Rubico de Carvalho: Natural de Prata (MG), ele descendia de uma família com tradição na criação de gado (Acervo MZ)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 9 de novembro de 2025 às 06h05.
O confinamento de bovinos no Brasil deve alcançar cerca de 11 milhões de animais em 2025, superando a estimativa inicial de 9 milhões, segundo a Associação Nacional dos Confinadores (Assocon). O aumento, impulsionado por fatores de mercado como a queda nos preços dos grãos, a valorização da arroba e o uso de ferramentas de fixação antecipada de preços, reflete a expansão e a profissionalização da pecuária de corte no país.
Com um rebanho de 238 milhões de cabeças, segundo o IBGE, o Brasil mantém-se entre os maiores produtores de carne bovina do mundo. Em 2024, toda a cadeia produtiva da pecuária de corte (do insumo ao varejo) movimentou aproximadamente R$ 987 bilhões, um aumento de 5,4% em relação a 2023.
Parte dessa trajetória está ligada à atuação de Rubens Andrade de Carvalho, mais conhecido como Rubico Carvalho, empresário que teve papel decisivo na modernização e expansão da pecuária nacional.
O aprimoramento do nelore e o avanço da pecuária de corte brasileira estão diretamente relacionados à história de Rubico. Natural de Prata (MG), ele descendia de uma família com tradição na criação de gado zebu.
Seu pai, Francisco José de Carvalho, foi um dos pioneiros na importação da raça nelore para o Brasil, em 1918, especialmente para a região do Triângulo Mineiro, que já se destacava pela força da pecuária zebuína.
Dois anos depois, em 1920, Francisco José registrou sua marca no Ministério da Agricultura, na então capital federal, Rio de Janeiro, consolidando oficialmente sua atuação no setor.
Seguindo o legado familiar, Rubico Carvalho estabeleceu-se em Barretos (SP) em 1948, onde criou a Fazenda Brumado, que se tornaria uma das seleções mais renomadas do país. Foi ali que deu continuidade ao trabalho de melhoramento do nelore e, posteriormente, liderou a introdução do gado Brahman no Brasil.
O Brahman é uma raça originária dos Estados Unidos, desenvolvida a partir do cruzamento de diferentes linhagens de gado zebu importadas da Índia — principalmente das raças Guzerá, Gir, Nelore e Krishna Valley.
Reconhecido por sua resistência ao calor, adaptação ao clima tropical e eficiência produtiva, o Brahman tornou-se uma das principais raças zebuínas da pecuária de corte brasileira.
A entrada oficial do gado Brahman no Brasil ocorreu em 1994, durante a 5ª fase das importações zebuínas. O processo contou com o apoio da Associação Brasileira dos Criadores de Brahman (ABBA), que desenvolveu uma estratégia de divulgação para apresentar a raça ao mercado nacional e internacional.
O Brahman chegou ao país registrado e selecionado pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), tendo como destino inicial a Fazenda Brumado, em Barretos (SP), propriedade de Rubico Carvalho.
Além dele, outros criadores e empresas agropecuárias — entre eles Manoel Garcia Cid, Carlos Eduardo Quartim Barbosa e John Jeffcoat — tiveram papel importante na introdução e consolidação da raça no Brasil.
Na década de 1990, o rebanho Brahman da Fazenda Brumado foi o primeiro a integrar o Programa de Melhoramento Genético da USP, em Ribeirão Preto, um marco para o avanço da genética bovina no país.
O uso de tecnologias como a Fecundação In Vitro (FIV) elevou significativamente a taxa de natalidade dos bezerros e acelerou o progresso genético da raça. A partir de 1997, criadores dos Estados Unidos passaram a investir no Brasil, ampliando o intercâmbio técnico e impulsionando ainda mais o desenvolvimento do Brahman nacional.
Atualmente, o gado Brahman é uma das principais raças zebuínas da pecuária brasileira, com papel crescente na produção de carne de corte de alta qualidade. Sua adaptação ao clima tropical, resistência a parasitas e eficiência produtiva o tornaram uma escolha estratégica para diversas regiões do país.
O Brahman brasileiro também exerce grande importância genética na melhoria do rebanho nacional, sendo amplamente utilizado em cruzamentos industriais com raças taurinas, como Angus e Hereford, o que resulta em animais com carne de melhor qualidade e maior rendimento.
Rubico Carvalho faleceu em 18 de julho de 2009, em Barretos (SP), aos 92 anos.