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Trump quer que China quadruplique compra de soja dos EUA; impacto ao Brasil pode superar tarifaço

China é a maior compradora de soja no mundo e, no ano passado, importou cerca de 105 milhões de toneladas métricas totais, segundo o órgão. Do total, 74,7 milhões vieram do Brasil

Soja: impacto de aumento de importação dos EUA à China pode custar caro para o Brasil (Leandro Fonseca /Exame)

Soja: impacto de aumento de importação dos EUA à China pode custar caro para o Brasil (Leandro Fonseca /Exame)

Publicado em 11 de agosto de 2025 às 08h08.

Última atualização em 11 de agosto de 2025 às 08h37.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu à China na noite do domingo, 10, que quadruplique as compras de grãos de soja americanos antes do prazo final para a trégua tarifária. O impacto disso para o Brasil, que em 2024 exportou cerca de 74,7 milhões de toneladas de soja para a China, totalizando US$ 36,5 bilhões em valor, de acordo com a Administração Geral de Alfândegas da China, pode ser superior ao do "tarifaço".

Em postagem em seu perfil no TruthSocial, Trump afirmou que "a China estava preocupada com uma escassez de soja e que esperava que ela aumentasse rapidamente seus pedidos do produto norte-americano".

A China é a maior compradora de soja no mundo e, no ano passado, importou cerca de 105 milhões de toneladas métricas totais, segundo o órgão — menos de um quarto veio dos EUA, enquanto a maior parte das exportações veio do Brasil.

Em 2024, o Brasil exportou aproximadamente US$ 40,4 bilhões para os Estados Unidos, sendo que cerca de dois terços desse valor correspondem a manufaturados e produtos de maior valor agregado, segundo a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia (SECEX/MDIC) — justamente os mais suscetíveis a retaliações comerciais e às tarifas de Trump.

Para os EUA alcançarem o montante brasileiro, precisariam exportar quase quatro vezes mais soja ao mercado chinês do que venderam em 2024, quando embarcaram 22,1 milhões de toneladas, equivalentes a US$ 11,3 bilhões, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). 

Uma redução de dois terços nas exportações brasileiras aos EUA representaria uma perda de cerca de US$ 26 bilhões, de acordo com o SECEX/MDIC— impacto muito superior ao ganho de qualquer tarifa pontual —, ao passo que uma expansão significativa das exportações americanas de soja para a China poderia reduzir a participação brasileira no mercado, com efeitos diretos sobre o superávit comercial e a balança de produtos agrícolas.

Segundo a Amcham Brasil, apesar das isenções anunciadas por Trump que beneficiam 43% das exportações brasileiras, 57% dos embarques ao mercado americano permanecem sujeitos às tarifas, atingindo setores sensíveis como autopeças, eletroeletrônicos, químico e metalúrgico.

O órgão alerta que o aumento de custos decorrente de retaliações pode reduzir investimentos diretos, provocar demissões e levar ao fechamento de pequenas e médias empresas integradas às cadeias globais de valor. A incerteza regulatória e comercial também tende a afastar potenciais parceiros e dificultar o planejamento de longo prazo, comprometendo a recuperação econômica.

China x EUA: de olho na trégua comercial

Durante o primeiro mandato de Trump, no acordo da "fase um", Pequim se comprometeu a ampliar a importação de produtos agrícolas norte-americanos, incluindo soja, mas não atingiu as metas. Em meio a tensões comerciais, neste ano o país ainda não adquiriu soja dos EUA para o quarto trimestre, o que aumenta as preocupações às vésperas do início da temporada de exportações da safra americana.

“É altamente improvável que a China compre quatro vezes seu volume usual de soja dos EUA”, disse Johnny Xiang, fundador da consultoria AgRadar, à Reuters.

A trégua tarifária entre Pequim e Washington expira na terça-feira, 12, mas o governo Trump já sinalizou que o prazo pode ser prorrogado. Não está claro se a compra de mais soja dos Estados Unidos pela China será uma exigência para a extensão do acordo, no momento em que a Casa Branca busca reduzir o superávit comercial chinês.

Às 8h36, no horário de Brasília, os futuros da soja em Chicago operavam em alta de 2,37%, a US$ 1.010,37.

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