A megaoperação no Rio de Janeiro que resultou em ao menos 121 mortes elevou a tensão entre os governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro (PL).
A reação de integrantes do Executivo federal, segundo EXAME apurou, foi de irritação em relação à forma como a ação policial ocorreu e foi reforçada pelas declarações de Castro sobre o caso. Primeiro, pelo fato de nenhum órgão da União ter sido informado oficialmente sobre a operação e, segundo, por se interpretar que as afirmações do governador teriam deixado claro um objetivo político por trás do trabalho executado pelas polícias do Rio de Janeiro na última terça-feira, 28.
Embora tenha sido eleito com apoio de Jair Bolsonaro (PL), Castro pertence a uma ala menos radical dos aliados do ex-presidente e sempre manteve bom trânsito na gestão petista. Agora, no entanto, o clima mudou e a boa vontade com a gestão fluminense não deve mais ser a mesma.
A leitura no Palácio do Planalto é de que o governador fluminense agiu de maneira pensada para prestar um serviço específico ao bolsonarismo: trazer novamente para o centro do debate a segurança pública, área em que o Executivo federal vai mal e costuma reforçar a polarização política por causa da divisão na sociedade em relação ao tema.
Um exemplo mencionado por membros do governo de um assunto que voltará à ordem do dia no debate público após a operação é a discussão sobre o enquadramento de facções criminosas brasileiras como organizações terroristas. Esse é um desejo dos Estados Unidos e não tem apoio do Brasil, que vê risco à soberania. O tema, porém, costuma ser amplamente explorado pela oposição para tentar vincular o governo do PT a organizações criminosas.
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Um homem está ao lado de carros queimados durante uma barricada dentro da Operação Contenção na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Barricada no Complexo da Penha, Rio de Janeiro)
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Policiais transportam pessoas para um hospital após a Operação Contenção na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Transporte de pessoas ao hospital)
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Policiais escoltam um suspeito preso durante a Operação Contenção para fora da favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Policiais prendem suspeitos de integrar o Comando Vermelho)
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Um policial verifica seu celular ao lado de suspeitos presos durante a Operação Contenção na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Policial com suspeitos presos na Operação Contenção)
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Policiais escoltam suspeitos presos durante a Operação Contenção para fora da favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Suspeitos são escoltados para fora do complexo da Penha)
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Policiais vigiam supostos criminosos presos durante a Operação Contenção na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Suspeitos são mantidos sob supervisão policial)
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Policiais militares fazem patrulha durante a Operação Contenção na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Polícia Militar patrulhando o complexo da Penha)
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Um morador passa por um carro queimado durante uma barricada dentro da Operação Contenção na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Morador passa por carro queimado)
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Policial militar faz patrulha durante a Operação Contenção na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Policial militar faz patrulha no complexo da Penha)
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Homem é levado para hospital após Operação Contenção na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Homem a caminho do hospital após operação no complexo da Penha)
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11/20
Policiais do Rio de Janeiro transferem duas pessoas capturadas durante a operação realizada nesta terça-feira, 28, no Rio de Janeiro
(Dois suspeitos presos pela polícia fluminense)
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Governador Cláudio Castro durante entrevista coletiva sobre a Operação Contenção, realizada no complexo Alemão e Penha, no Rio de Janeiro nesta terça-feira, 28
(Cláudio Castro durante coletiva de imprensa)
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Pessoas aguardam notícias de seus familiares em frente ao Hospital Getúlio Vargas. Há 64 mortos confirmados na Operação Contenção nesta terça-feira, 28, no Rio de Janeiro
(Reconhecimento dos mortos está em curso desde a manhã no hospital Getúlio Vargas)
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Mototáxis passar por carro-forte da Polícia Militar do Rio de Janeiro nesta terça-feira, 28, durante Operação Contenção
(Mototáxis passam por carro-forte da PM)
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Policiais militares apontam suas armas durante Operação Contenção, no complexo da Penha no Rio de Janeiro nesta terça-feira, 28
(Policiais adentram complexo da Penha)
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Durante operação policia contra o Comando Vermelho, criminosos ordenam fechamento de comércio e usam lixeiras incendiadas para bloquear a via na rua Itapiru, no Catumbi
(Criminosos bloqueiam vias no Rio de Janeiro)
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Um homem toma banho durante uma operação da Polícia Militar do Rio de Janeiro, nesta terça-feira, 28
(Morador toma banho durante Operação Contenção)
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Homens inspecionam um carro incendiado que fazia parte de uma barricada montada durante a Operação Contenção na favela da Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro nesta terça-feira, 28
(Carros queimados foram usados de barricada no complexo da Penha)
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Durante operação policia contra o Comando Vermelho, filas nos pontos de ônibus e vans de transporte complementar na região da Central do Brasil, com trabalhadores sendo liberados mais cedo pela situação de violência
(Filas nos pontos de ônibus e vans de transporte complementar na região da Central do Brasil, com trabalhadores sendo liberados mais cedo)
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Forças de segurança se posicionam durante a Operação Contenção na favela Vila Cruzeiro, no complexo da Penha, no Rio de Janeiro nesta terça-feira, 28
(BRAZIL-CRIME-DRUG-FAVELA-POLICE-OPERATION)
Castro tenta disputar Senado
A primeira entrevista de Castro sobre a operação, na visão do Executivo federal, teve como objetivo ser explorada como narrativa política nas redes sociais. A leitura é que o governador tenta se fortalecer politicamente em meio a dificuldades para viabilizar a própria candidatura a senador em 2026.
Castro afirmou que estava “sozinho” e reclamou da negativa das Forças Armadas para empréstimo de veículos blindados. “Tivemos pedidos negados 3 vezes: para emprestar o blindado, tinha que ter GLO [garantia de lei e da ordem], e o presidente [Lula] é contra a GLO. Cada dia uma razão para não estar colaborando”, disse.
Na sequência, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que não recebeu nenhum pedido e rebateu, em entrevista à Folha: “Se ele sentir que não tem condições, ele tem que jogar a toalha e pedir GLO ou intervenção federal”.
Governo quer evitar embate
A ordem no governo, porém, é evitar o embate com Castro para não tornar o tema palco de debate político, visto como principal objetivo do bolsonarismo neste episódio.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), no entanto, verbalizou a desconfiança de integrantes do alto escalão da Esplanada. “Não descarto que a operação de hoje no Rio de Janeiro tenha sido deflagrada com a intenção abjeta de tentar mudar a pauta da política nacional”, escreveu nas redes sociais.
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que houve um contato anterior “em nível operacional”, sem detalhar do que se tratava, mas que a corporação não foi comunicada formalmente da ação. De acordo com integrantes do governo em conversas reservadas, o presidente Lula estava incomunicável ao voltar de viagem internacional à Ásia, onde se encontrou com o presidente dos EUA, Donald Trump, durante o auge da operação, o que ampliou a irritação do Palácio do Planalto com Cláudio Castro.