O secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, embaixador Philip Fox-Drummond Gough ( Ministério das Relações Exteriores)
Agência de notícias
Publicado em 23 de julho de 2025 às 13h19.
Com o apoio de cerca de 40 associados, como União Europeia, China, Rússia, Índia, Canadá e Austrália, o Brasil criticou, em reunião na Organização Mundial do Comércio (OMC), nesta quarta-feira, 23, as medidas unilaterais impostas pelos Estados Unidos aos parceiros internacionais.
Sem citar nominalmente os Estados Unidos, o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, Philip Fox-Drummond Gough, afirmou as tarifas estão sendo usadas para interferir em assuntos internos de outros países, em uma referência velada aos ataques do presidente Donald Trump ao Judiciário brasileiro.
"O mundo está testemunhando uma mudança extremamente perigosa em direção ao uso de tarifas como ferramenta em tentativas de interferir nos assuntos internos de terceiros países. Como uma democracia estável, o Brasil tem firmemente enraizados em nossa sociedade princípios como o Estado de Direito, a separação de poderes, o respeito às normas internacionais e a crença na solução pacífica de controvérsias", disse o embaixador.
Trump tem declarado que o ex-presidente Jair Bolsonaro está sendo perseguido pelo Judiciário nacional. Ele anunciou que, a partir de 1º de agosto, será aplicada uma sobretaxa de 50% a todos os produtos brasileiros e determinou a suspensão dos vistos de entrada nos EUA e sete magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Em seu discurso, Gough enfatizou que o mundo assiste a um ataque sem precedentes ao sistema multilateral de comércio e à credibilidade da OMC. Afirmou que as tarifas são arbitrárias e violam as normas internacionais.
"Tarifas arbitrárias, anunciadas e implementadas de forma caótica, estão interrompendo as cadeias de valor globais e correm o risco de lançar a economia mundial em uma espiral de preços altos e estagnação. Tais medidas unilaterais constituem uma violação flagrante dos princípios fundamentais que sustentam a OMC e que são essenciais para o funcionamento do comércio internacional".
O diplomata disse que o Brasil continuará a priorizar a busca por soluções negociadas, baseando-se "em boas relações diplomáticas e comerciais". Ele reafirmou a posição do governo brasileiro de recorrer à OMC contra o tarifaço.
'Negociações baseadas em jogo de poder são um atalho perigoso para a instabilidade e a guerra. Diante da ameaça de fragmentação, a defesa consistente do multilateralismo é o caminho a seguir", disse.
De acordo com interlocutores do governo brasileiro, o discurso proferido na OMC não deve invializar as conversas de bastidores que têm ocorrido entre representantes do Brasil e dos EUA. Havia dois objetivos a serem alcançados em Genebra, na Suíça, sede do organismo: colocar o tema em pauta e defender uma reforma no sistema multilateral de comércio.
"Neste momento de grave instabilidade, é imperativo que todos trabalhemos juntos em apoio a um Sistema Multilateral de Comércio baseado em regras. É essencial que a OMC recupere seu papel como um espaço onde todos os países podem resolver disputas e afirmar interesses legítimos por meio do diálogo e da negociação", disse.
"A incapacidade de encontrar um caminho que nos leve adiante apenas promoverá uma espiral negativa de medidas e contramedidas que nos tornará mais pobres e mais distantes da prosperidade e dos objetivos de desenvolvimento sustentável".
A OMC passa por um estado de paralisia há mais de cinco anos. O Órgão de Apelação, que seria a última instância de um julgamento, está paralisado devido ao boicote na nomeação de árbitros que começou no primeiro mandato de Trump e continuou na gestão do ex-presidente Joe Biden.
Enquanto uma ação na OMC pode levar anos, a sobretaxa de 50% às exportações brasileiras aos EUA começam a valer em poucos dias. O governo brasileiro tenta negociar um acordo com os americanos e quer que a medida seria adiada para se busque um entendimento.