Brasil

Corpo de Juliana Marins passa por nova autópsia no Rio nesta quarta-feira

Voo da FAB concluiu o translado na noite de terça-feira, por volta das 19h40, quando pousou na Base Aérea do Galeão; em seguida, restos mortais foram levados para o IML

Juliana Marins, de 26 anos, foi encontrada morta; brasileira fazia uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia (resgatejulianamarins/Instagram)

Juliana Marins, de 26 anos, foi encontrada morta; brasileira fazia uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia (resgatejulianamarins/Instagram)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 2 de julho de 2025 às 07h20.

O corpo de Juliana Marins, publicitária brasileira que caiu na encosta do Monte Rinjani, na Indonésia, durante uma trilha, passará por uma nova autópsia na manhã desta quarta-feira. A informação foi confirmada pela Polícia Civil pouco antes de o avião que trazia os restos mortais aterrissar no Rio, na noite de terça-feira.

A perícia terá presença de um representante da família e de um perito da Polícia Federal, como prevê acordo entre a Advocacia-Geral da União (AGU), a Defensoria Pública da União (DPU) e o governo estadual, após determinação da Justiça Federal.

A nova perícia no corpo de Juliana foi um pedido da família. O objetivo é confirmar questões como a data e o horário da morte e identificar possíveis omissões na prestação de socorro pelas autoridades indonésias.

O requerimento foi formalizado na Justiça Federal pela Defensoria Pública da União (AGU) na segunda-feira (30). Em audiência na tarde de terça-feira, a 7ª Vara Federal de Niterói autorizou o procedimento.

"A certidão de óbito emitida pela Embaixada do Brasil, em Jacarta, se baseou em autópsia realizada pelas autoridades indonésias, mas não trouxe informações conclusivas sobre o momento exato do falecimento", diz a nota da Defensoria Pública da União (DPU). Segundo a defensora Taísa Bittencourt, a realização do novo exame é fundamental para preservar elementos que possam esclarecer os fatos.

Mariana Marins, irmã de Juliana, disse que a família não queria adiar por mais tempo a despedida de Juliana Marins. Porém, ponderou, as desconfianças geradas pela negligência no resgate levaram os parentes a exigirem nova autópsia, com o intuito de compreender o que aconteceu com a publicitária.

"A gente não tem certeza de muita coisa, porque foram muitos descasos. Não queríamos dar mais esse passo, mas infelizmente entendemos ser necessário para sabermos o que realmente aconteceu com a Juliana", declarou Mariana.

Na Indonésia, a autópsia foi realizada na quinta-feira passada (26), cinco dias após o acidente, pelo Hospital Bali Mandara. O exame concluiu que a causa da morte foi um trauma, com fraturas, lesões em órgãos internos e hemorragia intensa, e que ela morreu 20 minutos após o trauma. Ainda não está claro qual das quedas provocou a morte nem o local exato onde isso ocorreu, dúvidas que a nova perícia pode esclarecer.

A chegada do corpo ao Rio

O corpo chegou ao Rio uma semana após a constatação da morte de Juliana Marins. A urna funeral foi trazida do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, num avião bimotor modelo C-105 da Força Aérea Brasileira (FAB), que pousou na Base Aérea do Galeão por volta das 19h40.

O translado entre a província indonésia de Bali e a capital paulista foi feito num voo da Emirates, que aterrissou às 17h10. Às 18h40, partiu para o Rio, chegando uma hora depois.

Uma prima de Juliana estava no aeroporto — a mesma que acompanhou o pai, Manoel Marins, até a Indonésia. Na chegada do avião, não conteve as lágrimas. Aos prantos, acompanhou a transferência do caixão da aeronave para o carro da Defesa Civil estadual. Manoel Marins falou ao GLOBO sobre o alívio com a chegada do corpo da filha.

"Sensação de alívio. Agora vamos poder dar a esse infortúnio um encerramento digno", afirmou.

O que falta ser esclarecido na autópsia feita na Indonésia?

A autópsia realizada na quinta-feira, 26, no corpo de Juliana Marins foi divulgada na última sexta-feira, 27, pelo Hospital Bali Mandara, em Denpasar, na Indonésia, onde o exame foi feito. Em entrevista à imprensa local, o médico legista Ida Bagus Alit concluiu que a causa da morte foi um trauma, com fraturas, lesões em órgãos internos e hemorragia intensa.

Ele respondeu a perguntas sobre os ferimentos e o tempo estimado entre o impacto e o óbito, estimado em cerca de 20 minutos após o trauma.

Apesar dos detalhes apresentados sobre os danos ao corpo, ainda não está claro qual das quedas provocou a morte, nem o local exato onde isso ocorreu. A nova perícia, solicitada pela família, pode ajudar a esclarecer essas dúvidas. O GLOBO reuniu, ponto a ponto, o que foi dito pelo legista e o que ainda precisa ser explicado.

Qual foi a causa da morte?

