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Nos EUA, deputados americanos pedem isenção de tarifas para o café — especialmente o brasileiro

Congressistas afirmam que fim das tarifas ao café protegeria os empregos no país e a indústria cafeeira, que depende de importações

 (Ricardo Mendoza Garbayo/Getty Images)

(Ricardo Mendoza Garbayo/Getty Images)

Publicado em 23 de julho de 2025 às 17h03.

Última atualização em 23 de julho de 2025 às 17h34.

Deputados americanos emitiram uma carta com apoio bipartidário ao chefe da agência comercial dos Estados Unidos, a USTR, pedindo a isenção do café das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump para diversos países e de outras que possam ser anunciadas pelo governo no futuro. O Brasil é o maior fornecedor de café para os EUA.

Na carta, a deputada democrata Jill Tokuda, do Havaí, e o deputado republicano William Timmons, da Carolina do Sul, presidentes do Congressional Coffee Caucus (uma comissão que trata de assuntos de café no Congresso), disseram ao representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, indicado por Trump, que uma isenção protegeria os empregos no país e apoiaria a indústria cafeeira, que depende de importações.

"O café é mais do que um ritual diário para milhões de americanos – ele é um pilar vital da nossa economia e das comunidades locais", diz a carta (leia a íntegra), que contou com a assinatura de outros dez membros do Congresso americano.

Como a EXAME mostrou, a tarifa anunciada por Trump ao Brasil teria um impacto significativo para os consumidores da bebida do país — e o lobby setorial se organiza para tentar isentar o produto da sobretaxação.

Um estudo da Nacional Coffee Association (NCA), apresentado pelos congressistas, mostra que o café gera significativa riqueza nos EUA, já que o país importa o grão e agrega valor por meio da industrialização. Cerca de 76% dos americanos consomem café.

Para cada dólar de café importado, são gerados US$ 43 na economia americana. Isso representa 2,2 milhões de empregos, o que equivale a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, segundo o estudo da NCA.

A pesquisa também destaca que a indústria de café contribui com US$ 343 bilhões para a economia norte-americana.

Como os EUA dependem em mais de 99% das importações de café verde para sustentar a demanda interna, as tarifas sobre o café aumentarão os preços em toda a indústria cafeeira americana entre comerciantes e torrefadores, com os consumidores sendo afetados pelos preços mais altos.

Tarifa de Trump

A carta a Greer foi enviada menos de duas semanas antes de Trump anunciar uma tarifa de 50% sobre as importações do Brasil — que abastece aproximadamente 30% do mercado de café verde dos EUA —, com entrada em vigor prevista para 1º de agosto.

“Ao contrário de muitos outros produtos afetados pelas tarifas recentes, o café não é produzido nos Estados Unidos em uma escala que possa atender à demanda interna”, diz a carta a Greer.

“Embora pequenas quantidades de café, predominantemente especial, sejam cultivadas no Havaí e em Porto Rico, sua produção combinada representa menos de 1% do consumo de café dos EUA.”

A produção de café verde nos EUA enfrenta desafios para crescer, pois esse produto requer condições tropicais específicas e de alta altitude para ser cultivado.

“Como não há um substituto doméstico viável, as tarifas sobre o café importado criam desafios para o setor”, diz a carta.

Segundo o documento, 66% dos americanos consomem café todos os dias, tornando-o a bebida mais popular do país. Além de fazer parte da rotina das pessoas, o produto se tornou um "pilar vital da economia e das comunidades locais".

"Nacionalmente, a indústria do café sustenta mais de 2,2 milhões de empregos americanos, gera mais de US$ 100 bilhões em salários e contribui com cerca de US$ 343 bilhões em produção econômica por ano", acrescentam os deputados no texto.

Brasil é o maior exportador de café para os EUA

Além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil responde por 30% do market share de café nos EUA, segundo dados do Departamento de Estatísticas dos EUA, o que o posiciona como principal fornecedor do grão para o país, especialmente do tipo arábica. Em 2024, 83% do café desembarcado nos EUA era arábica.

No ano passado, os EUA representaram 16,1% de todas as exportações de café do Brasil, correspondendo, em termos de receita, a cerca de US$ 2 bilhões.

Com a taxação de Trump, países como Vietnã e Colômbia, que ocupam o segundo e o terceiro lugar, respectivamente, na produção global, não têm capacidade para oferecer uma quantidade significativa de café aos EUA, que têm uma demanda anual de 24 milhões de sacas.

No caso do Vietnã, a produção é majoritariamente do tipo canéfora.

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