Brasil

Atestado de óbito de Rubens Paiva é retificado: 'responsabilidade da ditatura militar'

Correção do documento ocorreu nesta quinta-feira, 23, mesmo dia em que filme sobre a luta da viúva do ex-deputado foi indicado ao Oscar

Rubens Paiva: atestado reconhece responsabilidade da ditadura pela morte (Renato Araújo/ABr)

Rubens Paiva: atestado reconhece responsabilidade da ditadura pela morte (Renato Araújo/ABr)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 24 de janeiro de 2025 às 14h04.

Última atualização em 24 de janeiro de 2025 às 14h24.

Tudo sobreDitadura
Saiba mais

O atestado de óbito do ex-deputado federal Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar em janeiro de 1971, foi corrigido nesta quinta-feira, 23. A nova versão do documento, emitida pelo Cartório da Sé, em São Paulo, afirma que a causa da morte foi “não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964.”

'Ainda Estou Aqui' tem exibição gratuita no aniversário de SP; veja como assistir

A alteração atende a uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), aprovada em 13 de dezembro de 2024. Na nova versão, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) aparece como atestante do óbito.

De desaparecido a vítima da violência de Estado

Na versão anterior do documento, emitida em 1996 após décadas de luta de Eunice Paiva, advogada e esposa de Rubens Paiva, a vítima era classificada apenas como desaparecida. Rubens foi preso pela polícia da ditadura em sua casa, no Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1971.

A retificação do atestado aconteceu no mesmo dia em que o filme Ainda estou aqui, de Walter Salles, recebeu três indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz (para Fernanda Torres, no papel de Eunice). O longa é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, um dos cinco filhos do casal.

Em entrevista ao jornal O Globo, Vera Paiva, filha mais velha de Rubens e Eunice e psicóloga social, destacou o impacto coletivo da decisão:

“As pessoas insistem em chamar de ‘atestado de Rubens Paiva’, mas isso vai além da nossa família. A decisão do CNJ afeta todas as vítimas da tortura durante a ditadura.”

Reconhecimento coletivo e impacto histórico

A resolução do CNJ determina a retificação de 202 atestados de óbito de vítimas do regime militar e garante que 232 desaparecidos políticos terão direito a um documento oficial reconhecendo a violência de Estado. Essas ações resultam de investigações realizadas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), que, entre 2012 e 2014, identificou 434 mortos e desaparecidos da ditadura.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania informou que as famílias receberão as certidões corrigidas durante solenidades organizadas pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Esses eventos incluirão homenagens e pedidos formais de desculpas:

“Elas não precisam ir aos cartórios. Serão contatadas e receberão as certidões já corrigidas para que tenham seu direito de reparação consagrado”, declarou Gustavo Renato Fiscarelli, vice-presidente do Operador Nacional do Registro Civil.

Estados com mais vítimas da ditadura

Entre os estados com maior número de mortos e desaparecidos estão São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Pernambuco e a região do atual Tocantins, palco da Guerrilha do Araguaia, duramente reprimida pelas forças militares.

A retificação do atestado de Rubens Paiva marca um passo importante no reconhecimento das violações cometidas durante a ditadura militar, simbolizando também a luta contínua por memória e justiça histórica.

Acompanhe tudo sobre:DitaduraFernanda Torres

Mais de Brasil

Mais de 335 mil pessoas vivem em situação de rua no Brasil

Feriado prolongado deve atrair 2,4 milhões de turistas para São Paulo

Novo equipamento para monitorar trânsito chama atenção de motoristas

Bolsonaro segue em UTI cinco dias após cirurgia e tem 'boa evolução clínica', diz boletim médico