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Brasil investe US$ 42 bi em projeto para unificar ferrovias

Governo quer construir 11.000 quilômetros de ferrovias para criar uma rede unificada, reduzindo a dependência brasileira do transporte rodoviário

Ferrovia de Carajás no Maranhão: governo quer investir no transporte sobre trilhos para reduzir a dependência das rodovias (Marcos Issa/Bloomberg News)

Ferrovia de Carajás no Maranhão: governo quer investir no transporte sobre trilhos para reduzir a dependência das rodovias (Marcos Issa/Bloomberg News)

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Da Redação

Publicado em 29 de abril de 2014 às 11h54.

Brasília - A presidente Dilma Roussef planeja construir 11.000 quilômetros de ferrovias e outorgar maior acesso às linhas privadas existentes para reduzir os custos de transporte até 30 por cento. As licitações para a concessão de construção e administração da primeira de uma dúzia de ferrovias por um custo total de R$ 96,1 bilhões (US$ 42 bilhões) terão lugar em outubro.

A intenção de criar uma rede unificada de ferrovias é reduzir a dependência do Brasil do transporte rodoviário, que é mais caro, disse Bernardo Figueiredo, diretor da estatal Empresa de Planejamento e Logística. Atualmente, apenas um terço dos 28.692 quilômetros de ferrovias do Brasil está em operações, e 30 por cento das cargas são transportadas por trem, e 52 por cento por caminhão.

A maior parte da rede ferroviária é operada por companhias com concessão do governo. Os operadores podem impedir que outros utilizem suas linhas.

Os projetos fazem parte dos esforços de Dilma para acelerar a modernização da infraestrutura do país atraindo capitais privados. Segundo a EPL, serão necessários investimentos por R$ 242 bilhões para construir novas estradas, ferrovias, portos e um trem de alta velocidade.

Competitividade reduzida

“A logística no Brasil está de ponta-cabeça – usamos as rodovias para viagens longas e as ferrovias para as curtas”, disse Figueiredo num seminário em 31 de julho em Brasília. “Isso reduz a competitividade do nosso setor produtivo”.

O Brasil investe 12 por cento do seu PIB em logística, em comparação com 8 por cento dos EUA, conforme um estudo da Fundação Dom Cabral, uma empresa de pesquisa comercial, que disse que a diferença significa US$ 83,2 bilhões por ano.


Bitola universal, melhoria do sistema de sinalização e maiores economias de escala deveriam reduzir os custos do transporte ferroviário em aproximadamente 30 por cento, disse Alexandre Porto, que gerencia o processo de licitação na Agência Nacional de Transportes Terrestres. Disponibilizar o excesso de capacidade das ferrovias privadas aumentará essa porcentagem, afirmou Porto.

Por sua vez, menores custos de frete deveriam ajudar a estimular a demanda e permitir que o governo revenda uma maior parte da capacidade adquirida. No entanto, o governo espera perder dinheiro com os projetos, explicou Porto.

A demanda projetada de 3.900 locomotivas, 31.000 vagões e serviços suscitou o interesse de fornecedores, operadores e consultores, como a francesa Alstom SA.

“Estamos apostando que esses projetos vão se acelerar”, disse Rogério Mendonça, diretor comercial para a unidade latino-americana da GE Transportation, que constrói locomotivas pesadas em Contagem, Minas Gerais. “Estamos ansiosos para que o programa seja executado e que a construção e a operação comecem efetivamente”.

Demoras, superfaturamentos

A preocupação com os tempos de execução do projeto poderia ser bem fundada, dado o histórico de adiamentos e superfaturamentos do país em projetos de infraestrutura de grande escala. O início de operações de uma ferrovia de 1.022 km ligando depósitos de minério de ferro e áreas agrícolas do oeste da Bahia com o porto de Ilhéus estava planejado para 30 de julho. Até agora, não foi colocado nem um trilho e a data de finalização foi adiada para dezembro de 2014, segundo a empresa de engenharia Valec.

Embora o plano de acesso aberto seja elogiável, nem todas as ferrovias existentes terão o excesso de capacidade necessário para possibilitar a interconexão. Isso dificultará a criação da rede nacional que o governo almeja, disse Paulo Jorge Cepeda, sócio da Sysfer, consultoria de logística com sede no Rio de Janeiro.

“O conceito é correto”, disse Cepeda em entrevista por telefone do Rio de Janeiro. “Resta saber se o governo tem as ferramentas e a capacidade necessárias para implementar o modelo”.

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