Painel do Congresso Mundial da Carne: Trump , cria situações que são problemas comerciais e não comerciais, gerando mais volatidade, diz Marcos Jank, professor do Insper (Balbino Agro Filmes/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 06h05.
Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 06h51.
CUIABÁ* Produtores, empresas e governos estão de olho no encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder chinês, Xi Jinping, marcado para quinta-feira, 30, uma reunião que pode ter impactos diretos para o agro do Brasil. No Congresso Mundial da Carne, que acontece em Cuiabá (MT), a reunião entre os dois líderes domina as conversas e os painéis.
“Trump negocia com o Brasil, mas também está em tratativas com a China. As relações entre os EUA e a China podem afetar a nossa realidade, pois o país asiático tem comprado grandes volumes do Brasil, principalmente carne”, afirmou à EXAME Marcos Jank, professor do Insper Agro.
De janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou 1,15 milhão de toneladas de carne bovina para a China, gerando US$ 6,06 bilhões em receita, o que representa 47% do volume e 49% do valor total exportado, mostra levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
Na avaliação do professor, a reunião entre Trump e Jinping nesta quinta-feira é a "mais preocupante" de todas. Segundo ele, o que está em jogo não é apenas um acordo, mas seis commodities nas quais EUA e Brasil são concorrentes, como soja, milho, carne bovina, carne suína, carne de frango e algodão.
"Uma das coisas mais perigosas que existem são as cotas tarifárias. Lidamos com elas em diversas situações, e elas limitam o volume, por exemplo, você só consegue exportar dentro de certos limites. Eu realmente não acredito que a China vá seguir essa direção, mas muitos países adotam esse tipo de medida hoje em dia", diz.
Mais otimista, Caio Penido, presidente do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac), acredita que a reunião não deve impactar o Brasil. Segundo o executivo, mesmo com as tarifas de Trump sobre a carne bovina brasileira, a diversificação de mercados mitigou possíveis impactos sobre a cadeia pecuária.
“O Brasil abriu novos mercados: Indonésia, Filipinas, Vietnã, e estamos trabalhando com Japão, Coreia do Sul e outros países da América Latina, como Paraguai, Uruguai, México e Argentina, que começaram a comprar mais carne brasileira. Os efeitos das tarifas foram muito menores do que o impacto de outras questões que surgiram nesse período”, afirma.
Francisco Castro, produtor rural de Ronanópolis (MT) e presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), acredita que o momento é de cautela. Segundo o agricultor, o papel do Brasil neste contexto é manter uma postura cordial com todos os outros países.
“Nunca é bom viver em um ambiente instável, onde não se sabe até que ponto uma guerra tarifária pode escalar. Mantendo a cordialidade com os outros países, aqueles que se indisponham com os Estados Unidos e vice-versa, o Brasil está aqui para atender”, diz.
Um dos efeitos colaterais envolve a questão da soja. Com a guerra comercial, a China deixou de comprar o grão dos EUA e aumentou suas importações da soja brasileira e também da Argentina.
A China está há 28 semanas sem adquirir soja dos Estados Unidos. Nesse período, o país asiático aumentou suas compras do grão brasileiro e argentino.
Entre janeiro e agosto de 2025, os embarques americanos para a China caíram 78% em relação ao mesmo período de 2024, somando 5,94 milhões de toneladas. Os dados são da American Farm Bureau Federation (AFBF), uma das principais entidades agrícolas dos EUA.
Na direção oposta, as exportações brasileiras para a China cresceram 12,3% no mesmo intervalo, alcançando 73 milhões de toneladas — tendência que deve continuar nos próximos meses. Além da oleaginosa, o país asiático comprou mais milho da Rússia e do Brasil.
“Não existe comércio totalmente livre. O que buscamos é equidade. O objetivo dos Estados Unidos não é vantagem injusta, mas condições equilibradas”, afirmou Ted McKinney, ex-subsecretário de Comércio do Departamento de Agricultura dos EUA.
Nesta terça, o The Wall Street Journal disse que o encontro entre Trump e Xi Jinping na quinta-feira deve tratar de um acordo comercial que reduzirá as tarifas norte-americanas sobre produtos chineses em troca do compromisso de Pequim de conter as exportações de precursores químicos do fentanil.
*O repórter viajou a convite do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac).