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CPI do INSS: depoimento de principal investigado é suspenso após briga entre defesa e parlamentar

Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o "Careca do INSS", negou irregularidades e disse que sua prisão preventiva é injusta

Agência o Globo
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Publicado em 25 de setembro de 2025 às 12h03.

Última atualização em 25 de setembro de 2025 às 12h03.

O depoimento do empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o "Careca do INSS", à CPI que apura fraudes no instituto foi suspenso com menos de 15 minutos de duração, após bate-boca entre o advogado do réu, Kleber Lopes, e o relator da CPI, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL). O deputado Zé Trovão (PL-SC) precisou ser apartado por policiais legislativos, após discutir com o advogado e a sessão foi suspensa.

Advogado e relator trocam acusações

Careca chegou ao Senado respaldado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que o autoriza a ficar em silêncio. Com base nisto, ele afirmou que responderá às perguntas feitas pelos parlamentares, mas se manteria em silêncio para as perguntas feitas pelo relator do colegiado, o deputado Alfredo Gaspar (União-AL).

"Em depoimentos anteriores, o relator disse que eu era um ladrão, o que mostra que é tendencioso. Por isso, não o responderei", afirmou.

Ao tomar a fala, Gaspar subiu o tom e abriu chamando Careca de "ladrão".

"Estamos diante do maior ladrão dos aposentados e pensionistas desse país".

O advogado disse que se tratava de um desrepeito e retiraria seu cliente da CPI, caso este fosse o tom adotado. Zé Trovão interveio, disse para o defensor permanecer calado e foi em direção a ele, o que fez com que a presidência da CPI interrompesse a sessão por cinco minutos. Careca ameaçou deixar o Congresso, mas permaneceu no colegiado.

Tentativas de conciliação

O vice da CPMI, o deputado Duarte Junior (PSB-MA), tentou colocar panos quentes na discussão, garantindo que não haveria “baixaria”.

"O nosso objetivo aqui não é baixaria. O nosso objetivo aqui é que o Careca do INSS fale", disse ele ao lado do empresário, que já entrou na Justiça para impedir a imprensa de utilizar o apelido citado por alvos da investigação.

O relator, sem ser respondido, indagou o empresário sobre “quem era o padrinho político” que lhe abriu as portas da direção do INSS.

"Qual foi o cacique, qual foi o padrinho político que lhe colocou aqui para discutir o futuro da previdência brasileira", questionou, apontando para uma foto em que o Careca aparecia reunido com dirigentes do INSS.

"O senhor vem falar de honestidade e trabalho sério quando estava sentado aqui com membros de organização criminosa", disse Gaspar.

Para tentar convencer o lobista a responder às questões, Gaspar afirmou que ele hoje é um “arquivo vivo” e a CPMI “talvez seja a sua última proteção”.

"Hoje o senhor está arrogante e prepotente. O senhor hoje é um arquivo vivo que vale muito mais morto do que vivo. O senhor vai passar pelo sistema prisional e lá tem pessoas com pais e mães que foram roubados no INSS. Talvez aqui seja a única fronteira que você vai conseguir a sua proteção e da sua família", disse o parlamentar.

Careca se diz inocente

Careca disse ser inocente à CPI do INSS. Em sua fala inicial, Careca afirmou que a sua prisão preventiva é fundamentada "em mentiras". Preso no dia 12 de setembro, ele é apontado como um dos principais operadores das fraudes e desvios de recursos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

"Sempre acreditei que a verdade seria suficiente para afastar a mentira dessa investigação. Desde o início mantive uma defesa técnica, mantive meus endereços disponíveis e total disposição para colaborar. Sou o maior interessado em esclarecer os fatos. O indivíduo com o qual mantive relações comerciais, depois de ter furtado veículos da minha propriedade, espalhou uma série de inverdades. As premissas que fundamentaram a minha prisão são equivocadas. Sou um empreendedor nato e não tenho qualquer relação com governos, seja ele municipal, estadual ou federal", afirmou.

"Em caso de efetiva apresentação para depoimento o investigado deverá ter todos os seus direitos constitucionais resguardados, notadamente aqueles relativos ao princípio do 'nemo tenetur de detegere' (ninguém é obrigado a se acusar), garantindo-se o direito ao silêncio e à não auto incriminação", diz decisão assinada pelo ministro do Supremo André Mendonça, obtida pelo GLOBO.

Acusações contra o empresário

Os parlamentares devem questionar Antunes sobre sua "influência política" e "capacidade financeira e intimidatória", argumentos utilizados pela Polícia Federal para justificar a prisão dele no âmbito da Operação Sem Desconto. Apesar de nunca ter tido cargo no INSS, ele é apontado como um lobista que conseguia vantagens junto a servidores do órgão federal e atuava em nome de entidades investigadas, além da suspeita de lavar dinheiro por meio das dezenas de empresas que possui.

Um documento sigiloso da PF listou carros "apreendidos no âmbito das investigações" que estariam "relacionados" a Antunes. Entre eles há 11 veículos, sendo quatro Porsches e quatro BMWs; além de três motocicletas.

Outra planilha aponta 40 registros de entrada e saída do país, sobretudo em direção à Europa e Estados Unidos num período entre 2023 e 2024 , o que corresponde a 20 viagens internacionais. A informação foi revelada pelo portal Metrópoles e confirmada pelo GLOBO.

Investigações da PF

Para justificar a necessidade da prisão de Antunes, os investigadores afirmaram ter identificado que ele comprou uma casa nos Estados Unidos e viajaria para o exterior "em data próxima" à deflagração da Operação Sem Desconto. O movimento foi entendido pela PF como uma forma de ele se "evadir do país, sinalizando risco concreta de fuga".

Procurada, a defesa de Antunes disse que só iria se manifestar nos autos.

Conforme o inquérito, pessoas e empresas ligadas ao careca do INSS receberam um total de R$ 25,5 milhões de associações e intermediários envolvidos no suposto esquema — entre elas há uma transação suspeita de R$ 100 mil para um secretário municipal de uma cidade do interior do Maranhão. O empresário também teria remetido R$ 9,3 milhões para pessoas vinculadas a servidores do INSS entre 2023 e 2024.

Antunes também deve ser perguntado sobre uma empresa offshore com o seu nome que ele abriu nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal.

"A coincidência temporal com o esquema da “farra do INSS”, o uso de uma empresa sediada nas Ilhas Virgens Britânicas e as transações de alto valor reforçam a suspeita de que essas operações foram realizadas com o intuito de ocultar a origem ilícita dos recursos", concluiu a PF.

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