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Por que o estado com mais gado do que gente quer vender carne no Japão

Pais asiático deve ser o próximo a anunciar a abertura para a carne bovina brasileira

Carne bovina no Mato Grosso: estado tem mais gado do que habitantes: são 32 milhões de cabeças, contra 3,8 milhões de pessoas, diz IBGE (Freepik/Divulgação)

Carne bovina no Mato Grosso: estado tem mais gado do que habitantes: são 32 milhões de cabeças, contra 3,8 milhões de pessoas, diz IBGE (Freepik/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 29 de outubro de 2025 às 15h03.

Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 17h31.

CUIABÁ* O anúncio do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, de que o Japão "está prestes a abrir o mercado para a carne bovina do Brasil" é estratégico para os produtores de Mato Grosso. O estado tem mais gado do que habitantes: são 32 milhões de cabeças, contra 3,8 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse número coloca Mato Grosso como o maior rebanho de gado do país, enquanto o Brasil totaliza 238 milhões de cabeças.

Para esses pecuaristas, a abertura do mercado japonês representa um marco não apenas para o mercado global, mas também para o estado. Segundo eles, em razão da rigidez do Japão nas questões sanitárias, conseguir a liberação para exportar para o país asiático demonstra que a carne brasileira é segura, o que abre portas para outros mercados.

"Conquistar o mercado japonês é quase como obter a certificação mais complexa e difícil do mundo. É um mercado extremamente relevante, que oferece credibilidade global, já que os japoneses valorizam muito esse produto", diz Caio Penido, presidente do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac).

Não é de hoje que o Brasil tenta vender carne bovina para o Japão. O processo começou há mais de 25 anos, mas sempre esbarrou em questões sanitárias ou em pedidos que não avançaram. Uma das condições impostas era que o Brasil obtivesse a certificação de área livre de febre aftosa sem vacinação, o que ocorreu no início deste ano.

Em janeiro, Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), afirmou à EXAME que a meta do setor para 2025 era conquistar quatro mercados: Japão, Turquia, Vietnã e Coreia do Sul, que juntos representam cerca de 30% da demanda global por carne bovina.

Até o momento, apenas o Vietnã abriu seu mercado para a carne brasileira, enquanto Turquia e Coreia do Sul estão em fase de negociações técnicas. O Japão deve ser o próximo a anunciar a abertura.

Além de reforçar a imagem de rigor sanitário, o mercado japonês também é atraente pelo alto valor pago. Amarildo Merotti, diretor regional da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimati) e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado, destaca que, por valorizar tanto a carne bovina, o Japão oferece um valor agregado significativo à proteína brasileira.

"O Japão oferece um valor agregado significativo no preço dos animais e da nossa carne. Eles valorizam muito o produto, pois é um país muito rico. Assim, ao acessar esse mercado, conseguimos obter uma remuneração diferenciada", afirma o executivo.

Os principais fornecedores de carne bovina para o Japão são os Estados Unidos e a Austrália, que dominam o mercado de importação japonês o país é o terceiro maior importador de carne bovina do mundo. O consumo per capita de carne bovina no Japão é de 6,9 kg/ano, o que é cinco vezes menor do que nos Estados Unidos, onde o consumo é de 35 kg/ano, segundo dados do Bank of America (BofA).

“Conquistar esse mercado permitirá escoar parte do excedente de carne que temos no Brasil, já que atualmente exportamos cerca de 30% da produção. O restante depende do mercado interno, que nem sempre é satisfatório. O Japão é uma porta de entrada para outros países da Ásia e também do Oriente Médio”, afirma Merotti.

O diretor acredita que o anúncio da abertura do mercado japonês não deve ocorrer em 2025, mas sim em janeiro ou fevereiro de 2026.

Ásia e Oriente Médio

Além do Japão, a pecuária brasileira também volta seus olhos para outros países da Ásia e do Oriente Médio. A exportação de carne bovina para países muçulmanos, especialmente os países árabes, é uma das mais relevantes para o setor. Hoje, os países árabes compram cerca de 20% da carne bovina produzida no Brasil.

“Temos expectativas em relação a mercados como o Paquistão, que, com sua enorme população em crescimento, apresenta um grande consumo de carne. No entanto, apesar de ser promissor, ainda falta segurança comercial, o que torna esse mercado um pouco mais informal, semelhante à China de 20 ou 30 anos atrás”, afirma Penido, do Imac.

Na Ásia, a Indonésia habilitou, em setembro, 17 frigoríficos brasileiros para exportar carne bovina ao país. Com essa medida, 38 estabelecimentos brasileiros estão agora autorizados a atender o mercado indonésio, um aumento de 80% no número de frigoríficos habilitados.

Além do Paquistão, o setor de carne do Mato Grosso também avalia outros países com grandes populações e consumo crescente de carne, como Nigéria e Egito, que estão expandindo tanto sua população quanto a demanda por proteína.

No domingo, 2, uma delegação do Imac, composta por representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e produtores locais, embarcará para Dubai e, em seguida, seguirá para a China. O objetivo é negociar a carne bovina brasileira. "O foco está na Ásia e no Oriente Médio, pois esses mercados têm uma tendência crescente de compra e consumo", diz Penido.

*O repórter viajou a convite do Instituto Mato-Grossense da Carne (Imac).

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