(New Holland/Divulgação)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 21 de março de 2025 às 06h04.
O aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), para 14,25% ao ano, pode frustrar os planos do governo de um Plano Safra 2025/26 maior que o de 2024. A avaliação é de agentes econômicos, que afirmam que o custo para investir na próxima safra pode se tornar ainda maior.
Tanto o Ministério da Fazenda quanto o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) afirmam que o próximo ano-safra, que vai de 1º de junho de 2025 a 30 de maio de 2026, deve contar com um Plano Safra recorde, superior ao do ano anterior. Na temporada 2024/25, o governo disponibilizou R$ 441,3 bilhões para o plano.
"Se o governo quiser manter o Plano Safra grande e com baixa taxa de juros, será necessário alocar muito mais dinheiro do orçamento, o que, até o momento, não está disponível. Para isso, teria que retirar recursos de outras áreas, o que sabemos que pode ser um grande desafio", diz Guilherme Soria Bastos, coordenador do FGV Agro.
O relatório final do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2025, votado pelo Congresso nesta quinta-feira, 20, não prevê um reforço nos valores destinados a essas operações pelo Tesouro Nacional. Assim, os recursos permaneceram em R$ 15,03 bilhões, mesmo patamar do ano passado.
Na visão de Bastos, com um custo de capital mais alto, há um efeito cascata em todo o setor do agronegócio, já que muitas empresas e grupos do setor podem ser levados a uma situação de estresse financeiro. "Isso é ruim para toda a cadeia do agro, pois o aumento da taxa de juros acaba afetando todas as etapas dessa cadeia", afirma o coordenador.
O Plano Safra, principal política pública agrícola do Brasil, depende de linhas de crédito subsidiadas para financiar a produção agropecuária e apoiar os produtores rurais na aquisição de insumos, sementes, máquinas e equipamentos. Quando as taxas de juros estão altas, o custo do crédito aumenta, mesmo para as linhas subsidiadas.
Isso ocorre porque, embora o governo ofereça juros mais baixos para os produtores, a taxa básica de juros influencia diretamente a rentabilidade dessas linhas. Com juros elevados, as instituições financeiras podem repassar parte desses custos ao setor agrícola, tornando o financiamento mais caro e mais difícil de ser acessado.
"A intensidade do impacto depende de quanto a matriz de recursos depende de fontes de mercado ou do governo: os grandes produtores já estão adaptados a um custo médio mais elevado; os pequenos continuarão a ser subsidiados", diz José Carlos Vaz, consultor jurídico, ex-secretário de política agrícola e ex-diretor de agronegócios do Banco do Brasil.
Segundo Vaz, há um efeito direto nas contas públicas, já que o governo precisará gastar mais com a equalização (subsídio) das taxas de crédito rural para pequenos e médios produtores, além de operações de investimento e apoio às cooperativas de produção.
O problema, contudo, está no cenário macroeconômico. Além dos juros elevados, o governo tenta implementar várias medidas para mitigar o aumento do preço dos alimentos, uma situação apontada pelo Palácio do Planalto como uma das principais causas da queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Com uma safra mais cara para o produtor, os custos podem ser repassados ao consumidor final, que poderá enfrentar preços ainda mais altos nos alimentos.
"O acesso ao crédito se torna cada vez mais difícil, especialmente para pequenos e médios produtores que dependem de financiamentos para custear a safra, investir em maquinário e tecnologia. Os custos de produção seguem elevados, pressionando a rentabilidade dos produtores", afirma Wolney Arruda, presidente do Banco Plantae.
Na avaliação de David Télio, diretor de Novas Estruturas Financeiras da TerraMagna, mesmo diante de um cenário de juros altos, o governo pode encontrar algumas saídas, como a isenção de impostos e garantias às instituições financeiras.
"Uma solução para aliviar o cenário de custos altos e restrições de crédito seria o governo isentar de IOF todas as operações de financiamento que envolvam a cadeia da agroindústria. No mercado de crédito privado, o Tesouro Nacional poderia oferecer uma garantia de primeiras perdas aos bancos que financiarem o agronegócio, aliviando as restrições de crédito", diz Télio.
Segundo o diretor, ao isentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em financiamentos relacionados à cadeia agroindustrial — que inclui desde a produção agrícola até a transformação e comercialização dos produtos — o governo diminuiria o custo desses financiamentos, tornando o crédito mais barato para os produtores e empresários do setor.
Já a garantia de perdas comprometeria a cobertura das primeiras perdas financeiras caso os financiamentos não sejam pagos, o que reduziria o risco para os bancos.
Alguns atores políticos estão se mobilizando para levar ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) propostas de um Plano Safra maior na próxima temporada. O estado do Paraná, por exemplo, sugeriu um valor de R$ 597,1 bilhões para cobrir as necessidades de crédito, investimentos e garantias aos produtores.