EXAME Agro

Quem vai fornecer a cana-de-açúcar para a Coca-Cola de Trump?

Adoçante usado na bebida nos EUA é o xarope de milho, derivado do cereal, do qual o país é o maior produtor global, com 401 milhões de toneladas

Coca-Cola: bebida é adoçada de forma diferente de acordo com o país (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)

Coca-Cola: bebida é adoçada de forma diferente de acordo com o país (NurPhoto / Colaborador/Getty Images)

Publicado em 23 de julho de 2025 às 17h05.

Última atualização em 23 de julho de 2025 às 21h22.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez um anúncio inusitado ao declarar que a Coca-Cola passará a utilizar cana-de-açúcar em sua produção. Embora pareça uma medida simples, ela evidencia os limites da guerra tarifária iniciada pelo republicano.

Se a Coca-Cola decidir trocar toda a sua linha de produtos para adoçante de cana, a bebida demandará cerca de 1,5 milhão de toneladas de açúcar por ano, segundo levantamento da Datagro Consultoria.

Atualmente, o adoçante utilizado pela Coca-Cola nos EUA é o xarope de milho, derivado do cereal, do qual os EUA são o maior produtor global, com uma previsão de 401 milhões de toneladas para a safra 2025/26, segundo projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Para a temporada que começa em 1º de outubro de 2025, a previsão é de que os EUA produzam 8,4 milhões de toneladas de açúcar, metade dessa produção virá da cana-de-açúcar e a outra metade, da beterraba.

A demanda doméstica anual de açúcar nos EUA é de 11 milhões de toneladas. Dessa forma, com a nova fórmula da Coca-Cola, será necessário importar ainda mais açúcar.

Países como México, Brasil e Índia podem ser os principais fornecedores dessa demanda, mas todos estão sujeitos a pesadas tarifas, o que pode complicar o processo de importação, aponta a Datagro.

No caso brasileiro, Trump anunciou uma sobretaxa de 50% sobre produtos do país, que deve entrar em vigor a partir de 1º de agosto.

Atualmente, os EUA importam cerca de 3 milhões de toneladas de açúcar por ano, isentas de tarifas devido a uma cota tarifária. Desse total, aproximadamente 1 milhão de toneladas provêm do México, enquanto o Brasil exporta 147 mil toneladas para os EUA.

Segundo a Datagro, a mudança pode impactar significativamente o balanço mundial de açúcar e também nos preços da bebida nos EUA, já que o açúcar é 40% mais caro do que o xarope de milho.

Para o ano comercial 2025/26, as projeções indicam um superávit global de 900 mil toneladas — ou seja, uma "sobra" da produção global. Contudo, com a nova demanda da Coca-Cola, esse cenário pode se transformar em um déficit de aproximadamente 500 mil toneladas, afirma a consultoria.

O Brasil, maior produtor global de açúcar, projeta uma produção de 42 milhões de toneladas. Em seguida, vêm Índia (açúcar de cana), União Europeia (açúcar de beterraba) e China com 26, 16 e 11 milhões de toneladas, respectivamente.

Coca-Cola de Trump

Na terça-feira, 23, a Coca-Cola anunciou que lançará uma versão da bebida adoçada com açúcar de cana produzido nos Estados Unidos.

"Como parte de sua contínua agenda de inovação, a empresa planeja lançar, neste outono, um produto feito com açúcar de cana dos EUA para expandir sua linha de produtos da marca Coca-Cola", disse a companhia em seu relatório de resultados do segundo trimestre.

A decisão veio cinco dias após Donald Trump declarar que queria alterar a receita da Coca-Cola, substituindo o xarope de milho pelo açúcar de cana.

"Tenho conversado com a Coca-Cola sobre o uso de açúcar de cana de verdade na Coca nos Estados Unidos, e eles concordaram em fazer isso", escreveu Trump nas redes sociais.

Após essa declaração, analistas do mercado indicaram que os EUA precisariam importar açúcar do Brasil, maior produtor mundial, para produzir a bebida, já que o país não é autossuficiente na produção do insumo.

O Brasil ocupa a posição de segundo maior fornecedor dos EUA, atrás apenas do México.

No entanto, a Coca-Cola afirmou que o produto será adoçado com o açúcar produzido internamente nos Estados Unidos e não deixou claro se será uma edição especial da bebida ou se toda a linha americana será alterada.

No Brasil, a bebida é adoçada com açúcar de cana, assim como no México e em diversos países da Europa.

Acompanhe tudo sobre:Coca-ColaCana de açúcarDonald TrumpTarifas

Mais de EXAME Agro

Após tarifaço de Trump, exportação de café do Brasil para os EUA cai quase pela metade em agosto

Consumo de carne bovina na China deve cair pelo segundo ano seguido em 2026

Japão ou Turquia devem abrir mercado para a carne bovina brasileira até o final do ano, diz Mapa

Carne bovina: mais 17 frigoríficos são liberados a exportar para quarto país mais populoso do mundo