EXAME Agro

Preço da carne moída sobe 16% nos EUA, hambúrguer fica mais caro — e Brasil expande exportação

Em maio, a carne moída alcançou o preço médio mais alto já registrado, atingindo US$ 5,98 (R$ 32,34) por libra (454 gramas)

CARNE BOVINA: em 2021, o USDA registrou 92,6 milhões de cabeças de gado, número que agora caiu para 86,6 milhões (Freepik)

CARNE BOVINA: em 2021, o USDA registrou 92,6 milhões de cabeças de gado, número que agora caiu para 86,6 milhões (Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 9 de julho de 2025 às 08h01.

Após os preços dos ovos dispararem no começo do ano nos Estados Unidos, agora é a carne bovina que segue a mesma trajetória.

Em maio, a carne moída alcançou o preço médio mais alto já registrado, atingindo US$ 5,98 (R$ 32,34) por libra (454 gramas), segundo dados do Bureau of Labor Statistics (BLS) dos EUA, divulgados em 11 de junho. Um novo relatório será publicado na próxima terça-feira, 15.

O aumento foi de 16,2% em comparação com maio do ano anterior. Entre janeiro e maio de 2025, os preços da carne moída subiram 7,3%.

Outros cortes de carne bovina, como bifes de contrafilé e acém, subiram 1,1% em maio.

Nos EUA, 80% da carne consumida é utilizada para hambúrgueres. Diante disso, empresas que compram grandes quantidades de carne bovina estão reagindo de diferentes maneiras.

O McDonald's, a Sysco e outras companhias entraram com ações contra grandes processadores de carne, acusando-os de conspirar para aumentar os preços.

Os processadores negaram as acusações, mas resolveram alguns litígios por dezenas de milhões de dólares, sem admitir irregularidades, mostra o The New York Times.

A elevação dos preços é explicada pela diminuição do rebanho disponível para abate, que atingiu o menor nível desde a década de 1950. Os EUA continuam sendo o maior produtor mundial de carne bovina.

Rebanho em diminuição nos EUA

O número de gado de corte nos EUA caiu para 27,9 milhões, uma redução de 13% desde 2019, e o inventário total de bovinos é o mais baixo desde 1952, mostram dados do Departamento de Agricultura (USDA).

Além disso, o rebanho de bovinos tem apresentado uma queda significativa ao longo desta década. Em 2021, o USDA registrou 92,6 milhões de cabeças de gado, número que agora caiu para 86,6 milhões.

"A redução no tamanho do rebanho é resultado de custos elevados, dificuldades climáticas no início da década e a decisão dos pecuaristas norte-americanos de abater as fêmeas", explica Fernando Iglesias, analista de pecuária da consultoria Safras & Mercado.

Por outro lado, a demanda dos consumidores permaneceu estável nos últimos anos.

A menor oferta de gado nos Estados Unidos, combinada com uma seca que afetou o oeste do país, fez com que os pecuaristas enfrentassem custos elevados, já que precisaram comprar mais ração para alimentar seus rebanhos.

Com menos pasto disponível, muitos reduziram o tamanho de seus efetivos ao vender parte do gado. O fechamento de frigoríficos e as interrupções no processamento de carne em função da pandemia de 2020 também diminuíram a demanda por gado, pressionando ainda mais os preços pagos aos criadores.

Atualmente, os pecuaristas começam a reconstruir seus rebanhos para aproveitar os preços elevados, mas, como afirma Iglesias, "esse é um processo lento, pois leva de dois a três anos para criar um bezerro até o abate".

Dessa maneira, espera-se que os preços da carne bovina permaneçam altos até 2026. O USDA estima que o preço do gado continuará elevado até o próximo ano, com os preços de varejo da carne bovina se mantendo elevados por vários anos.

Exportações de carne do Brasil

Com a oferta reduzida de carne bovina nos EUA, o país aumentou suas importações da proteína do Brasil, o segundo maior produtor global.

De janeiro a junho de 2025, os embarques brasileiros para os EUA cresceram 113% em relação ao primeiro semestre de 2024, totalizando 181,5 mil toneladas, segundo a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec). A receita alcançou US$ 1 bilhão, um aumento de 102%.

"Mesmo com uma leve queda no preço médio, o crescimento no volume compensou, resultando em receita recorde", afirma a entidade.

Nem mesmo a guerra tarifária imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra vários países, incluindo o Brasil, impactou as importações de carne bovina do país.

Na avaliação de Iglesias e da Abiec, com um cenário de oferta restrita e alta demanda, o Brasil deve continuar sendo o principal fornecedor de carne bovina para os EUA em 2026.

"O ciclo pecuário americano é o menor dos últimos 80 anos, e a perspectiva é de que isso não mudará a médio prazo. Quando não se tem a carne, é preciso buscar de quem tem. E quem tem hoje no mundo é o Brasil, com capacidade de produção, regularidade e preço competitivo", diz Roberto Perosa, presidente da Abiec.

Acompanhe tudo sobre:Carne bovinaCarnes e derivadosExportaçõesEstados Unidos (EUA)OvosPreço dos alimentos

Mais de EXAME Agro

'Só falta empurrão político para Trump reverter tarifaço ao café', diz representante brasileiro

Exportação de café do Brasil para os EUA cai 53% em setembro após tarifaço de Trump

Compra de soja americana pela China desaba, Brasil ganha espaço — mas efeito é temporário

Preço do cacau desaba após rali histórico e atinge menor nível em 20 meses