O tenente-coronel Mauro Cid, durante interrogatório no STF (Gustavo Moreno/STF/09-06-2025)
Agência de notícias
Publicado em 16 de julho de 2025 às 08h28.
A palavra "churrasco" foi usada como codinome para se referir ao golpe em conversas entre manifestantes e investigados como o tenente-coronel Mauro Cid e o general Mário Fernandes. A informação foi revelada pelo parecer final apresentado, na noite da segunda-feira, pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o núcleo crucial da trama golpista.
O plano também utilizava o apelido “Jeca” para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e “Joca” para o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
O grupo visava, também, atingir um quarto alvo, apresentado com o codinome “Juca”, que ainda não foi identificado pela autoridade policial. Já a expressão "professora" era utilizada para referenciar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
"Em 21.12.2022, MAURO CÉSAR BARBOSA CID questionou sobre o paradeiro da 'professora' (codinome para Alexandre de Moraes), reafirmando a continuidade do monitoramento", diz o documento da PGR.
A manifestação da PGR pediu a condenação de Cid, ex-ajudante de ordens, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e de outros seis réus. No documento, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirmou que o código "churrasco" era usado durante conversas com financiadores e integrantes das manifestações antidemocráticas.
"O pessoal que colaborou com a carne está me cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco. Pois estão colocando em dúvida a minha solicitação", escreveu para Cid um dos participantes, identificado como Aparecido Andrade Portela. Em resposta, o tenente-coronel escreveu que o assunto seria um "ponto de honra" para ele e se ofereceu para conversar com o grupo que aparentava estar insatisfeito.
O mesmo codinome foi usado por outro manifestante, identificado como Rodrigo Yassuo, que informou ao general Mário Fernandes que iria para uma manifestação na Esplanada no dia 10 de dezembro de 2022 e afirmou que precisava conversar sobre “aquele churrasco”.
No dia seguinte, ele também indagou, segundo a PGR, "se tem uma agenda prevista" para a organização das manifestações. A pergunta também teria sido repetida no dia 13, após a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, quando Rodrigo teria perguntado se Fernandes estaria acompanhando o que estava acontecendo. "Peço uma orientação, por favor, Brasil", escreveu o manifestante.
A manifestação de mais de 500 páginas encaminhada à Corte reforça a denúncia apresentada pela PGR em fevereiro e recapitula os principais pontos da acusação. Gonet, ao falar sobre Bolsonaro, afirma que "as evidências são claras: o réu agiu de forma sistemática, ao longo de seu mandato e após sua derrota nas urnas, para incitar a insurreição e a desestabilização do Estado Democrático de Direito".
"As ações de Jair Messias Bolsonaro não se limitaram a uma postura passiva de resistência à derrota, mas configuraram uma articulação consciente para gerar um ambiente propício à violência e ao golpe. O controle da máquina pública, a instrumentalização de recursos do Estado e a manipulação de suas funções foram usados para fomentar a radicalização e a ruptura da ordem democrática", disse o PGR.
Gonet ainda diz, sobre Bolsonaro, que "as evidências revelam que o ex-presidente foi o principal coordenador da disseminação de notícias falsas e ataques às instituições, utilizando a estrutura do governo para promover a subversão da ordem". E concluiu: "portanto, cabe a responsabilização do réu pelos crimes descritos na denúncia".