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Produção de pistache no Irã bate recorde; setor gera US$ 1,5 bilhão por ano

Com 650 mil hectares cultivados, produção iraniana enfrenta seca e desafios e comerciais

Pistache: produção do Irã superou as 300 mil toneladas com a expansão da área plantada para 650 mil hectares (Freepik/Divulgação)

Pistache: produção do Irã superou as 300 mil toneladas com a expansão da área plantada para 650 mil hectares (Freepik/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 21 de junho de 2025 às 14h27.

Última atualização em 21 de junho de 2025 às 14h36.

Ainda que o agro no Irã represente apenas 10% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo dados do Banco Mundial e da FAO, a produção de pistache no país persa é uma das mais valiosas da economia iraniana.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), na safra 2024/25, o Irã produziu 200 mil toneladas. Nos Estados Unidos, que ocupam o primeiro lugar na produção global da oleaginosa, o volume foi de 503 mil toneladas.

Por outro lado, dados mais recentes do Ministério da Agricultura do Irã, apontam que a produção nacional superou as 300 mil toneladas com a expansão da área plantada para 650 mil hectares — a maior dedicada ao cultivo de pistache em todo o mundo.

Na temporada, a produção iraniana ficou acima da média histórica, mas o tamanho das nozes foi inferior ao esperado em função do calor extremo durante o verão e às frequentes interrupções na irrigação, causadas por cortes de energia elétrica em diversas regiões do país.

Segundo o governo iraniano, a cadeia produtiva do pistache já gera 350 mil empregos diretos. A exportação da oleaginosa responde por aproximadamente US$ 1,5 bilhão por ano.

Nos últimos 11 anos, a área plantada aumentou 83%, impulsionando a modernização agrícola e ampliando a capacidade de exportação.

Segundo a Iran Pistachio Association (IPA), os principais mercados consumidores do pistache iraniano são China, Índia, União Europeia (com destaque para Alemanha e Itália), Rússia e Emirados Árabes Unidos.

Entre 70% e 80% da produção nacional é destinada ao mercado externo, sendo uma das principais fontes de receita não relacionada ao petróleo.

No ano encerrado em março, as exportações agrícolas do Irã somaram US$ 5,2 bilhões — um crescimento de 29% em relação ao ano anterior. Diante desse cenário positivo, o governo planeja fortalecer os padrões de segurança alimentar e abrir novos mercados internacionais com acordos comerciais.

O pistache iraniano é conhecido por seu sabor mais intenso e adocicado, além da ampla diversidade de variedades, como Fandoghi e Ahmad Aghaei. O fruto cresce sob condições de estresse hídrico, o que acentua suas características sensoriais. A colheita ainda é, em grande parte, manual, e a secagem pode ser feita ao sol, resultando em variações naturais entre os lotes.

Por sua vez, o pistache americano, quase sempre da variedade Kerman, é produzido em larga escala na Califórnia, com um processo altamente mecanizado e padronizado.

O sabor tende a ser mais suave, e os grãos são geralmente comercializados já torrados e salgados. A produção segue rigorosos padrões fitossanitários, o que facilita o acesso a mercados premium na Europa e na América do Norte.

Desafios na produção

Apesar do crescimento, o setor de pistache convive com desafios estruturais. A escassez de água é o maior deles. A cultura exige irrigação intensiva, e anos seguidos de seca, especialmente em Kerman, colocaram os aquíferos sob pressão.

Especialistas apontam para a necessidade urgente de modernização nos sistemas de irrigação e uso mais racional da água.

Além disso, as sanções internacionais dificultam o acesso a insumos agrícolas e bloqueiam transações financeiras com parceiros estrangeiros.

A concorrência com os Estados Unidos também pressiona o setor, especialmente em mercados que exigem rastreabilidade, certificações sanitárias e logística internacional mais estável.

Ainda assim, o pistache permanece como símbolo de resiliência econômica no Irã, sustentando cadeias produtivas em regiões rurais e contribuindo para o equilíbrio da balança comercial não petrolífera.

Recentemente, o país também anunciou avanços na área de saneamento em zonas agrícolas. Mais de 20 vilarejos passaram a contar com sistemas de purificação de água contaminada por arsênico.

A tecnologia, baseada em adsorventes de nanopartículas de ferro, melhorou significativamente a qualidade da água para milhares de residentes rurais.

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