Agência de notícias
Publicado em 22 de setembro de 2025 às 06h55.
Dois meses após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar um tarifaço ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inicia nesta segunda-feira, 22, em Nova York, um roteiro de contrapontos a pautas defendidas pelo americano. A agenda inclui reuniões sobre a situação dos palestinos na Faixa de Gaza, um evento sobre defesa da democracia e, sobretudo, a participação na Assembleia-Geral da ONU, onde fará um discurso em defesa da soberania e cobrará compromissos climáticos.
No encontro da ONU, Lula poderá ficar frente a frente com Trump. Em circunstâncias diferentes das de anos anteriores, com as relações entre Brasil e EUA em seu pior momento, o brasileiro fará o tradicional discurso de abertura, seguido pelo americano.
Em meio às ameaças de novas retaliações ao Brasil, a fala de Lula deve destacar que o país respeita as leis internacionais que regem o multilateralismo, segundo interlocutores do governo. O discurso foi redigido com cuidado para evitar atritos diretos com os EUA, mas deve trazer mensagens à comunidade internacional e ao público interno.
A permanência do presidente brasileiro em Nova York coincide com possíveis novas sanções contra autoridades nacionais. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou que a resposta dos EUA à condenação de Jair Bolsonaro pelo STF por tentativa de golpe será conhecida nesta semana.
Para Trump, Bolsonaro, seu aliado, sofre uma “caça às bruxas” no Brasil. Washington condiciona a negociação para eliminar uma sobretaxa de 50% às exportações brasileiras ao fim da “perseguição” ao ex-presidente. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, já foi alvo de sanções, como bloqueio de operações financeiras nos EUA e cassação de vistos.
Apesar da crise, medidas de Trump ajudaram Lula politicamente. Pesquisa da Genial/Quaest mostra que, mesmo com 51% de reprovação ao governo, 64% consideram correto o posicionamento do Planalto em defesa da soberania diante da crise com os EUA, a mais grave em mais de 200 anos de relações.
A expectativa é que Lula mencione em seu discurso sanções unilaterais e ameaças econômicas e militares como formas de pressão política. O Brasil deve se posicionar em defesa do multilateralismo, contrapondo-se à Casa Branca.
Além de soberania e democracia, Lula dará ênfase às mudanças climáticas e à transição energética, reforçando o convite para a COP30, em novembro, em Belém (PA). Também falará sobre combate à fome, pobreza e reforma dos organismos multilaterais, como o Conselho de Segurança da ONU.
O presidente deve reforçar ainda a defesa da negociação de um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia e criticar o que chama de genocídio de palestinos por Israel. O Itamaraty condenou na semana passada a nova incursão terrestre israelense em Gaza.
Antes do discurso na ONU, Lula participará hoje de um debate sobre a criação de dois Estados, iniciativa patrocinada por França e Arábia Saudita, em contraposição a Trump, que apoia os ataques de Benjamin Netanyahu. Ontem, Canadá, Reino Unido e Austrália reconheceram o Estado da Palestina.
Lula também será um dos co-presidentes do evento “Em Defesa da Democracia: Combatendo os Extremismos”, na quarta-feira, último dia da viagem. O encontro reunirá líderes como Pedro Sánchez (Espanha), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia) e Luis Lacalle Pou (Uruguai).
Essa será a segunda edição do evento — a primeira ocorreu no Chile, em julho, quando Lula afirmou que a democracia perde espaço não para o socialismo, mas para a extrema direita.
1947: A diplomacia de Aranha
O chefe da delegação, Oswaldo Aranha, abriu a Assembleia defendendo a convivência entre raças e religiões e articulou o plano da ONU de partilha da Palestina, que levou à criação de Israel.
1982: Primeiro presidente
O general João Batista Figueiredo foi o primeiro presidente a discursar na ONU, tratando da crise da dívida externa e defendendo o livre comércio.
2003: Estreia de Lula
No primeiro mandato, Lula falou sobre combate à fome e buscou aproximar o Brasil da China e da Rússia, futuros parceiros nos Brics.
2011: A primeira mulher
Dilma Rousseff foi a primeira mulher a abrir a Assembleia, defendeu o multilateralismo e apoiou o ingresso da Palestina na ONU.
2019: Discurso de Bolsonaro
Jair Bolsonaro criticou países como França e Alemanha, atacou Cuba e Venezuela e acusou a ONU de respaldar o “trabalho escravo” do Mais Médicos.
2024: Críticas a conflitos
Em seu último discurso, Lula citou a guerra na Ucrânia, criticou Israel em Gaza e defendeu combate à fome, reforma global e mudança climática.