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Por que o agro brasileiro está de olho no encontro entre Trump e Putin?

Presidentes se reúnem no Alasca, nos EUA, para tratar sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia — e produtores brasileiros antecipam potenciais punições por alto nível de importação de fertilizante russo

Trump e Putin: encontro pode ter desdobramento para o agro brasileiro (Mikhail Svetlov/Getty Images)

Trump e Putin: encontro pode ter desdobramento para o agro brasileiro (Mikhail Svetlov/Getty Images)

Publicado em 15 de agosto de 2025 às 11h18.

Última atualização em 15 de agosto de 2025 às 11h55.

O agronegócio brasileiro está atento aos desdobramentos do encontro entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, que ocorre na tarde desta sexta-feira, 15.

Tanto Trump quanto os congressistas americanos querem pressionar parceiros de Moscou para forçar um acordo de paz na Ucrânia.

O receio de parlamentares e produtores brasileiros é que, caso as conversas não avancem para abrir um caminho para a paz, o Congresso e o Executivo americanos reforcem ações contra os parceiros comerciais da Rússia — o que poderia afetar o Brasil, grande importador de fertilizante russo.

Segundo relatos de senadores que viajaram em comitiva para Washington no fim de julho, deputados e senadores americanos, tanto republicanos quanto democratas, pediram ao Brasil que "revisasse a relação" com a Rússia.

O senador Nelsinho Trad (PSD), presidente da Comissão de Comércio Exterior, teve um encontro com o vice-presidente, Geraldo Alckmin, para alertar sobre o risco de uma sobretaxa por causa da relação comercial com a Rússia.

Taxa de 500% por compras da Rússia

Um projeto de lei americano, com apoio quase unânime do Senado dos Estados Unidos, propõe tarifas de até 500% sobre importações de países que compram petróleo, gás e urânio da Rússia.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) também indicou, em comunicado, que Brasil, China e Índia podem enfrentar medidas punitivas caso mantenham os atuais níveis de comércio com a Rússia. A Índia foi taxada em 50% em função da compra de petróleo russo.

A grande preocupação do agronegócio é a dependência brasileira dos fertilizantes russos, o principal fornecedor desse insumo para o país.

No primeiro semestre de 2025, o Brasil comprou 6,6 milhões de toneladas, segundo dados da consultoria agrícola Stonex. Em 2024, o volume foi de cerca de 10 milhões de toneladas.

"O agro brasileiro está acompanhando as negociações. O temor é uma sanção contra compradores da Rússia. Cerca de 30% dos fertilizantes usados no Brasil vêm da Rússia, e seria difícil substituir por outra origem", afirma Welber Barral, sócio-fundador da BMJ Consultores Associados e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil.

O Brasil importa aproximadamente 85% dos fertilizantes usados nas lavouras de soja, milho, algodão e outras culturas. No entanto, a soja brasileira, principal commodity do país, depende majoritariamente do insumo russo.

"Além dos fertilizantes, o Brasil depende do diesel russo para as operações de máquinas e equipamentos no setor agropecuário", diz Arnaldo Jardim, deputado e vice-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA). "Ou seja, temos dois elementos fundamentais para o agro que podem enfrentar uma situação de impasse devido a essas negociações."

Em 2024, o Brasil importou US$ 5,4 bilhões em diesel russo — um dos países de quem mais importamos o produto no período. Foi o maior nível de importação na série histórica da balança comercial, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Atualmente, o Brasil está entre os principais compradores do diesel russo.

Proibida de exportar para a Europa desde o início da guerra na Ucrânia, Moscou buscou mercados alternativos para escoar o produto, com preços abaixo do mercado.

Para Tomás Pernias, analista da StoneX, caso os EUA indiquem a possibilidade de sancionar o Brasil devido à dependência de fertilizantes russos, o agronegócio brasileiro deve sentir os impactos já na safra 2025/26.

"O Brasil teria que buscar outros fornecedores, como os países do Oriente Médio e a Argélia (para os nitrogenados) e o Marrocos (para os fosfatados). No entanto, os volumes importados pelo Brasil são muito grandes, o que dificulta a tarefa de redirecionar toda essa demanda para novos fornecedores", afirma.

Em 2024, o Brasil importou 45,6 milhões de toneladas de fertilizantes, segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).

O Mato Grosso, um dos principais produtores de soja do país, concentrou o maior volume, representando 21,4% do total, com 9,77 milhões de toneladas.

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