EXAME Agro

Preço da carne dispara nos EUA para R$ 130/kg — e pode piorar com tarifaço e 'praga' do México

Aumento no preço da carne nos EUA ocorre por dois motivos: clima e menor rebanho; tendência é de alta em 2026

Carne nos EUA: a carne moída teve um aumento de 3,9% em julho e uma disparada de 15,3% em seis meses. O preço médio alcançou US$ 6,34 a libra, ou R$ 75/kg, segundo dados do Bureau of Labor Statistics (BLS) dos EUA — nos EUA, 80% da carne moída consumida é utilizada para hambúrgueres (Freepik)

Carne nos EUA: a carne moída teve um aumento de 3,9% em julho e uma disparada de 15,3% em seis meses. O preço médio alcançou US$ 6,34 a libra, ou R$ 75/kg, segundo dados do Bureau of Labor Statistics (BLS) dos EUA — nos EUA, 80% da carne moída consumida é utilizada para hambúrgueres (Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 18 de agosto de 2025 às 16h48.

Última atualização em 18 de agosto de 2025 às 17h43.

O preço da carne nos Estados Unidos não para de subir — e a tendência é de piora. Em julho, a carne moída teve aumento de 3,9% e salto de 15,3% em seis meses. O preço médio alcançou US$ 6,34 a libra, ou R$ 75/kg, segundo dados do Bureau of Labor Statistics (BLS) dos EUA nos EUA, 80% da carne moída consumida é utilizada para hambúrgueres. Nos últimos dois anos, os preços da carne moída dispararam 23%.

A carne para churrasco atingiu, em média, US$ 11,88 por libra (454 gramas), ou quase R$ 130 o quilo, registrando aumento de 3,3% em um mês e de 9% nos últimos seis meses.

O aumento no preço da carne nos EUA ocorre por dois motivos: clima e menor rebanho. Desde 2019, o número de gado de corte no país caiu para 27,9 milhões, uma redução de 13% desde 2019, e o inventário total de bovinos é o mais baixo desde 1952, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Além disso, o rebanho de bovinos tem apresentado queda significativa ao longo desta década. Em 2021, o USDA registrou 92,6 milhões de cabeças de gado, número que agora caiu para 86,6 milhões.

Em seu último levantamento, de 12 de agosto, o USDA estima que pecuaristas americanos devem produzir 25,9 bilhões de libras de carne bovina neste ano, número 4% menor que o estimado no início do ano.

"A redução no tamanho do rebanho é resultado de custos elevados, dificuldades climáticas no início da década e a decisão dos pecuaristas americanos de abater as fêmeas", diz Fernando Iglesias, analista de pecuária da consultoria Safras & Mercado.

Por outro lado, a demanda dos consumidores permaneceu estável nos últimos anos.

A menor oferta de gado nos Estados Unidos, combinada com uma seca que afetou o oeste do país, fez com que os pecuaristas enfrentassem custos elevados, já que precisaram comprar mais ração para alimentar seus rebanhos.

Com menos pasto disponível, muitos reduziram o tamanho de seus efetivos ao vender parte do gado. O fechamento de frigoríficos e as interrupções no processamento de carne em razão da pandemia de 2020 também diminuíram a demanda por gado, pressionando ainda mais os preços pagos aos criadores.

Atualmente, os pecuaristas começam a reconstruir seus rebanhos para aproveitar os preços elevados, mas, como afirma Iglesias, "esse é um processo lento, pois leva de dois a três anos para criar um bezerro até o abate".

Tarifaço de Trump e praga do México

Na avaliação do USDA, os preços da carne bovina devem permanecer elevados até 2026. Segundo o órgão americano, o preço do gado continuará alto até o próximo ano, com os preços de varejo da carne bovina se mantendo elevados por vários anos.

E há uma tendência de agravamento desse cenário com a aplicação da tarifa de 50% imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros.

Países como Argentina e Uruguai, grandes produtores de carne, podem suprir o mercado americano, afirma Iglesias, embora a preços mais caros.

"Os três países conseguirão atender à demanda americana", diz. "No entanto, a preços menos competitivos do que o Brasil antes dessas tarifas de 50%. Isso trará uma pressão inflacionária nos Estados Unidos."

Segundo a consultoria, em maio, os EUA pagaram, em média, US$ 6.143 por tonelada de carne bovina brasileira.

No mesmo período, ao analisar os concorrentes, a Austrália teve um preço médio de US$ 7.169 por tonelada, a Argentina, US$ 6.733 por tonelada, e o Uruguai, US$ 6.951 por tonelada.

"O setor pecuário americano atravessa o menor ciclo dos últimos 80 anos, e o Brasil exporta principalmente os cortes dianteiros do boi, que são amplamente utilizados na indústria americana de hambúrgueres", afirma Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec).

Até junho de 2025, as importações totais dos EUA somaram 478 mil toneladas, com o Brasil respondendo por 147 mil toneladas, cerca de 31% do total importado nesse período, segundo a entidade.

Além disso, o governo Trump manteve as restrições à importação de gado do México por causa da ocorrência da doença New World Screwworm (NWS), conhecida como "bicheira do Novo Mundo" a NWS é uma praga altamente devastadora.

Nas infecções por essa doença, as larvas matam o animal afetado e podem se espalhar para aves e, em casos raros, para seres humanos.

A proibição à importação de gado mexicano não é recente, tendo sido anunciada em maio. Desde então, está proibida a entrada de animais vivos, incluindo o gado, proveniente do país vizinho.

Na semana passada, o USDA anunciou um pacote de medidas para combater a NWS no México. Entre as ações previstas está a construção de uma fábrica de moscas estéreis no Texas para controlar a propagação da doença no México.

Acompanhe tudo sobre:Carne bovinaEstados Unidos (EUA)Preço dos alimentosTarifasDonald Trump

Mais de EXAME Agro

Efeito amargo do tarifaço de Trump: café fica mais caro nos EUA — e pode piorar

Contra tarifaço, política do governo pode baixar preços de pescados e frutas; carnes correm risco

Preço dos fretes vai atrapalhar a rentabilidade do produtor em 25/26, diz CEO da Frete.com

CNA contesta investigação dos EUA e defende práticas do agronegócio brasileiro