Xícara de café: bebida teve alta de preço em 2024 (Carolina Gehlen/Exame)
Publicado em 17 de maio de 2025 às 08h00.
Desde o ano passado, os preços de alimentos como café, cacau e azeite de oliva tiveram altas fortes para os consumidores, em vários países do mundo. Enquanto isso, outros itens, como trigo e milho, se mantiveram mais estáveis.
A FAO, departamento da ONU para alimentação e agricultura, aponta que o preço do café, globalmente, subiu 38,8% ao longo de 2024, por exemplo.
A alta constante do preço da comida foi captada pelo FAO Food Price Index, um indicador que monitora o preço dos principais alimentos ao redor do mundo. Esse índice determinou o preço médio dos alimentos entre 2014 e 2016 como base, de valor 100. Desde outubro de 2020, o indicador nunca mais ficou abaixo de 100 e teve recorde em 2022, quando bateu em 160,2, no começo da guerra contra a Ucrânia. Em março deste ano, fechou em 127,1, quase 7 pontos a mais do que em março de 2024.
Monika Tothova, economista sênior da a FAO, explica que os alimentos podem ser divididos em três categorias: alimentos plantados em várias partes do mundo e exportados em larga escala, como trigo e milho, itens produzidos em muitos países, mas com menor exportação, como o arroz, e produtos com cultivo concentrado em poucos lugares, caso do café.
“Houve rápido aumento dos preços internacionais do cacau e do café devido a restrições de oferta e à forte demanda global contínua. Essas duas commodities compartilham características comuns: são produtos de árvores perenes, não têm substitutos e suas produções estão relativamente concentradas em poucos países. Os preços internacionais do chá também aumentaram”, diz Tothova em entrevista à EXAME.
“A produção dessas commodities está sujeita a condições climáticas e surtos de doenças em locais muito específicos, e a queda na produção não pode ser compensada pelo aumento da produção em outros lugares”, afirma.
Ela aponta que, mesmo na presença de choques climáticos, as commodities cultivadas em todo o mundo – por exemplo, trigo e milho – tendem a se manter estáveis. “Um grande choque externo, como o início da guerra na Ucrânia, resultou em um aumento repentino de preços, mas a situação acabou se estabilizando. Em março de 2025, os preços do trigo estavam cerca de 4% mais baixos do que há um ano, enquanto os preços do milho estavam cerca de 8% mais altos. Nos últimos 12 meses, os preços globais de referência do trigo oscilaram entre US$ 250 e US$ 290 por tonelada”, diz.
“Mercados relativamente concentrados, como o arroz, do qual apenas uma parcela relativamente pequena é comercializada internacionalmente, têm maior probabilidade de sofrer ajustes repentinos de preços como resultado da política comercial. O óleo de palma se enquadra em uma categoria semelhante”, prossegue.
Tothova aponta que, nas últimas décadas, houve quatro períodos de alta de preços de commodities alimentícias. O primeiro ocorreu na década de 1970, coincidindo com o choque do petróleo. Mais recentemente, houve um aumento em 2007/08 e novamente em 2011. Desde maio de 2020, os preços internacionais da maioria das commodities agrícolas têm subido de forma constante, com muitas atingindo máximas históricas no primeiro semestre de 2022.
“Esses aumentos surgiram devido a uma combinação de fatores, incluindo condições climáticas desfavoráveis nos principais países produtores, forte demanda, inclusive do setor de biocombustíveis, estoques em declínio e medidas comerciais restritivas”, afirma.
A economista diz ainda que os governos precisam ter cuidado ao agir para tentar baixar os preços. “Tentar reduzir os preços das commodities alimentares – como estabelecer preços máximos – pode efetivamente desestimular a produção. Os governos optam frequentemente por subsidiar os agricultores para reduzir os custos de produção das commodities alimentares, o que pode levar a preços mais baixos para os consumidores”, diz.
“Às vezes, os governos optam por impor controles ou limites de preços em alimentos essenciais para evitar aumentos de preços: geralmente, essa não é a maneira mais eficiente de avançar. Em vez disso, fornecer assistência direcionada às populações vulneráveis, como por meio de transferências de renda, geralmente funciona melhor. Reduzir tarifas sobre alimentos importados pode tornar os produtos alimentícios estrangeiros mais acessíveis, aumentando a oferta e reduzindo os preços”, prossegue.
Ela sugere ainda que financiar pesquisas sobre tecnologias e práticas agrícolas que aumentem a produtividade e reduzam os custos pode ajudar a reduzir os preços dos alimentos a longo prazo, assim como aumentar a eficiência das cadeias de suprimentos alimentares para reduzir os custos de transporte e armazenamento. “Da mesma forma, incentivar a competição entre produtores e varejistas pode evitar monopólios”, diz.