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'Barulho ensurdecedor': moradores relembram tragédia de 1959 após tornado no PR

O estado enfrenta a maior tragédia por um tornado em 66 anos, quando a cidade de Palmas enfrentou ventos de mais de 200 km/h

Paraná enfrenta maior tragédia por tornado em 66 anos (Jonathan Campos/AEN/Divulgação)

Paraná enfrenta maior tragédia por tornado em 66 anos (Jonathan Campos/AEN/Divulgação)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 8 de novembro de 2025 às 14h19.

O estado do Paraná enfrenta uma das maiores tragédias por tornado em 66 anos. Na madrugada de sexta, 7, para sábado, 8, um ciclone extratropical provocou destruição em diversas regiões do estado, com maior impacto no município de Rio Bonito do Iguaçu.

Com cerca de 14.000 habitantes e localizada a 400 quilômetros de Curitiba, a cidade teve aproximadamente 90% de sua área urbana danificada, segundo a Defesa Civil.

Até a noite de sexta-feira, o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) classificava o tornado como F2, quando os ventos ficam entre 180km/h e 250km/h.

O governador paranaense Ratinho Jr. decretou calamidade pública no município e trabalha no resgate e atendimento de feridos, além do início de reconstrução da área destruída.

Ao menos seis pessoas morreram após o tornado e centenas ficaram feridas.

 

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Segundo a MetSul, empresa de Meteorologia com atuação em todo o Brasil e Cone Sul, o cenário de destruição é o mais grave desde 1959, quando a cidade de Palmas foi atingida por uma sequência de tornados que, ao longo de dois dias, devastaram os três estados do Sul e deixaram cerca de 100 mortos.

Tornado no Paraná: Ratinho Jr. decreta calamidade em cidade destruída

Tragédia em Palmas

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Tornado em Palmas teve ventos estimados em mais de 200 km/h (Reprodução MetSul)

Em 14 de agosto de 1959, uma tragédia sem precedentes atingiu a cidade de Palmas, no Sudoeste do Paraná. Um tornado de grande intensidade atravessou a zona rural do município, deixando ao menos 35 mortos e dezenas de feridos.

A força dos ventos destruiu casas, galpões e até uma serraria inteira, consolidando o episódio como uma das maiores catástrofes naturais já registradas no estado.

Flora Nadir Tonial lembra que recolhia as roupas do varal, por volta das 16h30, quando percebeu que a tempestade estava chegando à Fazenda Fortaleza, localizada a cerca de 30 quilômetros do centro de Palmas. O vento ganhou força, o céu escureceu e o som vindo das nuvens se tornou cada vez mais intenso. Em poucos minutos, o vilarejo foi tomado por uma chuva de granizo

"O barulho era ensurdecedor. Não era trovoada, era um som estranho, diferente. Acho que era o furacão que vinha na direção do povoado", recordou Flora à MetSul.

Instantes depois, a tempestade atingiu em cheio a comunidade. Rajadas de vento que ultrapassaram os 200 km/h devastaram a Fazenda Fortaleza e a pequena vila habitada por trabalhadores da Serraria Santo Antônio. Em poucos minutos, todas as construções foram arrasadas.

"A finada mãe me disse: 'Segure a porta que não vai ser nada'. Ela ficou sentada ao lado do fogão e eu fui fechar a porta. Quando cheguei perto, desceu tudo. Não vi mais nada", relembrou Flora. Quando recobrou a consciência, viu a casa completamente destruída. A mãe, um sobrinho e uma tia haviam morrido.

O epicentro da destruição aconteceu nas terras de José Antônio de Araújo Maciel, conhecido como Tuta, onde funcionava a serraria. No local, havia doze casas e alguns galpões que serviam de moradia para famílias de operários e agricultores. Todas foram atingidas.

O impacto do tornado foi tão grande que um locomóvel da serraria — equipamento industrial com cerca de cinco toneladas — chegou a ser arremessado a mais de 40 metros de distância.

O episódio foi registrado pelo jornalista Moacyr Mitsuyasu, enviado especial da Gazeta do Povo, em reportagem publicada em 16 de agosto de 1959.

Tornado deixa ao menos 6 mortos e 400 feridos no interior do Paraná

Depois do tornado, os sobreviventes começaram a vasculhar os escombros à procura de familiares.

"A dona da fazenda, Aparecida Maciel, chegou pedindo socorro. Estava ferida e com o filho pequeno nos braços. Morreram o outro filho e a empregada que cuidava das crianças", contou Flora.

"Encontramos muita gente morta, todos nus. Tive que levar cobertores do armazém para cobrir os corpos. Da sede da fazenda, que era nova, ficou só o soalho. O galpão dos bois teve a cobertura arrancada, mas os animais ficaram no mesmo lugar. Três pessoas foram jogadas em cima de um colchão e se salvaram”, relatou um dos moradores à MetSul.

A tragédia provocou forte comoção em Palmas e nas cidades vizinhas. Todas as vítimas foram veladas em conjunto no ginásio municipal, em uma cerimônia que mobilizou centenas de moradores. O comércio local suspendeu as atividades em sinal de luto, enquanto as rádios da região transmitiam depoimentos emocionados de sobreviventes e familiares das vítimas.

Área de destruição

Enquanto a Fazenda Fortaleza foi praticamente arrasada, propriedades vizinhas registraram apenas ventos intensos e chuva.

Esse padrão reforça a hipótese de que o evento tenha sido provocado por um tornado — fenômeno conhecido por causar devastação concentrada em uma faixa estreita de terreno, deixando regiões próximas relativamente preservadas.

A atual proprietária da Fazenda Fortaleza, Lourdes Carneiro, conta que cresceu ouvindo os relatos sobre o tornado.

"Lembro que morreram 29 pessoas na sede e mais uma família de obreiros. Para se ter ideia da força do vento, encontraram em Novo Horizonte, Santa Catarina, o paletó de um fazendeiro daqui, com a carteira de documentos no bolso. Nunca mais tivemos vendaval como aquele", disse à MetSul.

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