Brasil

Dilma diz que seus opositores subestimaram crise

"Subestimaram os efeitos da crise política como fator de instabilidade, de aprofundamento de qualquer crise", afirmou petista

Dilma: ex-presidente disse que o Brasil poderá ser vítima de "um golpe no golpe"

Dilma: ex-presidente disse que o Brasil poderá ser vítima de "um golpe no golpe"

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de dezembro de 2016 às 21h56.

São Paulo - De passagem por São Paulo para participar de ato com a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, a ex-presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira, 9, que os integrantes do governo de Michel Temer subestimaram as crises econômica e política e que, em razão desses dois fatores, o Brasil poderá ser vítima de "um golpe no golpe".

"Eles subestimaram a crise econômica, acreditaram no que estavam dizendo, e muitos sabiam que era mentira, de que a crise econômica era responsabilidade exclusivamente minha", disse a petista em discurso.

"E também subestimaram os efeitos da crise política como fator de instabilidade, de aprofundamento de qualquer crise, e isso fica claro nos momentos em que a crise política se transforma em crise institucional", acrescentou.

Dilma defendeu ainda que o governo não conseguirá operar um milagre na economia por meio de corte de gastos.

"Tem de aumentar receita, tributar fortunas e tributar dividendos. O Brasil e a Estônia são os únicos países do mundo que não tributam dividendos. Mas aí alguém pergunta: então por que não foi feito antes? Porque no Congresso não passa", afirmou Dilma, a uma plateia formada predominantemente por simpatizantes do PT.

A ex-presidente criticou o alto número de partidos no Brasil e disse que isso é reflexo do fundo partidário e do tempo de televisão nas campanhas eleitorais.

"Ninguém vai discordar de mim de que é muito difícil ter 33 programas ideológicos políticos consistentes no Brasil", afirmou Dilma.

Em seguida, ela disse que a negociação de cargos e de benessesno meio político produz "o mais negro fisiologismo". Percebendo a gafe, imediatamente pediu desculpas e afirmou que se trata "do mais branco" fisiologismo.

"Que me desculpem os homens brancos, mas são predominantemente homens brancos, ricos e velhos", disse.

A petista também atacou as medidas propostas pelo presidente Michel Temer e disse que o programa "A ponte para o futuro", apresentado pelo PMDB antes mesmo do processo de impeachment como sugestão para a recuperação da economia, é baseado na PEC do teto dos gastos, em uma reforma "ultraconservadora" da Previdência e na flexibilização das leis trabalhistas.

Além disso, a ex-presidente declarou que o objetivo fundamental "do golpe" foi impedir o processo de distribuição de renda iniciado no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, citando como exemplo a política de valorização do salário mínimo e o programa Bolsa Família.

Afirmou ainda que os integrantes do governo de Michel Temer não querem apenas "estancar a sangria" da Operação Lava Jato, mas também usá-la para "destruir lideranças que podem enfrentá-los".

Por último, Dilma disse que a única solução possível "é uma solução por baixo, pelo voto". "Por isso eu defendo eleição direta e uma reforma política", ressaltou.

O evento, que se chama "A luta política na América Latina hoje" e faz parte do seminário "Nossa América Nuestra", é aberto ao público e ocorre na Casa de Portugal, no bairro Liberdade.

Dilma e Cristina compõem uma mesa de debate e, à frente delas, uma faixa é exibida com os dizeres: "STF! Anule o golpe já!". Entre os presentes o presidente do PT, Rui Falcão, o ex-ministro Miguel Rossetto e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.

Acompanhe tudo sobre:Crise econômicaCrise políticaDilma RousseffImpeachmentMichel Temer

Mais de Brasil

Senado aprova fim de atenuante de idade para crimes de estupro

Maioria do STF vota para responsabilizar redes por conteúdo ilegal

Moraes formaliza pedido de extradição de Zambelli da Itália para cumprimento de pena