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Por que o CEO da AGCO está otimista com o setor de máquinas agrícolas em 2026

Eric Hansotia acredita que o próximo ano será de recuperação

CEO do grupo AGCO: a agricultura é cíclica, diz (AGCO/Divulgação)

CEO do grupo AGCO: a agricultura é cíclica, diz (AGCO/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 27 de novembro de 2025 às 08h51.

Última atualização em 27 de novembro de 2025 às 09h39.

*HANNOVER, ALEMANHA Eric Hansotia, CEO global do grupo AGCO, fabricante de máquinas e equipamentos agrícolas, está otimista com 2026.

Depois de um 2025 marcado pela baixa rentabilidade do produtor, agravada pelas incertezas envolvendo China e Estados Unidos, o próximo ano deve ser melhor para o agronegócio global, acredita o executivo.

“A agricultura é cíclica, e acreditamos que o mercado global atingirá seu ponto mais baixo ao final de 2025. À medida que o mercado começar a se recuperar em 2026, acompanharemos essa recuperação”, diz.

Fundado em 1990, o grupo AGCO reúne as marcas Valtra, Massey Ferguson, Fendt e PTx — esta última, o braço de tecnologia do conglomerado. A empresa atua na Europa, nos Estados Unidos e na América Latina, onde Brasil e Argentina estão entre seus principais mercados.

A previsão para este ano é de que o faturamento alcance 9,8 bilhões de dólares; no ano passado, o grupo registrou 11,7 bilhões de dólares. Para 2026, a previsão de receitas virá em dezembro.

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) projeta um crescimento de 3,4% para o setor no país. Segundo Hansotia, nem mesmo as eleições presidenciais brasileiras de 2026 devem abalar seu otimismo.

“No Brasil, o agro é um grupo muito importante. Por isso, independentemente de quem vença, haverá muitos debates e propostas que continuarão a apoiar os agricultores”, afirma.

Leia a entrevista completa:

Os resultados do último trimestre vieram mais fracos, mas melhores do que vocês esperavam. O que isso representa?

A agricultura é um setor cíclico, e acreditamos que o negócio global está no nível mais baixo do ciclo — o que chamamos de ‘fundo do poço’. 2025 será provavelmente o ponto mais baixo. Já 2026 deve trazer uma pequena recuperação, ficando um pouco melhor que 2025. Esses ciclos acontecem basicamente por causa da baixa rentabilidade do produtor. O preço dos grãos está baixo, enquanto os custos de insumos — como fertilizantes, combustível e outros — subiram. Isso comprime a margem de lucro do agricultor. Além disso, há muita incerteza no mercado. A China é uma das maiores importadoras de grãos e, em vez de comprar dos Estados Unidos como faz normalmente, tem importado mais da América do Sul. Agora, um acordo foi firmado entre EUA e China para que a China retome as compras do agricultor americano. Todos esses fatores estão acontecendo simultaneamente para produtores do mundo inteiro, o que fez muitos deles reduzirem investimentos. Nossa missão agora é: quando o mercado começar a se recuperar em 2026, queremos acompanhar esse movimento.

Você citou as incertezas. Como as tarifas americanas afetaram a AGCO?

As tarifas nos afetam de duas maneiras. A primeira é pelo lado dos custos — quando componentes ou máquinas passam de um país para outro, incidem tarifas. Temos uma enorme planilha onde controlamos cada peça que compramos, de onde ela vem, para onde vai, onde montamos o equipamento e para onde exportamos. Com isso, calculamos as tarifas aplicadas por Alemanha, Japão, Índia e outros países, e estimamos o custo total. É um bloco de custos que precisamos administrar. A segunda parte é como lidamos com isso no mercado. Fazemos três coisas: Trabalhamos com nossos fornecedores para ajustar processos e compras; realocamos parte da produção para outros países, quando faz sentido e automatizamos processos quando é possível. No total, vamos cortar 200 milhões de dólares da nossa estrutura de custos, em um universo de 1 bilhão de dólares. No fim, ainda teremos de repassar uma pequena parte desses custos ao mercado, mas estamos tentando diluir esse repasse ao máximo para que o impacto por produtor seja o menor possível. Até agora, o impacto das tarifas tem sido administrável.

Você mencionou volatilidade global, China e EUA. No próximo ano, haverá eleições no Brasil, que sempre trazem incertezas. Como a AGCO se prepara para competir nesse cenário?

No Brasil, a agricultura é um grupo extremamente relevante. Independentemente do partido ou candidato, todos sabem que precisam manter o produtor rentável, sustentável e viável — ninguém pode perder o voto do agricultor. Por isso, acreditamos que haverá discussões e políticas de apoio ao setor, independentemente do resultado. Isso é especialmente importante no Brasil, onde há programas de subsídio à taxa de juros que, historicamente, são mantidos por todos os governos. Nos últimos ciclos, nunca foram interrompidos. Nossa expectativa é de continuidade desses programas, porque eles são essenciais para o país.

Como lidar com os juros altos no Brasil? A questão é um grande desafio, especialmente para médios e grandes produtores — mas também para os pequenos

Os juros são como qualquer outro desafio de outros anos: sempre há algum fator que pressiona o produtor. Nosso foco é ajudá-lo a ser mais lucrativo. Isso aparece em nossos produtos, claro, mas também na nossa rede de distribuição — garantindo alto nível de disponibilidade de peças, por exemplo.Lançamos recentemente uma operação de remanufatura na América do Sul, onde pegamos componentes usados das máquinas, reformamos até o padrão original de fábrica e os colocamos de volta no mercado a um preço bem mais baixo. Também ajudamos nossos concessionários a serem mais proativos na manutenção. O maior problema para qualquer agricultor é o tempo de máquina parada. Quanto mais conseguimos manter o equipamento funcionando, mais rentável ele será.

Antes da entrevista começar, você disse que como corporação a AGCO está com as atenções voltadas para a sustentabilidade. O agricultor está realmente no tema das mudanças climáticas?

Os agricultores, em qualquer lugar do mundo, estão entre os profissionais mais conectados ao clima. A vida deles depende do clima — e eles percebem claramente que os eventos extremos estão ficando mais frequentes e intensos. Além disso, eles se preocupam muito com a saúde do solo. A agricultura é uma atividade multigeracional — as famílias querem passar a propriedade para os herdeiros em boas condições. Portanto, proteger o solo e o ar faz parte do trabalho. Falando de práticas sustentáveis: a agricultura tem um enorme potencial para capturar carbono da atmosfera pela fotossíntese e armazená-lo no solo. Isso melhora o ambiente e também beneficia o agricultor, porque a matéria orgânica aumenta. Sobre motores: avaliamos várias alternativas ao diesel. Baterias funcionam para máquinas de baixa potência, mas ainda são muito caras e pesadas. Vemos os biocombustíveis como uma excelente solução. Nossos motores já são projetados para rodar com diesel ou biocombustíveis, ou qualquer mistura entre eles. Também estudamos etanol — especialmente no Brasil —, metano e, no longo prazo, hidrogênio, embora este último ainda demore a se consolidar.

Como executivo de um grupo de máquinas e equipamentos agrícolas, qual o futuro do setor?

Acreditamos em ecossistemas de máquinas inteligentes. As máquinas têm sensores que otimizam seu próprio desempenho. No geral, máquinas inteligentes ajudam todos os agricultores. Alguns irão migrar para autonomia; outros não. Acreditamos que inteligência embarcada é um movimento maior e mais transformador do que eletrificação ou outras tendências. É sobre tornar as máquinas capazes de realizar tarefas complexas com precisão crescente.

*O repórter viajou a convite do grupo AGCO

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