Atacadão Pacaembu, consumo, consumidores, mercado, compras, mercadoria, alimentos, inflação, produtos Foto: Leandro Fonseca Data: 10/09/2024 (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 18 de março de 2025 às 06h01.
Última atualização em 18 de março de 2025 às 09h12.
Os preços dos alimentos saltaram 162% entre 2012 e 2024, e a tendência é que continuem em alta nos próximos anos, segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
O estudo assinado por Braulio Borges, André Braz e Francisco Pessoa Faria mostra que o Brasil e o mundo enfrentam um aumento expressivo nos preços dos alimentos, que não é passageiro e está profundamente ligado às mudanças climáticas e aos ajustes no mercado agrícola.
O estudo aponta que, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, subiu 109% nos últimos 12 anos, produtos como frutas e hortaliças registraram altas ainda mais expressivas, de 299% e 246%, respectivamente.
Em 2024, os preços dos alimentos registraram uma alta média de 7,69%, superando a inflação oficial do país, que ficou em 4,83%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O grupo de Alimentação e Bebidas contribuiu com 1,63 ponto percentual (p.p.) para o IPCA no ano passado.
Para Borges, um dos principais fatores para o aumento da inflação de alimentos está relacionado à queda na produtividade agropecuária de alguns países, incluindo o Brasil, um dos maiores produtores globais de alimentos. Ou seja, enquanto os preços sobem, países que historicamente lideram a produção agropecuária enfrentam uma desaceleração significativa por causa das mudanças climáticas.
“A conclusão é que, hoje, a produtividade total dos fatores (PTF) do setor de alimentos — que mede o aumento da produção agrícola considerando fatores como área de cultivo, mão de obra e insumos — é 20% mais baixa em termos mundiais devido às mudanças efetivamente observadas no clima”, afirma o documento.
No caso do Brasil, a PTF recuou 1,5 ponto percentual de 2012 a 2021. Segundo o estudo, essa desaceleração tem impacto direto na oferta de alimentos, especialmente nas regiões mais atingidas por fenômemos como a seca.
“As mudanças climáticas e a degradação do meio ambiente – ambos afetando negativamente a oferta de serviços ecossistêmicos – podem representar uma importante causa da desaceleração nos ganhos de produtividade agrícola e na produção a partir de meados dos anos 2000”, diz a pesquisa.
Outro ponto levantado pelo estudo para explicar o aumento de preços dos alimentos é a diminuição da área plantada com alimentos básicos na mesa do brasileiro, como o arroz e o feijão.
Segundo os pesquisadores, a área plantada com soja e milho, duas das principais commodities que o Brasil exporta, tem aumentado nos últimos anos, enquanto aquelas plantadas com arroz e feijão recuaram.
De acordo com a pesquisa, a área destinada à soja saltou de 23 milhões de hectares em 2010 para 44 milhões em 2023, enquanto a área de milho aumentou de 13 milhões para 22,6 milhões de hectares no mesmo período.
Por outro lado, a área destinada à produção de arroz caiu de 2,8 milhões de hectares em 2010 para 1,6 milhão em 2024, refletindo a troca de culturas voltadas para consumo interno por aquelas voltadas para exportação.
Estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que o Brasil deve produzir 328,3 milhões de toneladas na safra 2024/25. Se confirmado, além de recorde, o número é 10,3% superior ao produzido na temporada 2023/24. Desse total, 167,4 milhões de toneladas serão de soja.
O aumento no preço dos alimentos tem sido apontado pelo Planalto como um dos principais fatores para a queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Diante desse cenário, o governo busca implementar medidas para reduzir a inflação dos alimentos.
Na semana passada, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerou os impostos de importação de uma série de alimentos, seguindo a orientação do governo. Além disso, um decreto presidencial foi emitido para facilitar o comércio de leite, mel e ovos entre estados, com o objetivo de aumentar a oferta desses produtos e, consequentemente, reduzir seus preços.
Para Francisco Pessoa Faria, pesquisador do FGV Ibre, o governo precisa repensar políticas públicas que garantam a segurança alimentar no país. Isso inclui dar mais atenção a culturas essenciais para o abastecimento interno, como feijão e arroz, sem comprometer grandes culturas de exportação, como soja e milho, que também desempenham um papel estratégico na economia brasileira.
“O foco deve ser estimular a produção adicional de alimentos, e não dificultar outras áreas do agronegócio. Não se trata de um jogo de soma zero”, afirma o estudo.
Além disso, o pesquisador destaca que o monitoramento da produção agrícola, a recomposição de estoques públicos e o crédito direcionado para culturas voltadas ao consumo interno, como arroz e feijão, devem ser prioridades nas agendas governamentais.
“A alta dos alimentos não é um fenômeno passageiro, e as políticas públicas precisam levar isso em consideração”, pontua a pesquisa.