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Atentado a Bolsonaro é reflexo de cenário em ebulição, dizem analistas

Desde o início da campanha, Bolsonaro foi criticado pelos adversários pela sua postura violenta - isso deve mudar

"Bolsonaro buscará capitalizar esse ataque e firmar sua imagem de vítima", diz analista (Sergio Lima/Bloomberg)

"Bolsonaro buscará capitalizar esse ataque e firmar sua imagem de vítima", diz analista (Sergio Lima/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de setembro de 2018 às 09h44.

São Paulo - O ataque sofrido pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) na quinta-feira, 6, em Juiz de Fora (MG) deve resultar, segundo especialistas ouvidos pela Agência Estado, em um processo de vitimização do candidato que, a depender de sua condição de saúde, pode ajudá-lo no decorrer da campanha. E, certamente, deverá surtir impacto nas campanhas.

Para José Álvaro Moisés, cientista político da USP, o deputado passará a ocupar, por motivos distintos, o mesmo posto de vítima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato. "Esse fato lamentável pode transformá-lo na segunda vítima dessa campanha, confundindo ainda mais o eleitorado e resultando em um impacto no resultado da eleição. As chances dele podem aumentar", afirmou.

Moisés ressaltou que o grau de tensão observado no cenário político nacional se intensificou nos últimos meses e já gerou outros episódios de violência. Ele citou o assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL), há quase seis meses, e os tiros que atingiram um ônibus da caravana de Lula pelo Paraná, em abril. "A reintrodução da violência na política não favorece a democracia, não permite que o clima seja de reorganização do País. Pelo contrário, gera mais confusão na população."

Para Marco Antonio Teixeira, professor de ciência política da FGV-SP, o ataque deve fazer com que as campanhas reavaliem suas estratégias. "Isso deve ser veementemente repudiado. A hora é de serenidade e de se esperar os devidos esclarecimentos. Todos nós devemos refletir sobre esse lamentável episódio, e os candidatos devem cessar as agressões entre eles", afirmou o analista.

Desde o início da campanha na TV e no rádio, Bolsonaro entrou na mira dos adversários, que passaram a destacar justamente sua postura violenta como forma de afastar seus eleitores - ele lidera as pesquisas de intenção de voto com 22%, de acordo com a última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. O presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, por exemplo, tem utilizado metade de seu tempo de propaganda para sugerir que o deputado agride mulheres, com imagens dele destratando uma deputada e uma jornalista, e que ele quer resolver os problemas do País na bala.

Henrique Meirelles, candidato pelo MDB, também tem provocado Bolsonaro nas inserções a que tem direito de veicular no rádio e na TV. Mas, diferentemente da estratégia tucana, o emedebista tem atacado não o discurso violento do deputado, mas seu suposto desconhecimento sobre temas de economia. Com a agressão sofrida ontem por Bolsonaro durante ato de campanha em Juiz de Fora, a expectativa é que tanto Alckmin quanto Meirelles possam repensar suas ações.

Professor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Prando acredita que a repercussão do ataque deva modificar não apenas as estratégias de campanha dos adversários, mas especialmente o discurso do próprio Bolsonaro.

"Bolsonaro buscará capitalizar esse ataque e firmar sua imagem de vítima. Não há como negar o que ocorreu. Mas só saberemos realmente o quanto ele ganhou em intenções de votos e o nível de sua rejeição quando novas rodadas de pesquisa eleitoral forem divulgadas. Arrisco, contudo, em afirmar que haverá impacto positivo em sua imagem, e seus adversários que partiram para o ataque terão que rever a decisão, especialmente Alckmin", disse. "O cenário eleitoral, que já estava em alta temperatura, entra em ebulição." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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