Segundo o governo estadual, os donos dos estabelecimentos onde as bebidas foram vendidas já prestaram depoimento (kirichkov/Flickr)
Colaboradora
Publicado em 1 de outubro de 2025 às 12h14.
O governo de São Paulo confirmou na terça-feira, 30, a morte de cinco pessoas em casos suspeitos de intoxicação por metanol no estado, sendo que ao menos uma delas morreu depois de consumir bebida adulterada.
As autoridades agora investigam se as outras quatro vítimas também consumiram bebidas falsificadas ou se ingeriram álcool de postos de combustível.
A Secretaria Estadual de Saúde também está apurando outros 15 casos suspeitos de intoxicação pela substância. Só na terça, a polícia apreendeu 112 garrafas de vodca com suspeita de falsificação na capital — 17 delas estavam no bairro da Mooca.
As investigações buscam agora rastrear a origem das bebidas e a rede de distribuição dos produtos. Segundo o governo estadual, os donos dos estabelecimentos onde as bebidas foram vendidas já prestaram depoimento.
“As operações avançam sobre a cadeia de distribuição, a partir das vítimas identificadas”, disse o governo de SP, em nota.
Diante o cenário, diversas dúvidas sobre o assunto surgiram. Veja as respostas para as principais:
O metanol, também conhecido como álcool metílico, é um composto químico líquido, sem cor e inflamável com uso exclusivo na indústria. A substância é muito usada como solvente em tintas, vernizes e adesivos, além de servir como combustível em motores específicos e matéria-prima na fabricação de formaldeído e ácido acético.
Vale destacar que o metanol também funciona como anticongelante em produtos industriais e é usado na produção de energia em células de combustível.
Embora ambos sejam álcoois, etanol e metanol têm diferenças importantes em sua composição e efeitos no organismo. O etanol contém dois átomos de carbono em sua estrutura molecular e está presente em bebidas alcoólicas como cerveja, vinho e destilados, sendo relativamente seguro quando consumido com moderação.
Já o metanol contém apenas um átomo de carbono e é extremamente tóxico. Mesmo em pequenas quantidades, a substância é transformada pelo corpo em ácido fórmico e formaldeído, compostos que podem causar cegueira, falência de órgãos e morte.
Enquanto o etanol é usado em bebidas, medicamentos e cosméticos, o metanol nunca deve ser ingerido.
Os sintomas de intoxicação por metanol variam conforme a quantidade ingerida e o tempo passado desde o consumo. Nas primeiras horas após a ingestão, podem aparecer náuseas, vômitos, dor abdominal, tontura, confusão mental, dor de cabeça, sonolência e fraqueza.
Entretanto, os sinais mais graves costumam aparecer entre 6 e 24 horas após o consumo.
Visão embaçada, visão dupla e cegueira parcial ou total estão entre as complicações mais severas, causadas por danos ao nervo óptico. Além disso, a intoxicação pode provocar dificuldade para respirar, convulsões, coma e acidose metabólica, que leva à falência de órgãos.
Ao suspeitar de intoxicação por metanol, é indicado procurar ajuda médica imediatamente. No Brasil, o SAMU pode ser chamado pelo número 192, ou a pessoa deve ser levada rapidamente a um hospital, considerando que o tempo é decisivo para evitar danos permanentes.
É importante também evitar provocar o vômito, já que isso pode piorar a situação. Vale ressaltar que os médicos devem ser prontamente avisados sobre a suspeita de ingestão de metanol, a quantidade aproximada e o tempo que passou.
E, embora o etanol seja usado em tratamentos médicos para diminuir a toxicidade do metanol, isso só deve ser feito por profissionais de saúde.
O tratamento da intoxicação por metanol envolve o uso de etanol ou fomepizol, compostos que bloqueiam a enzima responsável por transformar o metanol em substâncias tóxicas. Dessa forma, o metanol pode ser eliminado do corpo antes de causar danos graves.
Em casos mais sérios, a hemodiálise também é usada para retirar o metanol e seus compostos do sangue. De qualquer forma, o sucesso do tratamento está diretamente ligado ao tempo da detecção da intoxicação. Se tratada rápido, o caso pode ser reversível.
Por outro lado, danos gravíssimos como cegueira ou lesões neurológicas podem ser permanentes, além da possibilidade de levar à morte.
Para evitar o consumo de bebidas adulteradas com metanol, é indicado comprar produtos de lugares confiáveis que trabalham com registros atualizados. Supermercados e distribuidores autorizados tendem a ser os locais mais seguros.
Apesar da falsificação ter atingido um nível de difícil identificação, é ideal checar a embalagem antes de consumir o produto, procurando por rótulos inteiros, selos de segurança e informações completas do fabricante.
Quanto à procedência, prefira marcas conhecidas e registradas na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), e sempre verifique o número do lote e a data de validade. Vale ressaltar que preços muito baixos também devem levantar suspeitas.
Por fim, bebidas caseiras ou artesanais sem certificação também merecem atenção, já que produtos como cachaça ou licor caseiro podem conter metanol se mal destilados.
O metanol tem um cheiro suave e levemente doce, parecido com o do etanol, mas mais fraco. No entanto, é praticamente impossível diferenciá-lo do etanol pelo olfato, especialmente quando está misturado em bebidas adulteradas.
Portanto, não se deve confiar no cheiro para identificar a presença de metanol, pois isso requer testes químicos específicos feitos em laboratório. A semelhança entre as substâncias torna a identificação sensorial inviável e perigosa.