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Por que os produtores dos EUA querem vender carne para o Brasil

"Comércio justo não deve envolver barreiras protecionistas", diz diretor da principal associação pecuária americana

Gado nos EUA: Trump tem representado bem nossos interesses, diz Kent Bacus, diretor da National Cattlemen's Beef Association (NCBA). (Freepik)

Gado nos EUA: Trump tem representado bem nossos interesses, diz Kent Bacus, diretor da National Cattlemen's Beef Association (NCBA). (Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 1 de novembro de 2025 às 07h05.

Os produtores de carne dos Estados Unidos querem vender mais carne para o Brasil. Por isso, embora as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump não sejam ideais, são vistas como necessárias para corrigir um déficit comercial de US$ 4,5 bilhões com o Brasil. Essa é a avaliação de Kent Bacus, diretor da National Cattlemen's Beef Association (NCBA), a principal entidade pecuária dos EUA.

Para Bacus, o comércio justo não deve envolver barreiras protecionistas. Segundo ele, é isso que o setor de carne americano espera do Brasil. O executivo acredita que, se o Brasil deseja manter boas relações com os EUA — e com Trump —, precisa abrir seu mercado de carnes para os produtores americanos.

"Os Estados Unidos são um grande mercado para o Brasil. Precisamos de reciprocidade aqui. O Brasil precisa oferecer condições justas e garantir um comércio justo, o que ainda não foi demonstrado até agora", afirma.

Apesar da sobretaxa de 50% imposta por Trump sobre os produtos brasileiros, os EUA continuam sendo o principal destino da carne bovina do Brasil em 2025.

Até setembro, o país importou 218,9 mil toneladas da proteína, um aumento de 64,6% em relação ao mesmo período de 2024. Em termos de receita, o crescimento foi de 54% nos nove primeiros meses do ano, alcançando US$ 1,3 bilhão, diz a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec).

Segundo Bacus, Trump tem feito um "bom trabalho" ao aplicar as tarifas, apesar dos impactos nos preços ao consumidor americano. "Ele [Trump] tem representado bem nossos interesses. O que pedimos é um comércio justo. Temos um mercado muito aberto no que diz respeito à carne", diz Bacus.

O mercado consumidor dos EUA sente os efeitos do aumento de tarifas. De janeiro a agosto de 2025, o preço da carne moída — um dos principais cortes usados para fazer hambúrgueres — subiu 14%, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). O preço médio passou de US$ 5,82 em janeiro para US$ 6,63 em agosto. Nos EUA, 80% da carne moída consumida é destinada à produção de hambúrgueres.

Para Bacus, o foco deve ser o que os consumidores querem, e não o que os governos ou políticos querem impor aos seus próprios mercados.

"Precisamos usar a política comercial para remover essas barreiras. Não é uma situação ideal, mas temos esperança de que, se os países puderem se unir, realmente trabalharão juntos para implementar um comércio livre e recíproco. Esse é o benefício", diz.

Em setembro, a National Cattlemen's Beef Association pediu que o governo americano tomasse medidas mais duras contra a exportação de carne brasileira ao país.

Carne da Argentina nos EUA

A Argentina é outro exemplo citado por Bacus para ilustrar o comércio desfavorável com os EUA. A NCBA afirma que o país apresenta um déficit de US$ 800 milhões no setor de carnes nos últimos cinco anos.

Para o executivo, o anúncio de Trump sobre o aumento da cota de carne da Argentina para 80 mil toneladas, contra 20 mil anteriormente, pode abrir novas oportunidades.

"Temos muitas preocupações em relação a isso, pois enfrentamos dificuldades em várias frentes, não apenas com as tarifas, mas também devido a diversas barreiras não tarifárias que nos impedem de acessar o mercado argentino", diz Bacus.

Na semana passada, o presidente americano anunciou que aumentaria as importações de carne da Argentina, com o objetivo de reduzir os preços da carne nos EUA.

Embora queira ser otimista, Bacus não acredita em soluções imediatas. Segundo ele, as negociações entre os países devem continuar sendo difíceis.

"Os lados continuam a se posicionar de maneira firme. Isso acontece com a Argentina, e o mesmo ocorre com o Brasil. Os Estados Unidos continuarão a pressionar em defesa de nossos produtores de gado", afirma.

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