O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizou que pode proibir a importação de óleo de cozinha da China como forma de retaliação à decisão de Pequim de não comprar soja americana.
A medida abre um novo capítulo na disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo, com impactos que vão além do setor agrícola — atingindo também a cadeia de biocombustíveis nos EUA, segundo informações da agência Bloomberg.
O que está em jogo?
Trump afirmou em sua conta na rede Truth Social que pretende mirar o “óleo de cozinha e outros elementos do comércio” como resposta ao que classificou como um “ato hostil” da China ao boicotar a soja americana.
O país asiático é o maior comprador global da commodity, usada principalmente para produção de ração e óleo de cozinha para consumo. Em 2024, a China importou 105 milhões de toneladas de soja.
Desse total, 71% vieram do Brasil e 21% dos EUA, respectivamente, mostram dados do TradeMap da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Desde maio de 2025, no entanto, Pequim deixou de adquirir carregamentos dos EUA, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), e tem priorizado fornecedores da América do Sul, como Brasil e Argentina. A estratégia pressiona produtores rurais americanos, um eleitorado-chave para Trump.
Por que o óleo de cozinha importa
Apesar de Trump não ter especificado, a imprensa americana acredita que o foco da ameaça esteja no óleo de cozinha usado (UCO, na sigla em inglês) — um subproduto de residências, restaurantes e fábricas de alimentos que vem ganhando importância no mercado de biocombustíveis.
O UCO pode ser transformado em diesel renovável, um combustível com baixa intensidade de carbono, cada vez mais usado nos EUA para reduzir emissões.
Os Estados Unidos se tornaram importadores líquidos de UCO em 2022, e a China é seu principal fornecedor. Só em 2024, as exportações chinesas para o mercado americano somaram 1,27 milhão de toneladas métricas.
Impacto para China e EUA
Segundo a Bloomberg, se a Casa Branca realmente interromper as compras, o efeito sobre a China deve ser limitado.
O comércio de óleo usado é bem menor que o de soja — movimenta US$ 1,2 bilhão, contra US$ 12,6 bilhões em exportações americanas de soja para o país.
Para os EUA, porém, a medida pode gerar desafios. O governo americano pretende aumentar a mistura de biocombustíveis no combustível tradicional nos próximos dois anos.
Isso exigiria ampliar a oferta de insumos como o UCO, algo difícil de suprir apenas com produção doméstica, que teria que se dividir entre o mercado de alimentação e combustíveis.