Pedaços de salmão: preços do peixe chileno aumentaram US$ 1 por quilo (Freepik)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 31 de outubro de 2025 às 14h58.
Última atualização em 31 de outubro de 2025 às 15h05.
Não foi apenas o setor de carne bovina que sentiu o impacto das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As sobretaxas também afetaram diretamente o setor de pescados tanto do Brasil quanto do Chile.
No caso do Brasil, os EUA aplicaram uma tarifa de 50% sobre os pescados brasileiros. O aumento resultou em um impacto imediato, com a suspensão de contratos e o redirecionamento de volumes excedentes para o mercado interno, o que pressionou os preços locais, mostra um relatório da S&P Global Commodity Insights.
No terceiro trimestre deste ano, as exportações de tilápia brasileira caíram 30%, totalizando 3 mil toneladas, segundo dados da Embrapa Pesca e Aquicultura, em parceria com a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR).
O relatório também aponta que, entre julho e setembro, os embarques do setor somaram US$ 13,3 milhões, o que representa uma queda de 28% em relação ao mesmo período de 2024.
"Embora as tarifas tenham reduzido as exportações, elas não fecharam completamente o mercado americano para os produtores brasileiros, que continuam exportando e repassando os custos para os consumidores dos EUA", afirma James Gund, diretor-executivo da Associação Brasileira de Pescados (Abipesca).
Historicamente, a China tem sido o principal fornecedor de tilápia para os Estados Unidos. Com a guerra comercial entre os dois países, o setor de pescados brasileiro esperava aumentar suas exportações para o mercado americano. No entanto, a imposição de uma sobretaxa de 50% frustrou essas expectativas, diz a S&P.
Para os Estados Unidos, principal destino dos produtos da piscicultura brasileira, a queda nas exportações foi de 32% — a tilápia representa 99% das exportações brasileiras de piscicultura para os EUA.
Uma situação semelhante ocorreu com o salmão do Chile, que é o segundo maior produtor mundial dessa proteína, com mais de 1 milhão de toneladas produzidas em 2023, segundo a SalmonChile. Os EUA impuseram uma tarifa de 10% sobre o produto chileno.
Como resultado, os preços do salmão no varejo aumentaram US$ 1/kg. Antes da imposição da tarifa, o Chile se beneficiava de um acordo de livre comércio com os EUA.
A alta nos preços tem levado consumidores a buscar alternativas mais acessíveis, como tilápia e outros tipos de peixe, afirmou Arturo Clement, presidente da SalmonChile.
"O salmão é uma proteína de alto custo, e um aumento de 10% tem um grande impacto nos consumidores", disse Clement.
Na indústria pesqueira do Chile, a tarifa imposta por Trump travou um cenário de recuperação. Após registrar a menor safra anual desde 2019 em 2024, a produção chilena de salmão se recuperou até agosto de 2025, alcançando 498.588 toneladas, um aumento de 9,5% em relação ao mesmo período de 2024.
Embora os produtores de salmão tentem redirecionar seus volumes de exportação para mercados como Ásia e Brasil, o impacto já é visível.
Segundo Max Bouratoglou, analista da S&P Global Commodity Insights, o setor enfrenta desafios logísticos em função das diferenças nas preferências de consumo entre os EUA e o Brasil.
Nos EUA, a preferência é por filés frescos, o que exige uma logística mais complexa, enquanto no Brasil, o salmão inteiro é mais solicitado, especialmente para a culinária japonesa.
O Brasil é o terceiro maior comprador de salmão chileno, atrás apenas dos EUA e do Japão. Aproximadamente 10% da produção chilena é destinada diretamente ao mercado brasileiro.