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Bastidor: operação eleva tensão entre Lula e Castro e antecipa disputa eleitoral

Pessoas próximas a Lula veem estratégia política e tentativa de Castro de reforçar polarização e se fortalecer

Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, em entrevista coletiva (Pablo Porciúncula/AFP)

Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, em entrevista coletiva (Pablo Porciúncula/AFP)

Publicado em 29 de outubro de 2025 às 17h10.

Última atualização em 29 de outubro de 2025 às 17h29.

A megaoperação no Rio de Janeiro que resultou em ao menos 121 mortes elevou a tensão entre os governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro (PL).

A reação de integrantes do Executivo federal, segundo EXAME apurou, foi de irritação em relação à forma como a ação policial ocorreu e foi reforçada pelas declarações de Castro sobre o caso. Primeiro, pelo fato de nenhum órgão da União ter sido informado oficialmente sobre a operação e, segundo, por se interpretar que as afirmações do governador teriam deixado claro um objetivo político por trás do trabalho executado pelas polícias do Rio de Janeiro na última terça-feira, 28.

Embora tenha sido eleito com apoio de Jair Bolsonaro (PL), Castro pertence a uma ala menos radical dos aliados do ex-presidente e sempre manteve bom trânsito na gestão petista. Agora, no entanto, o clima mudou e a boa vontade com a gestão fluminense não deve mais ser a mesma.

A leitura no Palácio do Planalto é de que o governador fluminense agiu de maneira pensada para prestar um serviço específico ao bolsonarismo: trazer novamente para o centro do debate a segurança pública, área em que o Executivo federal vai mal e costuma reforçar a polarização política por causa da divisão na sociedade em relação ao tema.

Um exemplo mencionado por membros do governo de um assunto que voltará à ordem do dia no debate público após a operação é a discussão sobre o enquadramento de facções criminosas brasileiras como organizações terroristas. Esse é um desejo dos Estados Unidos e não tem apoio do Brasil, que vê risco à soberania. O tema, porém, costuma ser amplamente explorado pela oposição para tentar vincular o governo do PT a organizações criminosas.

Castro tenta disputar Senado

A primeira entrevista de Castro sobre a operação, na visão do Executivo federal, teve como objetivo ser explorada como narrativa política nas redes sociais. A leitura é que o governador tenta se fortalecer politicamente em meio a dificuldades para viabilizar a própria candidatura a senador em 2026.

Castro afirmou que estava “sozinho” e reclamou da negativa das Forças Armadas para empréstimo de veículos blindados. “Tivemos pedidos negados 3 vezes: para emprestar o blindado, tinha que ter GLO [garantia de lei e da ordem], e o presidente [Lula] é contra a GLO. Cada dia uma razão para não estar colaborando”, disse.

Na sequência, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que não recebeu nenhum pedido e rebateu, em entrevista à Folha: “Se ele sentir que não tem condições, ele tem que jogar a toalha e pedir GLO ou intervenção federal”.

Governo quer evitar embate

A ordem no governo, porém, é evitar o embate com Castro para não tornar o tema palco de debate político, visto como principal objetivo do bolsonarismo neste episódio.

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), no entanto, verbalizou a desconfiança de integrantes do alto escalão da Esplanada. “Não descarto que a operação de hoje no Rio de Janeiro tenha sido deflagrada com a intenção abjeta de tentar mudar a pauta da política nacional”, escreveu nas redes sociais.

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que houve um contato anterior “em nível operacional”, sem detalhar do que se tratava, mas que a corporação não foi comunicada formalmente da ação. De acordo com integrantes do governo em conversas reservadas, o presidente Lula estava incomunicável ao voltar de viagem internacional à Ásia, onde se encontrou com o presidente dos EUA, Donald Trump, durante o auge da operação, o que ampliou a irritação do Palácio do Planalto com Cláudio Castro.

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