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Setor de suco de laranja pode enfrentar prejuízo de R$ 1,54 bilhão com tarifaço de Trump

Com queda nos preços internacionais, perdas totais do setor podem ultrapassar R$ 2,9 bilhões

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 12 de agosto de 2025 às 18h01.

Última atualização em 12 de agosto de 2025 às 18h20.

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O setor exportador de suco de laranja do Brasil pode registrar perdas imediatas de R$ 1,54 bilhão, mesmo que tenha sido parcialmente excluído da tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Esse prejuízo se deve à inviabilidade econômica das exportações de subprodutos, que são afetados pela taxa de 50% e geraram US$ 177,8 milhões (aproximadamente R$ 973,6 milhões) na safra anterior.

Além disso, há o impacto estimado da tarifa de 10% sobre o suco de laranja, que resultaria em uma perda de US$ 103,6 milhões (cerca de R$ 566,7 milhões). Os valores consideram o volume registrado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) na safra 2024/25.

Os subprodutos da indústria citrícola têm grande aplicação tanto no setor de bebidas quanto na indústria de cosméticos. Nos Estados Unidos, aproximadamente 58% do suco consumido é reconstituído, ou seja, um produto concentrado com 66% de partes sólidas, semelhante ao leite condensado. Após a importação, ele é diluído com água até atingir a concentração de 12% de partes sólidas.

De acordo com Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR, “muitos produtos necessitam de ingredientes como células cítricas — os gominhos da laranja — e óleos essenciais, que são taxados em 50%, tornando a operação inviável”.

Ele alerta ainda que esse aumento de custos pode afetar a experiência do consumidor e prejudicar as empresas dos Estados Unidos, impactando negativamente toda a cadeia produtiva brasileira.

Além de sua função na indústria de bebidas, os óleos essenciais são cruciais para o setor de cosméticos, pois são responsáveis pelas notas cítricas nos perfumes. O mercado americano representa uma parcela significativa das exportações brasileiras desses produtos, com 36% das exportações de óleo essencial prensado, 39% do óleo comum e quase 60% do d-limoneno, utilizado em fragrâncias e solventes naturais. Netto ressalta que os impactos podem ser grandes para esses mercados.

Além dos efeitos das tarifas, o setor enfrenta uma forte queda nos preços internacionais por causa de um aumento de 36% na oferta de frutas, segundo os dados do Fundecitrus. A Secex aponta que o preço médio da tonelada exportada para os Estados Unidos na safra passada foi de US$ 4.243, mas, em 7 de agosto, caiu para US$ 3.387, uma redução de 20,17%. Considerando o volume exportado, a perda de receita estimada com essa queda de preço é de US$ 261,8 milhões, ou R$ 1,43 bilhão.

Combinando as perdas provenientes das tarifas e a desvalorização das cotações, o impacto financeiro total para o setor pode ultrapassar R$ 2,9 bilhões. “Embora o setor esteja aliviado por estar parcialmente isento da tarifa, os efeitos são significativos, especialmente em um ano de mercado desafiador”, conclui Netto.

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