Juliana Marins aguardando resgate na Indonésia

"A partir das fraturas ósseas ocorreram danos aos órgãos internos e sangramento. Com isso, podemos concluir que a causa da morte foi um trauma contuso que causou danos aos órgãos internos e hemorragia". Então, a causa provisória da morte é trauma contuso que resultou em fraturas, danos internos e hemorragia. Quanto ao tipo de trauma, foi causada por objeto contundente. Mas reforço que estamos falando de 'trauma contuso', e não necessariamente de um objeto específico, pois eu não vi o objeto. Objeto contundente é qualquer coisa com superfície relativamente lisa e sólida. A maioria dos ferimentos são escoriações por atrito, ou seja, o corpo da vítima foi arrastado ou sofreu contato com superfícies duras".

  • O que falta esclarecer: Não se sabe se ela colidiu em uma pedra ou mesmo na superfície

A morte ocorreu muito tempo depois dos ferimentos?

"Talvez seja importante esclarecer que não encontramos nenhuma evidência de que a morte tenha ocorrido muito tempo depois dos ferimentos. Vou repetir: não encontramos sinais de que a vítima tenha morrido muito tempo depois dos ferimentos. É relativo, mas estimamos que não passou de 20 minutos após o trauma".

  • O que falta esclarecer: Não está claro qual queda, de fato, provocou a morte de Juliana. Isso porque turistas conseguiram filmá-la com movimentos cerca de três horas após ela ter caído da trilha, como mostram as imagens. No vídeo, Juliana aparece sentada na fenda de uma rocha e mexendo as mãos.

O que indica que a morte foi rápida?

"Posso explicar, por exemplo, que havia uma lesão na cabeça, mas ainda não havia hérnia cerebral, que geralmente leva de algumas horas a dias para acontecer. Isso indica que não houve tempo suficiente para isso ocorrer, o que reforça que a morte foi rápida. O mesmo vale para o tórax e abdômen."

Houve hemorragia significativa?

"A hemorragia foi significativa, e os órgãos, como o baço, não apresentavam sinais de retração, que indicariam sangramento lento. Então, podemos afirmar que a morte ocorreu em um intervalo muito curto após os ferimentos".

Quanto tempo mais ou menos?

"A morte ocorreu entre 12 e 24 horas, com base nos sinais de rigidez e coloração do corpo. Mas não podemos descartar interferências anteriores, como o corpo ter sido colocado em ambientes que retardam esses processos".

  • O que falta esclarecer: Questionado pelos repórteres presentes na coletiva sobre quando teria ocorrido esse intervalo de tempo — se antes do resgate ou após uma das quedas —, o legista respondeu: “Antes das 22h05”. No entanto, não fica claro a que dia ele se refere. Juliana caiu no Monte Rinjani na manhã de sábado, dia 21 (horário local), e o corpo foi resgatado quatro dias depois, na tarde da última quarta-feira. Em entrevista à BBC Indonésia, o médico legista afirmou que, pelos seus cálculos, Juliana Marins teria morrido entre 1h e 13h da quarta-feira, dia 25 de junho (no horário local). A estimativa, no entanto, diverge da informação divulgada pela Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Basarnas), que, um dia antes, na terça-feira à noite (horário local), a equipe de resgate encontrou a brasileira já sem vida. Quanto a divergência de informações, o médio legista contou à BBC que "há uma diferença de cerca de seis horas em relação ao horário mencionado por Basarnas".

Hipotermia poderia ser a causa da morte?

"Hipotermia é normalmente verificada por líquido nos olhos. Mas, como o corpo estava em estado avançado, não conseguimos realizar esse exame. Além disso, a quantidade de ferimentos e sangramentos nos permite descartar a hipotermia como causa".

Por que a causa da morte é provisória?

"Porque o protocolo da autópsia exige exames complementares, como toxicologia. Isso não quer dizer que suspeitamos de envenenamento ou uso de substâncias, mas é uma exigência para termos certeza além de qualquer dúvida razoável"."Há padrões definidos para isso. Em geral, os resultados saem em até duas semanas".

Com um trauma desses, quanto tempo uma pessoa pode sobreviver?

"Repito: as evidências evidenciam que a morte foi quase imediata. Houve sangramento extenso, fraturas múltiplas e lesões em quase todo o corpo, inclusive nos órgãos do tórax e abdômen".

Qual foi a parte mais grave?

"A parte mais grave foi a que afetou o sistema respiratório: lesões no tórax, principalmente na parte de trás, que danificaram os órgãos internos".

O trauma contuso foi provocado por queda ou impacto?

"Pelo padrão das lesões por escoriação, condiz com uma queda".

  • O que falta esclarecer: não se sabe ainda o local exato da queda — e não confirma se foi na primeira ou segunda.

Onde foram encontradas essas escoriações?

"Por todo o corpo, principalmente nas costas, braços e pernas. Havia lesões na cabeça também".

Foi a lesão na cabeça que causou a morte?

"A mais grave foi nas costas. Mas como os ferimentos ocorreram quase simultaneamente, é o conjunto das lesões que levou à morte. A região das costas foi a mais afetada".

  • O que falta esclarecer: O legista não especifica quantas quedas ou impactos o corpo pode ter sofrido. Informa que quando eles ocorreram, foram simultâneos.

Havia chance de a morte ter sido causada por falta de comida ou água?

"Não. A causa direta da morte foi, com certeza, a violência. Houve grande quantidade de sangue na cavidade torácica, o que não se explica por inanição".

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