Repórter
Publicado em 21 de agosto de 2025 às 13h58.
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) decidiu não incluir a semaglutida, substância ativa presente no Ozempic e Wegovy, nem a liraglutida, componente da Saxenda, como opções de tratamento para obesidade na rede pública. A decisão foi tomada nesta quarta-feira.
No contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), a semaglutida seria indicada para pacientes com obesidade e histórico de doenças cardiovasculares, mas sem diabetes, com idade a partir dos 45 anos. A análise sobre a liraglutida visava seu uso no tratamento de pessoas com obesidade e diabetes tipo 2.
Em nota enviada à EXAME, a Novo Nordisk afirmou que estar ciente do parecer negativo da Conitec e enfatizou que pretende resolver a questão com o governo federal. "A empresa seguirá dialogando com o Ministério da Saúde, estados, municípios e demais potenciais parceiros, construindo soluções alternativas, tecnicamente viáveis e sustentáveis, para atender as necessidades de saúde da população brasileira" (Leia a íntegra da nota abaixo).
Os membros da comissão destacaram o alto custo dos medicamentos como o principal obstáculo para a inclusão no SUS. A medida ratifica o parecer de maio, quando a Conitec já havia recomendado a não incorporação da semaglutida, prevendo que o tratamento poderia gerar gastos de pelo menos R$ 3,4 bilhões em cinco anos, podendo alcançar até R$ 7 bilhões.
Na ocasião, a comissão também ressaltou a necessidade de acompanhamento médico especializado, incluindo suporte psicológico, para os pacientes que utilizassem os medicamentos, o que tornaria a implementação em larga escala no SUS mais difícil. Após o parecer, em junho, foi realizada uma consulta pública para ouvir a população e os profissionais de saúde sobre a questão.
Em julho, durante a reunião dos líderes dos Brics no Rio de Janeiro, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, declarou que as canetas emagrecedoras poderiam ser inseridas na rede pública, desde que fosse comprovada "evidência científica" sobre sua eficácia.
No início deste mês, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) anunciou um acordo com a farmacêutica EMS para produzir versões nacionais de semaglutida e liraglutida. A produção por uma instituição pública pode reduzir os custos, facilitando a viabilidade para o governo. Para que isso aconteça, o medicamento precisa primeiro ser aprovado pela Conitec.
Atualmente, a semaglutida não é disponibilizada em nenhum serviço público no Brasil, enquanto a liraglutida já é usada em algumas cidades de Goiás, Espírito Santo e no Distrito Federal. Além disso, no começo deste ano, a prefeitura do Rio de Janeiro informou que iniciará, em 2026, o uso de semaglutida para tratar pacientes com diabetes e obesidade.
"A Novo Nordisk, líder global em saúde, reafirma seu compromisso com o enfrentamento da obesidade no Brasil – uma doença crônica complexa e multifatorial que impacta milhões de brasileiros e sobrecarrega o sistema de saúde pública.
Embora o parecer da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de
Saúde) não tenha recomendado a incorporação de Wegovy® (semaglutida 2,4mg), para tratamento da obesidade ao SUS (Sistema Único de Saúde), o processo de consulta pública contou com ampla
participação social em apoio à incorporação, com mais de 1.300 manifestações positivas em defesa da
inclusão do medicamento, incluindo o apoio formal de organizações médicas, científicas, de pacientes,
entre outras instituições relevantes.
A Conitec reconhece que Wegovy® é uma tecnologia inovadora, segura, eficaz e custo-efetiva - o custo do tratamento com este medicamento está dentro dos limites estabelecidos pelo regramento da própria
comissão (limiar de custo-efetividade), considerando os resultados positivos que ele proporciona à saúde e à qualidade de vida da população elegível.
A Novo Nordisk compreende que o histórico subfinanciamento do SUS, somado ao contexto de
desequilíbrio fiscal, restrições orçamentárias e obsolescência dos mecanismos de incorporação vigentes atualmente, impõem desafios para oferta de tecnologias inovadoras de saúde à população em nível nacional, mesmo quando estas são evidentemente custo-efetivas. Recomendações desfavoráveis da Conitec não se restringem a esta classe de medicamentos (análogos de GLP1). Ainda assim, a Novo Nordisk segue empenhada em colaborar com as autoridades e com a sociedade para ampliar o acesso da população a tratamentos inovadores para o enfrentamento de doenças crônicas graves, propondo alternativas que viabilizem a incorporação e a oferta de medicamentos de alta qualidade, segurança e eficácia a quem mais precisa.
Em 2023, a companhia submeteu a liraglutida, comercialmente denominada Saxenda® (liraglutida
injetável 3 mg), à avaliação da Conitec para incorporação ao SUS para tratamento farmacológico da
obesidade. Na ocasião, a submissão não avançou, apesar do custo-efetividade do tratamento ter sido
considerado viável pela própria comissão.
Mesmo sem incorporação nacional, Saxenda® já está disponível em programas estaduais no Distrito
Federal, Goiás e Rio de Janeiro. Vale destacar que Goiás e Distrito Federal implementaram programas
próprios de enfrentamento da obesidade, enquanto o estado do Rio de Janeiro possui protocolo específico no IEDE, centro de referência em distúrbios metabólicos. Em São Paulo, o medicamento é disponibilizado com recursos próprios por instituições como o Hospital das Clínicas e o Instituto da Criança e do Adolescente.
Esses e outros estados e municípios brasileiros estão, nesse momento, em fase de avaliação para
incorporação Wegovy® em programas de enfrentamento à obesidade, com recursos próprios, para além do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do Ministério da Saúde, que foca somente em mudanças comportamentais e, atualmente, não disponibiliza tratamentos farmacológicos para a obesidade.
A Novo Nordisk entende que ampliar o acesso às suas tecnologias inovadoras é um dos pilares
fundamentais para mudar o cenário da obesidade no país. Diante desse histórico e propósito, a empresa seguirá dialogando com o Ministério da Saúde, estados, municípios e demais potenciais parceiros, construindo soluções alternativas, tecnicamente viáveis e sustentáveis, para atender as necessidades de saúde da população brasileira."