão em andamento. Nosso foco inicial foi nas usinas, pois o etanol utilizado é o mesmo em todo o país. Começamos pelas usinas por oferecerem mais facilidade de operação. O produto está em fase final de testes e deve chegar ao mercado nos próximos dois anos”, afirmou Felli.

O conglomerado quer aproveitar o bom momento da produção de etanol no Brasil, especialmente o derivado do milho. O país é hoje um dos maiores produtores mundiais do biocombustível, com uma produção anual de 36 bilhões de litros — 72% provenientes da cana-de-açúcar e 28% do milho, segundo dados da União Nacional do Etanol de Milho (Unem).

O crescimento do etanol de milho tem sido expressivo: eram 2,6 bilhões de litros na safra 2020/2021, um salto de quase quatro vezes em poucos anos.

Além disso, desde agosto deste ano, está em vigor a Lei Combustível do Futuro, que eleva os percentuais de mistura de etanol na gasolina e de biodiesel no diesel, além de incentivar o uso de diesel verde e de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês). A nova lei traz mais previsibilidade para toda a cadeia e estimula a expansão da produção de combustíveis limpos.

O Brasil conta, atualmente, com 25 plantas de etanol de milho em operação, 18 em construção e 19 em fase de projeto. Somadas, as unidades poderão elevar a capacidade instalada para 24,7 bilhões de litros de etanol de milho até 2034, processando cerca de 56,6 milhões de toneladas do grão, estima a Datagro, consultoria agrícola.

Segundo Felli, o grupo AGCO já possui tratores que operam 100% com biodiesel, mas o principal desafio ainda é a limitação da cadeia de fornecimento, já que o biodiesel compete com a produção de alimentos e, por isso, sua disponibilidade é menor.

“No entanto, no Brasil, o uso do biodiesel vem crescendo gradualmente, com o aumento dos percentuais obrigatórios de mistura ao diesel ano após ano. Essa é uma tecnologia totalmente dominada e disponível. O primeiro passo é o biodiesel; o segundo, o etanol”, diz o executivo.

O grupo AGCO reúne as marcas Massey Ferguson, Fendt, Valtra e PTx, esta última voltada para o desenvolvimento tecnológico. Em 2023, a companhia adquiriu 85% da divisão agro da Trimble, empresa de tecnologia que atua nos setores de automação e telemetria. Dessa operação nasceu a joint venture PTx.

O executivo não detalhou o valor dos investimentos destinados ao desenvolvimento da nova tecnologia para os tratores.

Na Agrishow deste ano, as concorrentes John Deere Brasil e Grunner apresentaram protótipos de tratores movidos a etanol.

Etanol no agro

Na avaliação de Luis Felli, a adoção de combustíveis renováveis no campo dependerá principalmente da viabilidade econômica. Segundo ele, o agricultor só fará a transição se enxergar retorno financeiro ou se houver estímulos legais.

Para o executivo, o avanço do uso de etanol na agricultura estará condicionado à disponibilidade do combustível e à existência de um marco regulatório adequado, como o estabelecido pela Lei Combustível do Futuro.

“Hoje, o que realmente importa para o produtor é o custo por hectare — e, nesse cálculo, o etanol tende a ser mais econômico, mesmo que o consumo em litros seja maior”, afirma Felli.

A Datagro projeta, para a safra 2025/26, uma produção de 26 bilhões de litros de etanol de cana e 10,2 bilhões de litros de etanol de milho.

*O repórter viajou a convite do grupo AGCO

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