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Preço do cacau desaba após rali histórico e atinge menor nível em 20 meses

Melhora nas colheitas na África Ocidental e queda na demanda global pressionam cotações

Cacau: preço do chocolate segue elevado na Europa apesar do tombo nas cotações internacionais (gustavomellossa/iStock /Getty Images)

Cacau: preço do chocolate segue elevado na Europa apesar do tombo nas cotações internacionais (gustavomellossa/iStock /Getty Images)

Publicado em 8 de outubro de 2025 às 17h00.

Os preços do cacau recuaram ao menor patamar em quase dois anos, encerrando um ciclo de valorização que havia levado o mercado a recordes históricos e pressionado fabricantes de chocolate em todo o mundo.

Em Nova York, a commodity é negociada nesta semana em torno de US$ 6.150 por tonelada, uma queda expressiva frente ao pico de mais de US$ 12 mil em dezembro de 2024.

Em Londres, as cotações recuaram cerca de 58% desde a máxima de abril do ano passado, segundo informações do jornal britânico Financial Times.

Demanda enfraquecida

Analistas ouvidos pelo FT atribuem a virada de tendência à redução da demanda global, reflexo dos preços mais altos e à expectativa de uma colheita mais robusta na África Ocidental, principal região produtora.

“O mercado havia atingido níveis absurdos, insustentáveis no longo prazo”, afirmou o analista de commodities Oran van Dort, do banco Rabobank, ao jornal britânico. Ele observou que as quedas vêm ocorrendo de forma gradual desde agosto.

O recuo marca uma reversão do choque de oferta de 2022, quando Costa do Marfim e Gana, responsáveis por cerca de 60% da produção mundial, sofreram com seca, doenças e anos de baixo investimento. Agora, as chuvas voltaram e os governos elevaram os preços mínimos pagos aos produtores — uma medida que deve estimular a produção oficia.

A Costa do Marfim aumentou em mais de 25% o preço garantido aos agricultores, para cerca de US$ 5 mil por tonelada, enquanto Gana elevou o valor para cerca de US$ 4,6 mil.

Consumo em baixa

Mesmo com a oferta em recuperação, o mercado já opera com um pequeno excedente de cacau, em parte porque os consumidores ainda não retomaram os hábitos de compra.

“O superávit atual não reflete um aumento expressivo de produção, mas sim a queda na demanda”, afirmou Jonathan Parkman, da corretora Marex. Ele destacou que o volume global de moagem, indicador do uso de cacau pela indústria, caiu cerca de 500 mil toneladas desde o pico de 2022, com quedas mais acentuadas na Ásia, Europa e África Ocidental.

Apesar do tombo nas cotações internacionais, os preços ao consumidor final permanecem elevados. Segundo o Rabobank, uma barra de chocolate de 100 gramas custava em média 35% mais na Holanda em setembro deste ano do que no mesmo mês de 2024.

De acordo com Parkman, o consumidor pode esperar estabilidade nos preços, mas uma queda significativa só deve ocorrer em seis meses.

O Financial Times ressalta, porém, que o mercado não deve retornar aos níveis pré-2023, quando o cacau oscilava entre US$ 2 mil e US$ 3 mil por tonelada. Árvores envelhecidas, doenças e riscos climáticos seguem como desafios estruturais para o setor.

Um estudo apresentado no European Cocoa Forum, em Malta, indica que até 35% da produção atual da Costa do Marfim pode desaparecer até 2050, sendo 25% devido às mudanças climáticas e 10% a um vírus que afeta as plantações de cacau.

“A questão é se o resto do mundo conseguirá compensar essas perdas”, afirmou van Dort ao jornal britânico.

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