Agência de notícias
Publicado em 9 de outubro de 2025 às 11h52.
Com o voto dos parlamentares da base do governo Lula, a CPI do INSS rejeitou nesta quinta-feira um pedido para quebrar os sigilos fiscal e telemático do advogado Paulo Boudens, ex-chefe de gabinete do presidente do Senado Davi Alcolumbre (União-AP). O placar foi de 17 a 13.
Boudens consta como beneficiário de um repasse de R$ 3 milhões da empresa Arpar Participações. Segundo a Polícia Federal, a companhia foi utilizada como "conta de passagem" pelo empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, o "careca do INSS".
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS), coordenador da ala governista da comissão, defendeu a rejeição do requerimento, alegando que se trata de uma disputa política entre a oposição e o presidente do Senado.
"Querem trazer um debate com o presidente dessa Casa que não é objeto dessa investigação. Resolvam isso no plenário. Daqui a pouco vão trazer um requerimento para saber quem matou a Odete Roitman. O único suspeito que não foi suspeito é o presidente Jair Bolsonaro porque ele não pode sair de casa", ironizou Pimenta.
O autor do requerimento, deputado Carlos Jordy (PL-RJ), afirmou que a articulação do governo visa "blindar" Alcolumbre.
"Eles não estão querendo investigar desde o início. Estamos vendo esse grupo fazer narrativa e blindagem. É isso que vai acontecer se for rejeitado esse requerimento. Ele (Boudens) é um peixe médio e pertence a um peixe muito grande", declarou Jordy, lembrando que Alcolumbre decretou sigilo sobre as visitas do empresário Antônio Carlos Camilo Antunes à Casa Legislativa.
A informação sobre o pagamento ao ex-assessor veio à tona em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que detalha movimentações financeiras atípicas, conhecidas como Rifs, a partir de alertas de bancos e instituições.
Na época do repasse, entre setembro de 2023 e fevereiro de 2024, Boudens ainda era assessor de Alcolumbre. Desde outubro, ocupa cargo no Conselho Político do Senado.
Apontado como pivô do esquema de fraudes no INSS, o careca do INSS repassou cerca de R$ 50 milhões à Arpar. Em depoimento, o lobista afirmou que o dinheiro correspondia à compra de títulos de dívida da empresa.
Em 2021, Boudens também foi envolvido em suposto esquema de rachadinha no gabinete de Alcolumbre, onde parte do salário de seis assessoras era recolhido por pessoas de confiança do parlamentar. O advogado fechou acordo de não persecução penal com a Procuradoria-Geral da República, admitiu as irregularidades e se comprometeu a devolver cerca de R$ 2 milhões.
Além de analisar a quebra de sigilos, a CPI vai ouvir o presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), Milton Baptista de Souza, o Milton Cavalo. A associação é suspeita de envolvimento nas fraudes do INSS e movimentou cerca de R$ 1,2 bilhão em seis anos, segundo relatório do Coaf. Entre seus dirigentes está Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não é citado na investigação.