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Trump isenta suco de laranja, mas tarifa em 50% café, frutas e carne do Brasil

No setor cafeeiro havia a expectativa de que o produto ficasse de fora da lista de Trump, já que o Brasil é o principal fornecedor do café arábica, o tipo mais consumido pelos americanos, nos EUA

Donald Trump, presidente dos EUA, que impôs tarifas ao Brasil (Brendan Smialowski/AFP)

Donald Trump, presidente dos EUA, que impôs tarifas ao Brasil (Brendan Smialowski/AFP)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 30 de julho de 2025 às 17h08.

Última atualização em 30 de julho de 2025 às 17h57.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, isentou o suco de laranja da nova tarifa de 50% aplicada aos produtos brasileiros.

Na ordem executiva assinada nesta quarta-feira, 30, além da bebida, a polpa da laranja e a castanha brasileira também ficaram de fora da sobretaxa do republicano. Os produtos ficarão com 10% de taxa, como foi anunciado em abril.

O setor de suco de laranja calculava que, caso fosse tarifado, haveria uma perda anual de até US$ 792 milhões — o equivalente a R$ 4,3 bilhões para a cadeia produtiva do suco de laranja, segundo a Associação Nacional das Indústrias Exportadoras de Sucos Cítricos (CitrusBR).

"Recebemos com alívio e responsabilidade a exceção", disse a entidade em nota.

Por outro lado, o café, as frutas e a carne do Brasil não constam na lista de isenção. Dessa forma, serão tarifados a partir da próxima semana. A previsão é de que a sobretaxa entre em vigor em sete dias.

No setor cafeeiro havia a expectativa de que o produto ficasse de fora da lista de Trump, já que o Brasil é o principal fornecedor do café arábica, o tipo mais consumido pelos americanos, nos EUA.

A National Coffee Association (NCA), entidade comercial que representa a indústria do café americana, realizou uma rodada de conversas com a gestão do republicano nos últimos dias, na tentativa de retirar o produto da lista de Trump.

Além de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil responde por 30% do market share de café nos EUA, segundo dados do Departamento de Estatísticas dos EUA, o que o posiciona como principal fornecedor do grão para o país, especialmente do tipo arábica. Em 2024, 83% do café desembarcado nos EUA era arábica.

No ano passado, os EUA representaram 16,1% de todas as exportações de café do Brasil, correspondendo, em termos de receita, a cerca de US$ 2 bilhões.

Com a taxação de Trump, países como Vietnã e Colômbia, que ocupam o segundo e o terceiro lugar, respectivamente, na produção global, não têm capacidade para oferecer uma quantidade significativa de café aos EUA, que têm uma demanda anual de 24 milhões de sacas. No caso do Vietnã, a produção é majoritariamente do tipo canéfora.

Em nota, o Conselho Nacional dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), disse que o governo americano precisa rever a tarifa de 50% sobre o produto brasileiro.

"Entendemos que se faz necessária a revisão da decisão de taxar os cafés do Brasil – ato que implicará elevação desmedida de preços e inflação, uma vez que esses tributos serão repassados à população americana no ato da compra", afirmou a entidade.

Carne bovina

O setor de carne bovina também esperava que a proteína brasileira ficasse de fora do tarifaço de 50%, mas na ordem executiva de Trump não há qualquer menção.

Com a tarifa, o setor de carne bovina no Brasil pode perder até US$ 1 bilhão neste ano, segundo Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

Perosa explica que a expectativa era de que o Brasil exportasse 400 mil toneladas de carne para os EUA em 2025. Porém, diante da sobretaxa de Donald Trump, esse número pode ficar bem abaixo do projetado. No ano passado, foram enviadas 220 mil toneladas da proteína brasileira para os EUA.

"É um grande impacto para a cadeia, que não tem uma reacomodação imediata. Claro, existem outros destinos para os produtos, mas nenhum com a mesma característica do mercado americano, com esse tipo de corte e essa demanda de volume", afirmou Perosa em entrevista ao Agro em Pauta da EXAME nesta terça-feira, 29.

De janeiro a junho de 2025, os embarques brasileiros para os EUA cresceram 113% em relação ao primeiro semestre de 2024, totalizando 181,5 mil toneladas, segundo a Abiec. A receita alcançou US$ 1 bilhão, um aumento de 102%.

A Abiec disse que, a princípio, não se posicionará por escrito. Na tarde desta quarta-feira, Perosa deve se reunir com o vice-presidente Geraldo Alckmin e, em seguida, atenderá aos jornalistas após a reunião no Ministério do Desenvolvimento.

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